Festa da empresa II

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Para minha frustração e de Marilia, aparentemente nossa saída á francesa naufragou. Sheron estava no palco discursando e, quando me viu atravessando o salão, apontou para mim, dizendo ao microfone quem eu era. Um holofote quase me cegou. Marilia enrijeceu ao meu lado. Não tivemos alternativa a não ser voltar para a nossa mesa e sorrir.

Marilia entrelaçou os dedos aos meus e tive que me contorcer para aplaudir Sheron quando ela terminou o discurso, recheadas de histórias divertidas  partilhadas, por vovó e ela.

Peguei minha taça de vinho e tomei um gole; então notei a Marilia observando nossas mãos entrelaçadas.

- Que foi? – perguntei.

Ela levantou os olhos e me encarou por um tempo interminável. Eles brilhavam tanto que era difícil me desligar do caleidoscópio que as luzes produziam em suas íris.

- Eu estava pensando se isso é mesmo real – e pressionou levemente meus dedos emaranhados aos seus.

- Espero que seja – murmurei.

Varias emoções cruzaram seu rosto, uma explosão intensa de cores e sentimentos. Ela me estudou por um longo tempo antes de se inclinar e tocar levemente meu nariz com seus lábios. Uma corrente elétrica percorreu meu corpo. Era como se o restante do mundo tivesse se tornado apenas luzes e cores distantes. Eu só via Marilia, sentia a Marilia, desejava-a.

- Aonde você vai? – perguntei assim que ela se levantou.

- Volto em três minutos – ela sorriu, mas parecia haver ansiedade em seus olhos.

Esperei, observando o salão, os rostos conhecidos, a orquestra belamente acomodada na lateral do salão imponente. Vovó estaria rindo se estivesse ali. E eu tinha que admitir que minha avó sabia das coisas. Minha aproximação com a Marilia acontecera por ter ouvido seus conselhos. Vó Mercedes era fodástica!

Uma mão quente e macia tocou meu ombro.

- Você voltou! – exclamei extasiada quando vi Marilia.

Ela sorriu surpresa.

- Pra onde eu iria?

Fugir, como sempre?

- Não sei – dei de ombros – Só achei que...  Esquece.

- Dança comigo? – ela perguntou, esticando a mão para que eu pegasse.

Aceitei imediatamente, e ela me guiou para a grande pista de dança.

- Pensei que fazer você dançar fosse exigir demais – comentei me lembrando de sua cara apavorada na danceteria quando tentei tira-la para dançar.

- Depende muito do tipo de dança – ela enlaçou meu pescoço, colando-me a ela.

Poucos casais se arriscavam na pista, mas não me importei. Eu não fazia ideia de que musica que estava tocando. Meu coração batia tão alto e meus pensamentos estavam tão agitados que podia estar rolando o maior funk e eu nem notaria, continuaria a balançar suavemente com Marilia. Eu a segurava com delicadeza, minhas mãos firme em sua cintura, o rosto tocando o seu, deslizando o nariz em sua bochecha, inspirei seus cabelos profundamente. Á  apertei mais ainda ao meu corpo. Nossos olhos se encontraram, e um entendimento  estranho e ao mesmo tempo tão natural ocorreu naquele instante. Ela não disse nada, eu não disse nada, mas ambas sabíamos que chegara a hora de partir.

Voltamos para a mesa apenas para apanhar nossas bolsas. Nós nos despedimos de alguns conhecidos e deixamos o grande salão para adentrar a luxuosa recepção que levava á saída do hotel. Em momento algum a Marilia soltou minha mão ou desviou os olhos. No entanto, em vez de seguirmos em frente, ela me guiou em direção ao balcão da recepção.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora