Tenha cuidado

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Minha cabeça estava a milhão enquanto Marilia dirigia de volta para casa. Ela me desejava. Tudo bem, não era amor, eu sabia a diferença entre uma coisa e outra. Talvez não fosse nem mesmo paixão, mas já era um indicio de que eu a afetava, assim como ela me deixava fora do ar. E, para minha alegria, Marilia havia deixado bem clara a equação: bebida+ eu = beijos lascivos, me dando assim uma pista de como agir. Eu só precisaria encontrar a hora certa. O que não significava que eu ficaria esperando, passiva. Não mesmo! Eu tiraria vantagem do poder recém-descoberto da maneira que pudesse, até que ela tivesse na minha cama. Ou eu na dela. Não me importava nem que fosse numa cama de motel vagabundo, desde que estivéssemos nós duas sobre ela.

Liguei o rádio. Musica sempre me ajudava a pensar, e até aquele instante não havia me ocorrido nenhuma estratégia para seduzi-la.

- Se quiser, tem alguns cds no porta-luvas – comentou Marilia quando notou que eu zapeava de uma estação a outra.

- Alguma coisa boa?

Ela deu de ombros, olhando para frente.

- Não conheço muito seu gosto musical, mas posso garantir que você não vai encontrar nenhum rap aí dentro. – e sorriu um pouco.

Abri o porta-luvas e encontrei uma dezena de cds. A maioria de blues, o que de certa forma era perfeito, já que é um estilo denso, excitante e extremamente sensual. Coloquei um disco do the yardbirds no aparelho e a voz de Eric Clapton preencheu o carro. Deixei o volume baixinho, para que Lauren entrasse no clima sem perceber. Ela relaxou um pouco, os dedos tamborilando ritmamente no volante vez ou outra.

Eu ri.

- Que foi? – ela perguntou, me fitando.

- Nada. Só acho engraçada a forma como você se mostra ao mundo. Tão forte e intransigente, mas na verdade você é um doce.

- Sou? – suas sobrancelhas se arquearam.

- É, de um jeito bom. Não quis dizer que você é uma florzinha frágil, fique tranquila – ri ela também – Você cuida da sua família, gosta de boa musica, ajuda garotas a recuperarem a herança... Isso te faz uma mulher poderosa e doce.

Ela riu outra vez.

- Não sei sobre essa coisa de ser doce e poderosa, mas tenho a impressão que você acabou de me elogiar. – zombou.

- Ainda não foi um elogio – sorri – Sabe Marilia, você e eu não somos tão diferentes. Você usa essa fachada fria para manter as pessoas distantes. Eu uso o sarcasmo para afastar as pessoas.

- É mesmo? – ela sorriu brincalhona – É por isso, então, que você é tão irritante?

- Sou irritante para me proteger quando me sinto ameaçada ou pressionada. Você não notou ainda?

Ela me avaliou por um instante.

- Não. Você sempre é sarcástica comigo. Não imagino como deve ser quando seu sarcasmo está desligado. -  brincou

Eu ri.

- Um pouco menos turbulenta, eu acho.

Houve um momento de silencio, então ela me encarou enquanto esperava o farol abrir.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora