Capítulo 7

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Acho que subestimei a capacidade de impulsividade da Giorgia, simplesmente não existem obstáculos o suficiente para interromper as suas vontades, nem mesmo o risco de pôr a vida do irmão ainda mais por um fio do que já está

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Acho que subestimei a capacidade de impulsividade da Giorgia, simplesmente não existem obstáculos o suficiente para interromper as suas vontades, nem mesmo o risco de pôr a vida do irmão ainda mais por um fio do que já está. Ela realmente fez o que tinha prometido, ignorou veementemente quaisquer recomendações e apelos médicos e trouxe o Otto para Itália o mais rápido que conseguiu.

Quando eu deixei o hospital de Genebra, ele ainda estava desacordado pelo efeito da anestesia e, quando ele despertasse, seria feito uma série de exames para avaliar, principalmente, o local e a dimensão da sua possível lesão cerebral. Seu estado é crítico, por mais que a cirurgia tenha contido a hemorragia, a fragilidade da sua condição não poderia ter sido desprezada dessa maneira. Felizmente, minha cunhada é louca o bastante para isso.

Pela janela do escritório consigo ver a ambulância parada e os enfermeiros realizando cuidadosamente a retirada do Otto do veículo, enquanto Giorgia os supervisiona. No momento em que a imagem dele, com o corpo estendido e imóvel sobre a maca, entra no meu campo de visão, sinto-me paralisada, minha mente se torna um verdadeiro vazio, impossibilitada de reconhecer aquilo como algo real. Sua cabeça está enfaixada com os curativos e um aspecto enfraquecido substituiu, em tão pouco tempo, a sua estrutura, antes robusta.

Eu sou responsável por isso.

Diferente do que eu esperava, não há uma mísera gota de arrependimento atormentando o meu coração, a alma dele já era miserável muito antes de o seu corpo também ser. Sua morte teria sido um agradável presente, mas a sua atual e desprezível condição, por mais que não seja totalmente favorável a mim e ao Dominik, não deixa de ter um sabor doce. Tão doce que quase me faz sorrir, um ato que ele amargamente arrancou de mim.

Eles conduzem a cama móvel em direção à entrada e, então, vejo os seus olhos se elevarem em direção à janela e encontrarem os meus, em um movimento muito singelo, mas perceptível para mim. Olheiras escuras contornam a sua pálpebra, suas orbes azuis estão tomadas por um tipo de ódio visceral em minha direção, como se me condenassem à morte naquele exato segundo, sem precisar do mínimo esforço ele consegue demonstrar a força da sua raiva.

Sinto-me sufocada, é como se todo o temor que alimentei por anos retornasse ao meu corpo de uma vez só, me reduzindo, mais uma vez, a uma menina encolhida no chão do quarto enquanto se afoga nas próprias lágrimas e no sangue que escorre para fora das suas veias. Parece uma eternidade, o olhar tenebroso não desaparece do seu rosto por todo o breve caminho, sugando-me para a sua atmosfera hedionda, transmitindo imagens cruéis do que acredito que ele faria comigo caso conseguisse se levantar daquela maca.

Ao meu lado, ouço o Roman falar algo, mas sou incapaz de compreender, nem sequer lembrava que ele também estava aqui. Engulo em seco quando a imagem do Otto desaparece e logo me dou conta de que o Lorenzo está no andar de baixo. Não quero que ele veja o pai, muito menos a Giorgia, que não perderá a oportunidade de despejar o seu veneno contra mim.

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