Me perdoa Maiara

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O sequestro nada mais era que me levar para um lugar tranquilo. Ela estava muito falante naquele inicio de tarde. Comentou sobre o tempo, sobre o trânsito. Avisou que tinha ligado para a mãe confirmando o jantar daquela noite. Nem parecia a mesma Marilia que eu conhecera meses antes. Entretanto, de certa forma, parecia. Era como se aquela Marilia estivesse ali o tempo todo, esperando alguém liberta-la da garrafa. E esse alguém fora eu.

Fiquei surpresa quando paramos no estacionamento do parque municipal, bem cuidado e arborizado. Uma grande lagoa repleta de vida, por onde muitas pessoas circulavam sem pressa, deixava o local com um clima lírico, como os finais de tarde de séculos passados.

- Não imaginei que você ia me trazer aqui. Adoro esse lugar! – exclamei surpresa, enquanto Marilia estendia uma grande toalha no gramado.

- Eu disse que íamos fazer algo diferente hoje –  nos sentamos, depois ela abriu uma grande cesta de piquenique e retirou uma infinidade de guloseimas: biscoitos, frutas brilhantes e suculentas, croissants de chocolate com BANANAS! E uma garrafa de vinho com duas taças.

- Eu queria... – ela sorriu – Eu quero passar um tempo com você, conhecer tudo sobre você.

- É pra isso que serve o vinho? Pra me fazer falar? – brinquei.

Ela gargalhou. Eu sorri em resposta. Marilia nunca fora tão aberta, tão livre, tão... Acessível...

- Não – ela me serviu uma taça generosa. – Serve pra criar um clima mais íntimo, pra você confiar em mim.

- Eu confio em você

Ela fez uma careta divertida.

- Mas não o suficiente para me contar o que você fez na adolescência.... – zombou.

- Ah, isso já faz tempo. E na verdade é você quem nunca me conta nada. É um sacrifício arrancar alguma coisa de você – reclamei.

- O que você quer saber? – ela perguntou franzindo a testa, como se fosse o mais completo absurdo eu querer saber mais sobre ela.

- O que você quiser me contar. Qualquer coisa – dei de ombros.

Ela deliberou por um momento antes de começar.

- Você já conhece a história toda. Fui uma aluna exemplar por onde passei. Sempre estive ligada em esportes. Até pensei em fazer educação física, mas descobrir que a remuneração não era lá essas coisas, então optei por uma carreira que tivesse mais mercado. Na época, comércio exterior estava em alta, e não tinha muitas mulheres profissionais na área. Ralei muito para me tornar a melhor aluna da turma.

Assenti. Aquilo era tão a cara dela...

- Nunca me meti em problemas  sérios – ela continuou – Só depois que conheci o Paulo me tornei um pouco irresponsável, mas ainda assim não fui muito longe. Foi com o Paulo que tomei meu primeiro porre, aos dezenove anos. Acabei passando tão mal que precisei ser levada para o pronto-socorro. Depois jurei que nunca mais ia beber na vida – ela tomou um gole de vinho.

Eu ri, mas então pensei em algo que havia muito me incomodado e de que ela propositalmente evitava falar.

- Você nunca fala sobre nenhuma mulher.

- Por que não tem o que falar.

Estreitei os olhos.

- Pensei que você quisesse que a gente se conhecesse mais a fundo.

Ela suspirou pesadamente.

- Maiara quando me assumi lésbica, só tive um relacionamento, que durou alguns anos, mas que acabou há muito tempo.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora