Caindo na real

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   Eu havia imaginando aquilo? Havia imaginando que minha avó me acariciava daquele jeito só dela? Claro que sim. Que outra explicação haveria?

    Precisei de alguns minutos para me recompor. Ainda confusa, saí do banheiro e encontrei Marilia me esperando com o rosto transbordando preocupação.

     - Quis dar privacidade para você, por isso não entrei. - Ela falou urgente, o rosto ansioso. - O que está acontecendo? O que te fez dizer aquelas coisas para a Sharon? Por que você está com essa cara?

    - Eu... Não sei bem. - Eu tinha que contar pra ela sobre a manipulação do resultado por parte do Saimon e a história do testamento. Aquilo dizia a respeito da vida dela também, era a coisa certa a fazer, mas ali não era o lugar apropriado. Se é que existe lugar apropriado pra isso, o que duvidava. - Me irritou a forma que o Saimon agiu, até o jeito da vovó em cruzar os braços ele imitou, você viu aquilo? Que cara de pau.

    - Vi e também achei inadequado. - Seu rosto relaxou um pouco. - se você quiser, podemos ir para casa. Já pediram a sobremesa e disseram tudo que era necessário. Acredito que não tenha mas nada relevante.

     Engoli em seco até ver a pontada de decepção em seus olhos castanhos lindos.

    - Marilia, eu sinto muito, mesmo! Muito mais do que você pode imaginar.

    - Não se preocupa, não era para ser dessa vez. - Ela deu de ombros.

    Mas era! Eu sabia que era. Vovó teria escolhido a Marilia.

     - Outras oportunidades vão surgir. - Continuou ela. - E o Jeferson é um excelente profissional, foi uma boa escolha.

    - Você não se importa mesmo de irmos para a casa?

     - Nem um pouco. - Ela respondeu colocando a mão em minhas costas com gentileza, me fazendo estremecer ligeiramente enquanto me guiava até a mesa para nós despedimos.

    Marilia inventou uma dor de cabeça para Sharon e lamentou ter que deixá-los. Me despedi cordialmente de todos, menos de Saimon. Marilia também não foi muito efusiva ao se despedir dele, mas isso não era surpresa.

    Entramos no carro, ela dirigiu com cuidado pelas ruas quase vazias.

    - Andei pensando e acho que foi melhor eu não ter sido promovida. Quer dizer, quem ia te ajudar nas planilhas? - Comentou num tom brincalhão.

    Eu ri um pouco, satisfeita por ela não se deixar abater.

    - Isso é verdade. Ninguém ia me ajudar, já que não gostam de mim naquele lugar.

     - Claro que gostam, você assusta as pessoas com esse seu jeito decidido e espontâneo, mas é só isso. O Paulo te acha uma comédia.

     - Claro que acha, ele me viu sair no braço com a copiadora.

    Marilia riu.

    - Ele me contou, disse que devia ter filmado pra colocar no YouTube. Mas sabe o que eu acho?

    - O quê?

    - Que você não deu abertura pra ninguém se aproximar. Quando você abaixar a guarda, vai ver que tem muita gente louca por você e você nem desconfia.

    Era incrível como a Marilia encarava tudo com tranquilidade. Fiquei orgulhosa demais dela. No entanto, ela não ter conseguido sua tão sonhada promoção implicava muitas outras coisas. Eu não queria perguntar, por que tinha medo do que poderia ouvir. Mas essa era uma pergunta inevitável. Se eu não tocasse no assunto, ela o faria. Mais cedo ou mais tarde.

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