Capítulo 39

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A sensação amena de frio, típica do início do anoitecer, serpenteia suavemente pela pele descoberta dos meus braços, envolvendo-me como um abraço reconfortante

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A sensação amena de frio, típica do início do anoitecer, serpenteia suavemente pela pele descoberta dos meus braços, envolvendo-me como um abraço reconfortante. Parada sobre os ladrilhos de pedra, que pavimentam o chão da entrada do dormitório dos seguranças, solto mais um suspiro ao encarar a porta à minha frente, sem conseguir decidir se estou ou não preparada para conversar com o Dominik.

O problema não é ele, de forma alguma, mas saber que uma realidade complicada demais para sustentarmos sozinhos se forma em torno de nós todas as vezes que nos encontramos. Eu não queria que fosse assim, não queria que tivéssemos tantos fardos nos ligando um ao outro de uma maneira tão cruel.

Dom merece uma chance de recomeçar, e sei que ele conseguiria se tivesse forças para lutar por isso, mas às vezes eu sinto no meu próprio coração como ele está escolhendo viver em função da dor. Carregar o peso de uma culpa profunda e lancinante, como se ela estivesse constantemente desabando sobre sua cabeça, deve ser terrível, e as circunstâncias não parecem dar a ele um olhar para o futuro.

Tudo o que aconteceu com o Dominik no passado consome a sua alma, obscurece a luz da esperança e distorce a própria essência da vida dele. E eu entendo como, depois de todos esses anos lidando com algo que fugiu do seu controle, é fácil sucumbir à escuridão, deixar que a dor dite cada pensamento, cada ação e cada respiração. Foram incontáveis as situações em que deixei que isso também acontecesse comigo antes. Agora, eu vejo que permanecer preso na lenta e dolorosa angústia é o primeiro passo para desistir de si mesmo.

Eu sinto tanto por não ser a pessoa que pode fazer algo por ele. Palavras não são o suficiente para fazê-lo entender que haverá uma vida longe de tantos tormentos quando conseguirmos pôr um ponto final na existência maldita do Otto. Infelizmente, não sei como torná-las significativas para ele, porque eu mesma precisei de muito tempo para acreditar nelas. Dom me fez ter coragem de agir contra o meu maior pesadelo, mas eu me vejo incapaz de fazer o mesmo por ele.

Sem ele, eu ainda estaria paralisada pelo medo que se instalou em mim assim que desmoronei do lado de fora daquele porão, onde todas as minhas ideias ingênuas foram ceifadas em minúsculos pedaços. Não é justo que ele me ajude a ter uma chance de liberdade quando, mesmo de longe, consigo notar que os seus dias parecem cada vez mais perturbados por algo que o deixa inquieto.

Com uma mistura de sentimentos colidindo em meu peito, bato à porta do dormitório dos seguranças, sentindo a madeira sólida sob os nós dos meus dedos. O som ecoa pelo ambiente e espero que ele atenda, já que ele é o único lá dentro devido ao plantão de vigilância noturna dos demais seguranças ter começado em um horário mais cedo do que o habitual.

Observo a porta se abrindo lentamente, revelando o  rosto familiar dele, com seus olhos enegrecidos e  cansados que demonstram certa surpresa ao me ver. As luzes internas lançam sombras suaves em seus traços, destacando os vincos de preocupação que eu conheço tão bem. Ele abre espaço para que eu entre, e assim faço, estranhando a sensação de estar em um local diferente do interior da mansão.

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