Família Mendonça

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Marilia havia mudado minhas coisas definitivamente para o seu quarto. Nossos pertences se misturavam amontoados de maneira organizada, coisa dela, claro; eu sabia que aquela organização toda não duraria muito tempo. Entretanto, levei certo tempo para perceber as mudanças. Marilia estava levando muito a sério seu plano de “ recuperar o tempo perdido”, o que não me surpreendeu, e obviamente não me opus.

Pouco antes de sairmos para o jantar com a família Mendonça, resolvi que eu também precisava apresentar Marilia a minha avó. Da forma que podia. Por  isso, entreguei a ela a carta que recebi no dia de nosso casamento e que ela se negara a ler.

- Tem certeza? – ela perguntou, e o brilho ansioso em seus olhos me fez rir.

- Está com medo, Marilia?

Ela correu a mão pelos cabelos e exalou pesadamente.

- Acho que sim – admitiu.

Então se sentou no sofá, enquanto me acomodei de frente para ela, sentada sobre a pequena mesa de centro. Minhas mãos se contorciam nervosamente sobre os joelhos.

- Quer que eu leia em voz alta? – ela perguntou, abrindo o envelope.

- Não sei – dei de ombros. – Faz tempo que não sonho com ela, ando me sentindo meio abandonada, mas... sei lá... Se quiser ler só pra você, tudo bem.

- Acho que não tem problema você ouvir. – ela deslizou a mão pelo rosto, endireitou os ombros e começou:

Nora,

Acabo de entregar a você meu bem mais precioso. A Maiara é uma garota muito especial, embora eu desconfie que você já sabe disso. Por isso EXIJO nada menos que o impossível de sua  parte para fazê-la feliz.

Marilia sorriu.

- Exijo está bem grande.

Sorri também.

Minha neta é uma menina muito doce, embora tente esconder isso, e apesar de dizer o contrário, ela precisa de certos cuidados que uma mulher apaixonada logo notará. No entanto, gostaria de alertá-la sobre algumas coisas especificas.

Oh-oh!

Detetize a casa de vocês a cada seis meses, pois a Maiara tem pavor de insetos. Especialmente lagartas e borboletas, mas todos os  outros também a incomodam.

- Ei! – me levantei indignada – Isso é mentira!

Ela tende a inventar histórias e dar voltas, mas a verdade é que chuva a deixa apavorada. E tempestade a deixa em pânico.

- Traidora! Me dá isso aqui – tentei tomar o papel das mãos da Marilia, que se desvencilhou com agilidade e se colocou de pé, ainda lendo.

Sei que você descobrirá seu próprio jeito para acalma-la, então fique atenta. É importante que saiba que ela tem alergia a pelo de gato. Foi um transtorno quando tive que colocar para adoção o gatinho de estimação dela.

Parei de lutar com a Marilia.

- A vovó fez o quê?

Ela vivia em crise alérgica, e partiu meu coração ter que levar o gatinho para a família de um amigos que viviam no interior do estado, mas eu precisava cuidar da saúde de minha neta. Não conte isso a ela, por fa...

- Ops! – Marilia mordeu o lábio inferior- Desculpa dona Mercedes.

- Não acredito que ela se livrou da Alasca – murmurei – Eu pensei que ele estivesse fugido!

- Sua avó estava pensando no melhor para você – rebateu Marilia, dobrando a carta – Acho melhor eu ler o resto sozinha.

- Nem pensar! Termina com a sessão humilhação de uma vez por todas.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora