CIÚMES ?

427 57 14
                                    

Marilia não estava em casa quando cheguei do supermercado. Tomei um banho demorado e escolhi um vestido de malha, simples, mas que deixava minhas pernas em evidência. Talvez ela não prestasse muita atenção no que eu diria se tivesse algo melhor para olhar.

Pedi comida italiana (esvaziando minha carteira) e arrumei a mesa com cuidado, posicionando uma vela no centro para tentar deixar o ambiente mais acolhedor. Coloquei um dos cds de blues bem baixinho para me acalmar enquanto esperava. Comecei a ficar impaciente, tamborilando os dedos no tampo da mesa de madeira escura enquanto via o relógio correr e nada da Marilia aparecer. O ponteiro marcou uma da manhã e eu já estava largada no sofá, zapeando os canais á procura de algo interessante, quando ela finalmente entrou em casa, desalinhada, caindo de bêbada e fedendo a perfume barato.

- Ei, você esta aqui! - ela disse apontando para mim.

- Você está bêbada?

Ela franziu a testa, os olhos opacos.

- E você esta levando muito a sério essa coisa de esposa! - e esbarrou na cadeira da mesa de jantar.

Corri mortificada.

- O que é tudo isso? - ela perguntou apontando para a mesa, se inclinando para focar o olhar em qualquer coisa por mais um segundo. - Deixa pra lá.

- Você cozinhou? - ela perguntou erguendo um prato.

- Não, pedi comida. Se estiver com fome fique á vontade.

-Ah, nossa, tô morrendo de fome. Você já comeu?

- Não tinha comida no bordel onde você estava? - cruzei os braços sobre o peito.

Ela franziu o cenho.

- Por que você tá tão irritadinha?

- Irritadinha? - havia uma porção de palavrões querendo irromper de meus lábios, mas me obriguei a respirar fundo e detê-los, ou ia acabar dizendo coisas de que certamente me arrependeria depois - Boa noite, Marilia. - marchei para o meu quarto e bati a porta com força.

- Maiara! - ela chamou, batendo na porta - O que foi que eu fiz?

Não respondi. Coloquei o travesseiro sobre a cabeça e grunhi, furiosa. Eu havia gastado toda minha grana naquele jantar estupido pra nada. Mas o que mais me incomodava era o perfume doce e vulgar que exalava da Marilia, mesmo a distância. Ela estivera com alguém e isso me deixou deprimida, porque eu queria que a garota que provavelmente esteve pendurada em seu pescoço fosse eu.

Acabei não dormindo nada naquela noite. Então, quando Luisa me ligou logo de manhã pedindo que eu começasse a trabalhar aquele domingo, não precisei soltar os cachorros por ela ter me ligado de madrugada.

A porta do quarto em frente estava fechada quando passei a caminho do banheiro. Tomei um banho rápido e vesti roupas confortáveis. Dei de cara com a Marilia quando saí do banheiro. Ela vestia uma camiseta longa que cobria sua roupa intima. O rosto parecia cansado.

- Me desculpa - começou - Eu não sabia que você tinha preparado o jantar. Eu precisei sair e você não tinha voltado ainda e...

- Não era nada demais. Eu encomendei a comida, não deu trabalho nenhum, portanto não precisa fazer drama. - Entrei no quarto para terminar de me arrumar, mas ela me seguiu.

- Tinha algum motivo especial? Eu vi a mesa e... bom parecia ser importante.

- Não era. Não precisa se justificar. Nosso casamento é de fachada. Como você bem lembrou, eu não sou sua esposa de verdade, então relaxa. - eu revirava minha cômoda em busca do pequeno brinco que sabia que estava ali, em algum lugar.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora