Capítulo 46

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Entre dois infernos distintos, mas igualmente intrigantes, forma-se um abismo que tenta me separar de qualquer noção acerca do caráter enigmático que se esconde por trás deles

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Entre dois infernos distintos, mas igualmente intrigantes, forma-se um abismo que tenta me separar de qualquer noção acerca do caráter enigmático que se esconde por trás deles. De um lado, uma força pretende me atrair para um território desconhecido, repleto de sombras e segredos. Do outro, uma ameaça, camuflada na morbidez de um covarde fodido tenta se impor sobre mim. Ambos tem um único e infeliz propósito: testar minha capacidade de ser sagaz o bastante para discernir seus reais interesses.

Manter a sanidade enquanto caminho por essa linha tênue entre o controle e a vontade insaciável de estraçalhar tudo ao meu redor é um desafio quase insuportável. A noção de que sou uma peça nesse jogo desde o princípio, sendo observado como um rato com potencial de ser induzido a seguir os comandos invisíveis daqueles que movem os fios ao meu redor, alimenta um ímpeto brutal que contamina meus pensamentos a cada instante. Reconheço que o ponto de partida para toda essa desordem foi a minha maldita disposição cega em abraçar qualquer coisa em nome de um lema de merda, um ideal que eu considerava absoluto, mas que na verdade sempre esteve manchado pela traição e pelo ódio.

A posição que me foi dada, com toda a sua aparente importância e exigências, nunca passou de um maldito teste para ver até onde a ambição e falta de escrúpulos poderiam me levar, para ter certeza de que eu poderia me tornar o alicerce dos desejos sujos de outros. Algumas, ou muitas, das minhas atitudes podem ter tornado isso uma verdade incontestável, deixando claro que determinados limites são para mim tão irrelevantes quanto a porra de uma pedra que se põe entre meus pés e o chão, sendo chutados para longe do meu caminho. Mas o que todos eles não estão enxergando é que o caráter das minhas decisões não é tão simples assim...

Eu sou mais do que um Cavallieri movido pela sede de poder, escravo do pelo brilho frio dos diamantes cravejados na miséria que cerceia o seu luxo. Sou um homem que carrega consigo a frieza sob a posse de uma lâmina letal, e a minha atenção sobre os passos traiçoeiros ao meu redor não passam despercebidos pelos meus olhos, principalmente quando ervas daninhas tentam se angariar em meus pés, serpenteando sobre as sombras para me derrubar.

E agora que compreendo parte do jogo de mentiras em que estou envolvido, nada será capaz de me impedir de cortar essas malditas ervas pela raiz, esmagá-las com meus próprios dedos e mostrar a todos onde o verdadeiro inferno começa.

O espiral de fúria em que minha mente mergulha repetidamente a cada vez que paro para refletir no tamanho do atrevimento do infeliz que foi capaz de desafiar tudo isso sem o menor medo das consequências por agir sempre como uma sombra à espreita, é impossível de controlar. Alexander Hesse estava perfeitamente articulado com as circunstâncias que me rodeavam no momento em que decidiu transmitir aquele telefonema controverso para mim.

A única intenção dele era despertar em mim algum tipo de temor sobre o poder que agora repousa em minhas mãos. Mas esse merdinha alemão, mesmo arriscando tudo em uma estratégia que acreditou ser suficiente para me afastar de onde estou, parece não conhecer o alvo que está apontando. Se ele soubesse que aquela ligação grotesca despertou exatamente o oposto do temor que pensou causar, jamais teria arriscado a própria cabeça ao me fornecer uma noção clara de como suas ações estão meticulosamente articuladas para nunca deixar as sombras que ocultam sua covardia.

Neglectful LoverOnde histórias criam vida. Descubra agora