Foi difícil fazer com que Alfonso deixasse o quarto do hospital naquela noite, ainda se sentia inquieto e ansioso. Por mais que os médicos tivessem deixado claro que era uma situação totalmente normal de se acontecer com qualquer paciente naquele estágio, ele sabia que aquele movimento, por mínimo que fosse, ia além. De alguma forma, ele sentia. Ele estava encontrando o caminho de volta.
Como todas as noites, o sono lhe fugiu. Mesmo com a mente atormentada e surrada pedindo descanso.
Ir para um pub não era mais opção, já que sua maior distração estava momentaneamente arruinada.
Só havia um lugar capaz de fazê-lo sentir em paz.
Fosse pelo silêncio, fosse pela bebida, fosse pelo seu significado. Era aquele o lugar que lhe servia como o refúgio perfeito.
Já era tarde da noite, e ele sabia que encontraria o lugar exatamente daquele jeito: escuro e vazio. Ninguém lhe atormentaria, ninguém lhe perguntaria o que fazia ali aquele horário, ninguém com suas insistentes perguntas se tudo estava bem.
E era óbvio que não.
— JESUS! — Alfonso se assustou com o grito de Anahí, que saltou do outro lado da mesa com o sapato em mãos, pronta para atacá-lo — Você quer morrer?! — Grasnou, o coração ainda disparado, a porta terminando de ser aberta.
Alfonso: Como é que eu ia adivinhar que ainda estava aqui? — Respirou fundo, se recuperando do susto. Anahí o olhava como se quisesse matá-lo, e isso o fez soltar um riso ao se recuperar — Pronto, pronto — Sinalizou a ela — Passou.
Anahí: Passou o caramba — Levou a mão a testa, os olhos brevemente fechados — Isso. Não. Se. Faz — Disse, pausadamente — Eu estava pronta para arremessar o meu sapato em você! — Apontou, vendo-o andar com um riso divertido.
Alfonso: Isso seria no mínimo divertido — Deu de ombros — Ainda com esses relatórios? — Se aproximou de onde Anahí estava, o dedo batendo despretensiosamente sobre os papéis e anotações feitas por ela.
Anahí: Eu não gosto de deixar trabalho pela metade — Deu de ombros, ignorando a forma com que ele a olhava. A respiração voltando ao normal — Vou ficar por aqui até terminar minha linha de raciocínio, ou senão, tudo isso será trabalho perdido — Ele assentiu, com um sorriso de aprovação — E eu não sou mulher de perder tempo.
Alfonso: Não vou julgar, pois sou exatamente assim — Passou atrás ela, indo até um aparador no canto de sua sala.
Pegou dois copos, virando-os e os servindo com uma dose de seu whisky. Preparou uma para Anahí, que tinha voltado a focar em suas anotações. Levantou os olhos para o copo que pousou ao lado de sua mão, e levantou o rosto, encontrando com os olhos dele.
— Faça uma pausa — Sugeriu, recolhendo sua mão e colocando no bolso de sua calça — Vai ajudar a potencializar seu raciocínio — Piscou a ela.
Anahí: Não bebo enquanto trabalho — Alfonso contornou a mesa, indo em direção a poltrona próxima a janela — Ao menos, não quando meu chefe está vendo — Ele sorriu com o canto dos lábios, tomando um gole de sua dose.
Alfonso: Prometo fazer vista grossa — Garantiu, o olhar buscando pelo dela. Anahí respirou fundo, deixando a caneta de lado e massageando sua têmpora. Sentia-se exausta, mas ainda tinha um longo caminho a percorrer.
Ao abrir novamente seus olhos, o viu tirar o paletó azul marinho, deixando-o jogado sobre o cabide no canto da sala. Afrouxou a gravata vinho, e abriu os primeiros botões da camisa que usava, deixando seu pescoço livre.
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Crime e desejo
FanfictionNão se pode ter tudo na vida, e era sobre isso que refletia naquele momento. Mas era exatamente isso o que desejava. A ambição era inimiga da perfeição, assim como a pressa. E pressa, era algo que nenhum dos dois tinha naquele momento. Afinal, crime...