Levou um tempo para que Annabelle raciocinasse com clareza, a ponto de entender o que aquilo significava.
Naquelas horas, desejava ser como a irmã: fria e objetiva.
Saber analisar com clareza antes de dar qualquer passo, tomar qualquer decisão, antes de proferir qualquer palavra.
Mas a verdade é que não era bem assim.
Ela sequer sabia o que falar ou como agir, e geralmente acabava se arrependendo depois das próprias escolhas.
Seus olhos estavam fixos em Arthur, que parecia esperar qualquer que fosse a reação dela. Mas, nada vinha.
— Ok, você tem dúvidas — Olhou sobre os ombros, puxando-a pelas mãos — E eu vou responder cada uma delas, mas, agora, precisamos sair daqui.
Annabelle: É óbvio que tenho dúvidas, Arthur! — Piscou, saindo do transe.
Arthur: Tudo bem — Suspirou, fechando o container e analisando o local vazio uma vez mais.
Annabelle: O que quer dizer tudo isso?! — Disparou, seguindo-o — Por que raios logo você...?
Arthur: Eu não sei, tá legal? — Apagou a luz do galpão, acendendo a lanterna de seu celular — Por pura ironia do destino, isso caiu em minhas mãos e eu sequer sei de onde veio, para onde vai, tampouco porque está em nome de Alfonso.
Annabelle: Arthur, isso é tão... — Parou de segui-lo, o que o fez parar e se virar — Sujo.
Arthur: Eu sei — Aceitou com um suspiro, passando as mãos pelos cabelos.
Annabelle: Alfonso seria capaz de algo assim? — Estreitou seus olhos, confusa.
Arthur: Annabel — Voltou até ela, abaixando para ficar na altura do rosto dela — Ainda esses dias, você me disse que sua irmã era a pessoa mais racional que conhecia — Lembrou, sorrindo fraco ao vê-la assentir — Então, me diz você. Sua irmã deixaria algo assim passar por debaixo do próprio nariz? — Annabelle tragou a própria saliva, a cabeça pesando para raciocinar, parecendo dar um nó.
Annabelle: Eu não sei...! Eu nem sequer sei o que... — Mordeu o próprio lábio, maneando o rosto — E você, Arthur? — Continuou, olhando-o — Você tem algo a ver com isso? — Ele sorriu fraco, abaixando o rosto.
Arthur: Se você, a única pessoa que verdadeiramente me conhece agora, tem essa dúvida sobre mim, imagine todo o resto...
Annabelle: Eu estava lá, Arthur! — Espalmou a mão no peito dele — Eu estava lá quando abriu aquele container! Eu estava lá...
Arthur: Você estava lá — Concordou.
Annabelle: E ainda que não estivesse, eu não... — Meneou levemente o rosto — Eu nunca duvidaria de sua palavra, Arthur — Voltou a olhá-lo — Se você me disser que não tem nada com isso, eu nunca vou duvidar de você.
Arthur: Eu não tenho nada com isso, Annabel — Afirmou, olhando-a nos olhos — Eu realmente não tenho nada com isso.
Annabelle: Ok — Aceitou, o coração parecendo normalizar depois daquela afirmativa — E o que nós faremos com isso agora? — Ele levantou os olhos, surpreso com a pergunta dela. Um sorriso fraco surgiu no canto dos olhos de Arthur, brevemente correspondido por ela.
Arthur: Eu... bem — Suspirou ao coçar a nuca — Não sei ao certo o que fazer.
Annabelle: Nós precisamos pensar — Considerou — E procurar por onde começar a agir.
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Crime e desejo
Hayran KurguNão se pode ter tudo na vida, e era sobre isso que refletia naquele momento. Mas era exatamente isso o que desejava. A ambição era inimiga da perfeição, assim como a pressa. E pressa, era algo que nenhum dos dois tinha naquele momento. Afinal, crime...