Capítulo 22

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Pressiono, com mais força do que o necessário, o metal frio das abotoaduras, fechando cada um dos punhos da camisa de linho que visto por baixo do terno preto

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Pressiono, com mais força do que o necessário, o metal frio das abotoaduras, fechando cada um dos punhos da camisa de linho que visto por baixo do terno preto. Encaro o meu reflexo cansado e taciturno no espelho; as olheiras escurecidas contornando as minhas pálpebras e minha postura tensa denotam o cansaço que o aborrecimento de horas atrás me causou. A única minha única vontade  hoje é de praguejar contra tudo ao meu redor, até mesmo o som dos pássaros se reunindo para aproveitar um pouco do sol ameno da manhã me irrita.

Percebo que toda essa roupa bem alinhada não é o suficiente para disfarçar o meu péssimo estado. Também não tenho a intenção de esconder nada disso, é melhor que cada um que se aproxime de mim saiba que não estou disposto a oferecer qualquer indício de bom humor, muito menos de gentileza. Aperto a mandíbula, e meu rosto vibra ao sentir a raiva se alastrar pelas minhas veias, queimando e consumindo a minha capacidade de soterrar essa merda de frustração.

Não consigo parar de pensar no momento em que ela saiu correndo do meu quarto. Eu poderia ter ido atrás dela e a feito terminar o que havia começado, mas não; sequer pude me colocar de pé sem resolver a porra da ereção dolorida que ela deixou para a minha mão dar conta de resolver. Como ela pode entrar aqui, gemer o meu nome, se contorcer deliciosamente em meus dedos, a ponto de quase me fazer explodir, e simplesmente ir embora depois de me fazer pensar que iria montar no meu pau?

Eu deveria entender que a minha perspectiva sobre isso tudo é muito mais simples do que a dela, mas eu realmente acreditei que havia feito ela esquecer esse empecilho e se entregar de uma vez ao que desejava. A ideia de que a sensação de culpa a fez fugir, certamente por causa do Otto invadindo sua mente naquele momento, intensifica minha irritação. O ódio fervilha dentro em mim ao pensar que esse obstáculo tenha sido mais poderoso do que o que acontecia entre nós.

Nunca alguém teve tamanho sucesso em me deixar louco, completamente fora do eixo, quanto a Alessa em apenas alguns minutos. Depois que ela se foi, passei o resto da madrugada em claro, como já pretendia antes da visita deliciosa e infernal que ganhei, mas não me concentrei em nada produtivo; minha mente se tornou um espaço caótico. Eu ainda precisava de muito mais dela e estava tão perto de ter que o tormento se tornou muito pior do que todas as outras vezes em que ela me deixou imerso em inúmeras fantasias, porque, agora, eu sabia que a realidade era muito melhor do que qualquer uma delas.

O gosto suave de cereja do seu beijo é viciante de uma maneira irresistível, tão singular que tenho certeza de que não é possível encontrar em nenhum outro lugar, apenas nos lábios macios daquela feiticeirinha maldita. A mera recordação me leva a deslizar mais uma vez a língua entre os meus próprios lábios, em busca do sabor que eu sei já ter desaparecido, mas não consigo desistir de tentar encontrar os resquícios dele em minha boca.

Por outro lado, o cheiro doce dela permeia todos os cantos deste quarto, e o aroma frutado dos fios castanhos permanece impregnado nos meus lençóis, como uma infeliz evidência de que ela esteve deitada ali e eu não pude vê-la acordar sobre a minha cama. Descabelada, marcada, exausta de tanto foder, entregue à preguiça matinal; era assim que eu queria que ela tivesse partido daqui, não assustada e arrependida por ter cedido à minha persuasão.

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