Festa da empresa

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A ausência da Marilia, uma presença quase tangível, foi algo que não pude ignorar e que me deixara mais que alerta na noite anterior. Eu estava exausta por culpa da noite insone e me arrastava para a galeria quando finalmente nos encontramos na porta do elevador. Ela vestia as mesmas roupas do dia anterior, mas agora estavam amarrotadas, e os cabelos compridos estavam bagunçados em um coque mal feito, o rosto sombrio e cansado.

- Onde você estava? – inquiri, me plantando  á sua frente. – Você não voltou para casa.

- Dormi na casa do Paulo – ela resmungou sem levantar os olhos, seguindo para o apartamento.

- Você precisa me ouvir – pedi indo atrás dela – Não é o que você está pensando. – tudo bem, não era a melhor defesa, mas era a verdade.

Seu rosto não demonstrou nenhuma emoção, o que só comprovou que minha teoria de dizer a verdade estava mais que certa. Isso sempre estragava tudo. Entretanto, parecia que eu tinha perdido a habilidade de mentir para Marilia. Que droga!

- Conversamos depois. Eu estou cansada e você já deve estar atrasada –ela disse, me ignorando e entrando em casa.

- Mas você esta imaginando uma coisa que não aconteceu. Eu e a Demi nos conhecemos ontem. Ela é advogada, amiga da Mani. Está tentando me ajudar, e o que você viu não foi nada além de...

- Já disse que conversamos depois – ela se dirigiu para o quarto e batendo a porta com força.

Eu queria insistir, bater na porta até que ela abrisse e me ouvisse, mas ela tinha razão. Eu estava mesmo atrasada. Voei para a galeria e felizmente a Luísa não me causou problemas pelo atraso de quinze minutos. Assim que ela foi embora, liguei para Isa para contar o que havia acontecido no jantar desastroso com a advogada e suas consequências.

- Isso é ótimo, Maih.

- Maraisa, você ouviu bem o que eu disse? A Marilia acha que estou de rolo com a Karen!

- Sim, eu ouvi. E você disse que ela estava puta da vida com você

- Muito puta.

- E você não sabe o que isso quer dizer, Maih? Peraí que tô com o Google aberto aqui – ouvi o tamborilar de dedos no teclado – Aqui, achei. Ci-ú-me. Definição: emulação, inveja, zelo de amor. Pesar, despeito por ver alguém possuir um bem que se deseja. Receio de que a pessoa amada se apegue a outrem – ela suspirou – Essa definição tá boa ou quer que eu procure outra?

Oh!

- Você acha que... que ela...

- Tenho certeza. Dá um tempinho para ela digerir o que viu e depois ataca com tudo. Não deixa a Marilia parar para pensar. Ai, que droga! Preciso ir, Maih. Dia de vistoria da vigilância sanitária na clínica. Num sábado! Dá para acreditar nisso?

Segui o conselho da minha amiga e tirei meu time de campo. Eu havia passado por algo parecido quando Marilia se encontrara com Camila, e sabia que o tempo faria com que ela parasse e me ouvisse, e tudo se resolveria. Não pude evitar sentir certo prazer ao ouvir a Isa dizer que o que ela sentia era ciúme.

Tentei matar o tempo lendo algumas revistas velhas, mas não conseguia me concentrar em nada, até ver uma dezena de fotos de gente rica em trajes de gala.

Tive que ligar para a Isa outra vez pedindo ajuda, já que, devido aos últimos acontecimentos, havia me esquecido completamente da festa anual da empresa.

- Não tenho nada para vestir na festa de hoje á noite! – reclamei quando ela atendeu – Tem alguma ideia? Alguma ideia barata?

- Não tenho nada chique nesse nível para te emprestar. Já pensou ligar para Mazé contrabandear um dos seus vestidos de festa?

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora