Capítulo 29

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O olhar impávido que ele dirige a mim não demonstra o menor indício de preocupação diante do meu claro questionamento sobre a situação desconfortável em que encontrei a governanta há poucos minutos

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O olhar impávido que ele dirige a mim não demonstra o menor indício de preocupação diante do meu claro questionamento sobre a situação desconfortável em que encontrei a governanta há poucos minutos. Nesse momento o Roman parece apenas alheio à minha irritação, agindo como se a pergunta que lhe fiz não tivesse sequer chegado aos seus ouvidos. É simplesmente insuportável esperar por respostas e receber o silêncio, mas, de alguma forma, a ausência das suas palavras só reafirma a minha certeza de que não interpretei errado o que acabei vendo de soslaio e ele é realmente a única causa do mal-estar da pobre Antonella.

Por alguma razão, o Roman estava intimidando a governanta, do contrário o que acabei de ver e o pouco que ouvi diante da situação soariam tão estranhamente aflitivos para ela. Só não entendo por qual motivo ele resolveu ter uma atitude intolerante com uma simples empregada. Vê-la vulnerável e mentalmente abalada é algo que não posso ignorar, pois não irei permitir que Antonella, depois de todo o cuidado que ela sempre teve por mim todos esses anos, seja tratada de maneira rude quando já não tem mais idade para lidar com algo assim.

Se eu não estivesse caminhando à procura do Lorenzo, que havia se enfurnado em algum lugar antes da aula com a professora de matemática, o que teria acontecido? Até onde ele iria com essa atitude?

Foi só quando, ao me aproximar dessa área da mansão, um pouco mais afastada do restante da casa, que notei vozes sorrateiras se confundindo com o barulho que vinha dos fundos da cozinha, um espaço tipicamente agitado onde os funcionários costumam se reunir. A figura imponente do Roman, praticamente coagindo a Antonella, entrou no meu campo de visão e aquilo me desviou totalmente do meu objetivo inicial ao passar por aqui.

A mulher aparentava já não ter forças para sustentar a si mesma e tateava a parede na intenção de se apoiar contra alguma superfície rígida que pudesse apoiá-la. A estava sumindo do seu rosto; cada aspecto do seu olhar perdido era tomado por uma expressão de medo e pavor e não posso negar como aquela cena me assustou. Mas, ao contrário da preocupação que se instalou em meu peito, o Roman não aparentava dar nenhuma importância aquilo enquanto assistia o nítido mal-estar dela, ouvindo-a falar uma série de coisas que eram incompreensíveis para mim devido à distância.

Não pensei duas vezes antes de tirá-la daquela situação, que me deixou imediatamente consternada por vê-la tão mal diante do que parecia ser conversa extremamente inquisitiva. A única parte que pude identificar em sua fala confusa, pouco antes de interromper o que estava acontecendo, foi ela dizer algo sobre alguém descer as escadas e ser levado para um lugar, que, pela maneira em que suas  palavras se perdiam em profundo atordoamento, eu sei que só pode ser aquele maldito lugar.

Eu pude enxergar, naquele breve instante  em que nossos olhos se cruzaram antes dela partir, lembranças terríveis cobrindo-os com sombras das inúmeras recordações repulsivas, essas lembranças terríveis que também me assombram quando emergem à superfície da minha consciência, mas de uma forma que foi muito pior para mim do que para ela.

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