Capítulo 49

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O ruído da lâmina cortando o ar é sutil, quase imperceptível, mas para mim é um lembrete constante do potencial mortal que saber manuseá-la com destreza me permite ter em mãos

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O ruído da lâmina cortando o ar é sutil, quase imperceptível, mas para mim é um lembrete constante do potencial mortal que saber manuseá-la com destreza me permite ter em mãos. Os giros da adaga, passando de um dedo para outro, deixa-me absorto nos movimentos ágeis do metal reluzente e impecavelmente limpo de todos os resquícios dos atos ferais que pode vir a provocar conforme a minha vontade. De alguma maneira, a representação do sórdido e da inclemência visceral do instrumento consegue me distanciar um pouco das complexas decisões que estão sob o meu controle.

A prudência, a qual tento exercer como nunca antes precisei, duela contra os meus impulsos, que, taciturnamente, ganham cada vez mais força. Essa dificuldade de limitá-los faz com que o ambiente ao meu redor pareça estar se desfazendo enquanto meus pensamentos não param de ir e vir nas coisas que imperam como minhas prioridades. O caminho que estou convicto a trilhar é árduo, tortuoso, e talvez o mais traiçoeiro do que todos que já enfrentei, sobretudo, porque, agora, há coisas importantes demais em jogo e muito mais valiosas do que qualquer objetivo vil que eu já tenha acredito ser relevante.

Não se trata mais de continuar investigando tudo  que está sob as minhas suspeitas sem ter um propósito definido. Apesar de muitas ideias ainda se manterem turvas, outras estão bastante esclarecidas, e já sei exatamente onde preciso chegar, o que preciso manipular sem piedade para expandir o meu domínio para além de um cargo de poder, que hoje percebo que não passa de uma bela ilusão de merda.

De fato, eu fui a opção mais competente para assumir os negócios, já conhecia o funcionamento e não demorei para me adapta rápido ao que fui determinado a exercer. No entanto, assinar papéis intermináveis e analisar contratos e licenças feito um fantoche, à mercê da ganância alheia, não é o meu destino.

As paredes de um escritório dele não comportam a minha sede por desvelar tramoia por tramoia que foi praticada por trás da imagem renomada da Cvllier. Portanto, se o meu intuito é exatamente fugir a essa lógica, permanecer detido aos limites dessa mansão e do poder que foi colocado em minhas mãos não basta para os meus planos. Ainda assim, o desejo de retaliação não é suficiente para o explicar o que eu tenho em mente, a única coisa que posso afirmar é que a sensação tempestuosa de querer destruir egos e certezas pretensiosas ao meu redor escalona em degraus de ferro dentro de mim.

É como se cada descoberta me trouxesse uma nova perspectiva, que conflui sempre para um quebrado e maldito cerne: Otto Cavallieri.

O infeliz escolheu com maestria as pessoas com quem se relacionaria, atraiu um magnitude de poderosos e silenciou terminantemente aqueles que não se deixaram manipular, criando assim uma aliança firme em torno do seu papel de líder. E, ao contrário do que seria óbvio, tudo aponta que o tipo de relação estabelecida na figura dele não se limitava à quantidade de euros circulando nos bolsos desse grupo seleto com quem ele formou essa união ou meramente aos ganhos materiais advindos dela.

O verdadeiro conluio que ele ergueu, obscurecido pela capacidade de manter ocultar todas as evidências de que algo suspeito acontecia por trás da fachada da nossa joalheria, certamente era movido pelo dinheiro, mas os interesses só podem envolver algo além dele. Esse capital, seja lá para o que tenha sido destinado, concedia algo que está nas camadas incivis de um mundo inacessível a maior parte dos pobres mortais e que se faz atraente a muitos outros que estão acima do que se pode considerar uma ralé humana.

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