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- Isa, acho que vou vomitar – reclamei, sentindo a pele úmida de suor.

- Não vai, não. Vai ficar tudo bem. Respira. Só respira! Quer um chocolate pra acalmar?

- Não

-Que bom. Preciso deles só pra mim.

Minha amiga inseparável e companheira de todas as horas estava de mudança e em pânico. Depois do susto de pensar que a Isa havia se ferido gravemente naquela noite na mansão, Luisa finalmente colocara a cabeça no lugar e decidira manter o mergulho apenas como hobby, continuar na galeria e se tornar uma mulher casada. Do que Isa não gostou nada. A parte da mulher casada, quero dizer. Mas a rejeição ao pedido de casamento dela não foi total, de modo que, quando ela sugeriu que elas apenas morassem juntas, Luisa topou na mesma hora.

Isa estava assustada, apesar de mentir categoricamente, alegando estar calma e muito segura.

- Conseguimos um apartamento perto da sua casa. É uma gracinha – me contou a Isa.

- Isso é fantástico! – eu disse, enlaçando seu pescoço.

- Precisa de pouca reforma. Ah, Maih! – ela sacudiu a cabeça. – Tudo parece conspirar para eu ir morar com a Luisa. Ela está eufórica. E o melhor de tudo é que dá para ir a pé até sua casa.

- Isso sim é vantagem. Eu nunca poderia ficar longe de você.

- Não sei por que não paro de comer. Devo estar com verme ou algo assim. Já engordei dois quilos essa semana. Dois quilos! Tem um rinoceronte morando no meu estômago.

- Ou pode ser medo de começar uma vida nova com a Luisa... – sugeri.

- Não! Imagina! Medo do quê? Da gente se matar em poucos meses, como aconteceu com o meu pai e a minha mãe? – ela mordeu outro bombom avidamente. Nem terminou de mastigar e continuou: - Ou que ela se ressinta por ter desistido da profissão de guia subaquática e comece a me odiar? Talvez ela me abandone depois de alguns meses e decida morar em algum lugar paradisíaco, lotado de mulheres lindas e seminuas. – ela comentou com um ar sonhador.

- Não acho que isso seria possível – objetei – A Luisa sempre preferiu mulheres cheias de curvas e inteligente.

- É o que ela diz.

- É o que ela quer! – corrigi. – Você não percebe que ela abriu mão de um sonho, na boa, sem, pestanejar, pra ficar com você? A Luisa te ama pra caramba! Aceita logo isso.

Ela sorriu enormemente.

- Posso aceitar... Posso muito bem aceitar isso – e apertou minha mão animada, então examinou minhas unhas curtas. – Ficou bem em você. Azul definitivamente sua cor.

- Você acha mesmo? – examinei minha mão. Até que não ficou tão mal. – Decidi deixar o preto por uns tempos. Eu usei por tantos anos, né? – expliquei, um pouco sem jeito.

Maraisa me abraçou carinhosamente antes de dizer:

- Tempo demais. Tá na hora de deixar as cores entrarem na sua vida.

Uma batida na porta se seguiu, e logo a cabeça da Marilia surgiu entre o batente e a porta.

- Marilia! Você não podia esperar lá embaixo, como eu pedi? – reclamou Isa, se colocando de pé e afofando meu vestido com vigor.

- Desculpa, mas não dá. Estou longe dela há mais tempo do que posso suportar – ela sorriu, descarada – Está todo mundo esperando. Pronta? – ela perguntou se aproximando.

- Não, mas acho que preciso fazer isso de uma vez por todas.

Ela estendeu a mão para que eu pegasse, e foi assim, de mãos dadas com minha quase ex-mulher e minha melhor amiga do outro lado, que desci as escadas da mansão para enfrentar o grupo de convidados que nos aguardavam.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora