Anahí se encolheu sentada na poltrona próxima a lareira, assim que Alfonso fechou a porta de seu quarto, logo após se despedir com uma distância segura para os dois.
Tocou seus lábios com as pontas de seus dedos, sentindo o gosto do beijo de Alfonso vivo e presente, não só em seus lábios marcados e inchados, mas agora, marcado em sua alma.
O toque gentil dele, fez a sua pele queimar, e não só pelo desejo. A lembrança de seu corpo sendo maltratado e abusado, os beijos sendo arrancados a força, o gosto de cigarro e bebida, tinham facilmente sido substituídos por aquele doce e gentil toque.
Se agarrou àquele confortável moletom, carregado com o cheiro de Alfonso. Sorriu rapidamente, logo se desfazendo daquele sorriso, e de todo o pensamento que a envolvia.
Era óbvio que não perderia o foco, tampouco cairia de amores por Alfonso Herrera. Mas era bom, depois de tanto tempo, se lembrar como era verdadeiramente o toque de um homem. E o quanto era bom se sentir mulher e desejada.
Seu corpo lhe seria eternamente grato por isso.
Viu o dia amanhecer sentada naquela mesma poltrona, a mente envolta em tantos outros pensamentos, que foi impossível pregar os olhos. Tentou conectar tudo o que viu e viveu nesses últimos dias, ao caso em que estava trabalhando. Precisava encontrar ao menos uma ponta para desenrolar todo o caso.
O Alfonso que hoje conhecia, era completamente o oposto do Alfonso que leu nos documentos enviados no início de sua missão. A cada dia que passava, ele se revelava cuidadoso e gentil.
Um verdadeiro cavalheiro.
Logo se repreendeu pela forma que seus pensamentos andavam lhe traindo, tirando completamente o foco de sua missão, do que precisava ser feito.
— Anahí, mantenha o foco — Se repreendeu.
Se levantou, indo até o guarda-roupas dele.
Procurou por qualquer peça que não o pertencesse, ou por alguma peça que não tivesse o cheiro dele, falhando miseravelmente. Não havia nada ali que não estivesse impregnado com aquele maldito perfume.
Desistiu de trocar a roupa, e andou até o espelho. Ajeitou seu cabelo do jeito que pôde, e manteve o braço dentro do moletom, ainda apoiado em seu corpo, evitando todo tipo de esforço.
A dor tinha diminuído, mas o incomodo permanecia ali, lembrando-a de sua lesão.
Respirou fundo, se encarando por mais um momento no espelho, antes de se virar, decidida a sair daquele quarto por pelo menos alguns minutos.
Já que a tempestade lhe impedia de ir embora, ao menos que usasse todo aquele tempo com a família Herrera a seu favor.
Seguiu pelo corredor onde se lembrava de ficar o escritório, onde Alfonso a levou na noite anterior. Passou pela mesma porta, que estava fechada, ouvindo risos vindo direto do fim daquele corredor.
— Eu te falei, cara — Ouviu a voz de Alfonso, respirando fundo com a estranha sensação que ela lhe causou — Essa aqui é ainda mais forte do que a carta que você tem.
— Isso está errado — Daniel protestou, coçando a nuca — Como que o coelho ganha de um dragão? — Franziu o cenho, confuso.
Alfonso: Esse coelho é encantado — Justificou, dando de ombros — E pare de chorar, aceite que eu sou o rei desse jogo — Implicou com o irmão, que o olhou com uma careta nada satisfeita.
Daniel: Vamos de novo — Saiu como um resmungo, e Alfonso juntou todas as cartas que estavam no chão, embaralhando.
Anahí entrou na sala, fazendo o mínimo barulho possível para não ser notada por eles. Já estava preparada para a possível rejeição que viria de Alfonso, após o beijo da noite passada.
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Crime e desejo
FanfictionNão se pode ter tudo na vida, e era sobre isso que refletia naquele momento. Mas era exatamente isso o que desejava. A ambição era inimiga da perfeição, assim como a pressa. E pressa, era algo que nenhum dos dois tinha naquele momento. Afinal, crime...