Hospital

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A partir daí, tudo se tornou um borrão. O resgate estava ali, assim como a equipe de segurança e a policia. Eu não prestei muita atenção em nada. Marilia era tudo em que eu podia pensar. Os socorristas fizeram os primeiros  procedimentos em seu ombro ali mesmo, na enorme sala de estar da mansão, tentando deter o sangramento. E, em todo esse tempo, era a Marilia quem me confortava, dizendo:

- Vai ficar tudo bem. Estou bem. Só preciso de um curativo.

Eu queria ser forte, queria poder lhe dar a mesma segurança que ela me dava, mas, caramba, ela sangrava á beça e eu não conseguia parar de chorar.

Rapidamente a levaram para a ambulância. Eu a acompanhei, segurando sua mão o tempo todo, não que ela precisasse disso. Era eu que precisava. Não sei quanto tempo levamos para chegar ao hospital. Para mim pareceu uma eternidade. Marilia tentava sorrir vez ou outra, deitada na maca da ambulância, com a intenção de me acalmar, provavelmente. Eu não era capaz de sorrir.

Fomos todos para o pronto-socorro. Magda havia voltado a si, mas estava histérica, Sheron precisava ser examinada, Isa decididamente precisava de um calmante, e Marilia ainda sangrava muito. Não faço ideia de como a Luisa soube e conseguiu chegar ao hospital antes que o nosso pequeno grupo, mas, assim que conseguimos descer das ambulâncias, e lá estava ela preocupada e de braços abertos para receber minha amiga, que não falava coisa com coisa. Simon também precisou de atendimento, embora áquela altura eu não me importasse.

Marilia foi levada imediatamente para ser examinada, mas não me permitiram acompanha-la. Fiquei no corredor, com as roupas e os braços sujos de sangue, e fui dominada por uma crise de histeria ao imaginar que a Marilia seria arrancada de mim, como todos que eu amava na vida. Pouco depois, uma enfermeira me comunicou que ela estava sendo levada para a sala de cirurgia para que extraíssem a bala e que ficaria tudo bem. Não acreditei nela nem por um momento.

Para fazer o tempo passar mais depressa, dividir-me entre Isa e Sheron, que felizmente não havia se machucado gravemente na queda.

- Como está se sentindo? – perguntei a ela assim que seu marido deixou o quarto.

- Com um pouco de dor nas costas, mas nada sério, já não tenho mais vinte anos, sabe? Ser  jogada daquela maneira pode ser bem ruim para uma mulher da minha idade – ela sorriu, se remexendo na cama.

- Sheron, você não sabe como estou envergonhada – abaixei os olhos para o lençol azul que cobria seu corpo – Eu pensei om pior de você. O Simon me fez acreditar que era tudo culpa sua. O testamento, a chantagem... Eu odiei você. Me perdoa – e estiquei o braço para segurar sua mão macia. Ela não recuou.

- Não há nada que perdoar. Você foi tão vitima quanto o resto de nós. E, na verdade, acho que sou eu quem deve pedir desculpas. Eu não fiz nada para te ajudar, Maiara. E me arrependo muito disso. Eu suspeitei do Simon logo após a morte de Mercedes, quando soube do testamento. Tivemos uma discussão terrível e a partir disso, da falta de argumentos plausíveis da parte do Simon, comecei a desconfiar que tinha algo errado. Eu devia ter procurado você e falado a respeito. Mas eu estava tentando reunir provas contra ele para então tentar destitui-lo do papel de curador da herança. Não fui rápida o bastante e permiti que você corresse perigo. – ela se sentou mais ereta e gemeu baixinho. Parecia mais dolorida do que demonstrava – Mas agora posso te ajudar. O Simon vai ser preso. Assim que eu for liberada, vou a delegacia para formalizar a queixa. Você e a Marilia devem fazer o mesmo.

Ela me explicou tudo que ocorrera depois que a Marilia fora atendida na mansão e eu saíra do ar. Em poucos minutos, a policia estava na sala de estar colhendo depoimentos e colocando Simon, semiconsciente, numa ambulância. Ele ficaria no hospital a noite toda em observação, com dois policiais do lado de fora guardando a porta, e de lá seguiria direto para uma cela especial na delegacia, já que tinha formação acadêmica e conhecia bem seus direitos, sob a acusação de tentativa de homicídio. Todos seriam intimados a depor. Eu não poderia estar mais feliz.

Bom, poderia, se a Marilia não estivesse naquela maldita sala de cirurgia.

- Tudo bem – assenti – Sem problemas. Eu faço o que for preciso pra ver aquele filho da puta preso pelo resto da vida. – enfiei a mão no bolso da calça e entreguei os papeis a ela. – Será que você pode me ajudar com isso? Quando você estiver melhor.

Ela estendeu a mão, pegou o verdadeiro testamento de vovó e abriu um sorriso.

- Claro querida. Obrigada por confiar em mim. – ela examinou o documento com calma e disse o que eu já sabia. Eu, e apenas eu e os três fiéis empregados da mansão, claro isso não havia mudado, era a herdeira de tudo que vovó tinha, sem cláusulas ou tutores. – Esse testamento invalida qualquer outro com data anterior. Amanhã mesmo vou apresenta-lo ao juiz responsável pelo caso. Provavelmente em dois ou três dias vai estar tudo resolvido.

- Ainda bem. Fico feliz que ninguém mais vai roubar a fortuna da vovó.

- A sua fortuna – ela corrigiu – Maiara, sobre o seu casamento...

Mordi o lábio corando um pouco.

- Foi armação no começo – admiti- Mas depois, quando a Marilia e eu nos conhecemos melhor, a gente acabou se apaixonando de verdade. O Simon percebeu. E se aproveitou disso. Ele ameaçou demitir a Marilia se eu não pedisse o divórcio. A Marilia tem responsabilidade com a família, Sheron. Ela tem um irmão que está lutando para voltar a andar. Eu não podia permitir que o Simon destruísse uma família inteira.

Ela assentiu.

- A Marilia estava certa, afinal.

- A Marilia? – indaguei surpresa.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora