Capítulo 48

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O fulgor elegante dos brincos de diamantes que adornam as minhas orelhas, cintilando sob a luz baixa do closet

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O fulgor elegante dos brincos de diamantes que adornam as minhas orelhas, cintilando sob a luz baixa do closet. As joias ostentam uma opulência deslumbrante, um magnetismo que parece capturar o olhar de quem observa o seu brilho encantador. Contudo, por mais inegável que seja essa beleza, para mim, o brilho incrustado nas pedras reflete algo tão sufocante quanto as paredes desta mansão, como se cada faceta preciosa fosse um lembre silencioso da realidade obscura e dolorosa para a qual fui arrastada.

Por isso, a infinidade de luxos que eu tenho ao meus dispor permanecem, na maior parte do tempo, esquecidos nos inúmeros armários desse cômodo  maior parte do tempo, e sei que renegá-los seria considerado um crime por qualquer outra mulher. Mas, mesmo quando eles ainda me fascinavam, eu jamais senti que neles estava o cerne da minha felicidade; a essência do que eu acredito ser realmente valioso nunca se encontrou nessa vida regada a excessos vazios.

De forma alguma isso me faz mais nobre do que qualquer outra pessoa, só que poucas delas conseguem entender que, quando quando os medos substituem a paz, tudo isso se torna irrelevante. Uma vida reduzida ao dinheiro pode comprar nunca trará de volta a certeza de que sou livre, então por que me apegar a ela?

Estar ciente das imundas sujidades que recobrem todo esse glamour destruiu o ingênuo vislumbre que um dia já reluziu em meus olhos diante dessa  realidade suntuosa. Com a chegada do Lorenzo, muitas coisas em mim mudaram, e a primeira delas foi entender que a chance de cultivar um amor genuíno, numa vida sem livre dúvidas inquietantes e temores inomináveis, vale mais do que qualquer posse ou bem. Nenhuma dessas joias, roupas, sapatos ou perfumes exclusivos pôde me proporcionar isso, que é o mais profundo desejo do meu coração quebrado.

Ter um lugar onde eu pudesse contemplar a natureza que tanto me deslumbra, apreciar um silêncio agradável, e não perturbador, como o que se instala nos corredores desta mansão, e simplesmente descobrir como é pertencer a um lar verdadeiro, são vontades que deveriam estar adormecidas dentro de mim, mas ainda sonho acordada com tudo isso. Sim, acordada, porque quando o sono me envolve, nada sublime se infiltra em minha consciência, que ultimamente tem vagado transitado entre tormentos e delírios, misturando meus sentimentos de tal forma que o controle que pensei ter sobre eles escorre por entre meus dedos.

Talvez ainda haja algo que me prenda a essa ideia estúpida de acreditar que ainda posso conquistar algo parecido com o que a minha imaginação teima em criar. A dor deveria ter extinguido essa fé tola, mas, de alguma maneira que não consigo entender, uma perigosa chama de esperança insiste em se reacender dentro de mim, mesmo quando me encontro novamente em meio ao caos, ainda tentando processar tudo o que aconteceu mais cedo.

A visita inesperada do subdelegado ainda me atormenta, principalmente por ter me dado uma noção clara de que solucionar esse inferno de roubo e ataque falsos que supostamente aconteceram naquela noite em Genebra é algo de profundo interesse da força policial. Do contrário, com a morte de Moretti e o escasso avanço investigativo que foi obtido até o momento, a inconclusão do caso poderia ser facilmente estabelecida ou comprada. Mas, para minha infeliz falta de sorte, isso não é uma possibilidade. Então, o único caminho que me resta é atirar em direção ao alvo que assumirá a minha culpa, e, dessa vez, não posso cometer nenhum erro.

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