Capítulo 2 - Flame

373 33 40
                                    

Alfonso agora fitava o teto de um quarto, deitado em uma cama qualquer, com uma mulher ao lado que não tinha a menor ideia do nome e sobrenome. E para ser sincero, não se importava com isso.

O som da respiração dela agora o incomodava, e por isso, adiantou sua partida. Se vestiu rapidamente e de forma silenciosa, evitando ser pego naquela situação desconfortável.

Era um homem solitário, e estava mais do que acostumado a viver daquela maneira. Esquentava a cama de muitas mulheres, mas se mantinha longe do coração de todas elas.

Ao menos era o que ele acreditava.

Mas existiam muitos motivos para isso. Era um homem cheio de traumas e dores, cujo passado não permitia que tivesse esperanças para um futuro muito melhor. Não era só seu corpo que tinha marcas, sua alma estava completamente ferida.

— Achei que não voltaria para casa hoje — Alfonso suspirou ao ver sua mãe sentada próxima a janela, o cigarro aceso entre seus dedos.

Alfonso: O que faz aqui? — Jogou seu casaco sobre a poltrona, puxando a manga da camisa que usava até a altura dos cotovelos.

Diana: Não posso visitar meu filho? — Tragou o cigarro, soltando uma nuvem de fumaça, o que o fez pigarrear e virar seu rosto.

Alfonso: A senhora tem outros três para fazer isso — Suspirou, pouco paciente — O que quer aqui a essa hora? — Ela apagou o cigarro, deixando-o sobre o cinzeiro — Suas visitas nunca são à toa.

Diana: Quero saber como andam os negócios da família — Ele apertou a ponte do nariz diante da pergunta dela. Era óbvia.

Alfonso: Estão bem, tudo segue na mais perfeita ordem. Não há nada com o que se preocupar — Sorriu sem dentes para ela, que suspendeu uma sobrancelha — Era apenas isso? — Apontou a saída.

Diana: Alfonso — Se inclinou para frente, se aproximando dele — Você sabe que seu pai confiou em você...

Alfonso: Eu sei perfeitamente bem o que aconteceu, ok? — Dispensou, se levantando — Você depende de mim, meus irmãos dependem de mim, tudo depende de mim e desse... maldito negócio! — Se jogou na poltrona vaga, levando as mãos aos cabelos — Eu já sei disso.

Diana: E você prometeu — Ele apertou a poltrona, os olhos fulminando — Eu sei que tem outros planos para a sua vida, mas...

Alfonso: Eu tenho cumprido meu papel com muito louvor — Forçou um novo sorriso, sem vida — Não tem com o que se preocupar. Os negócios vão bem, o bolso de vocês continuará bem cheio e eu seguirei tocando tudo, como fiz até agora.

Diana: Está na hora de aceitar sua missão nesse mundo, meu filho — Se aproximou de Alfonso, tocando carinhosamente seu rosto — Nem sempre fazemos o que queremos, mas sim o que precisa ser feito — Ele soltou um suspiro resignado, negando levemente com o rosto — Eu sinto muito por ter que carregar esse fardo.

Alfonso: Está tudo bem — Se esquivou do toque dela, pegando o sobretudo que tinha deixado na poltrona — Tranque a porta quando sair — Bateu a porta, sem dar a ela chance de resposta.

Não era como se houvesse escolha, quando em seu leito de morte, o pai passou tudo o que tinha em suas mãos. Sem o dar chance de escolhas. Era o preço a ser pago por ser o mais velho.

E esse preço era alto demais.

Apesar de grande parte de seus negócios serem extremamente lícitos e honestos, tinha aquele um por cento por trás, e era o que mantinha todos os negócios da família girando. Um império de mentiras.

Crime e desejoOnde histórias criam vida. Descubra agora