O verme

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I

Dedico isso ao maldito verme

Que consome lentamente

Toda a minha derme

E todo resto vital existente


Minha pele já foi devorada

Por essa fascínora sanguessuga

Que se alimenta da minha derrocada

E com tamanha impaciência me julga


Mas ainda assim

Caso ele acabe com minha vida

A dele também tem fim


Afinal, ele vive por me consumir

Se, por virtude, eu decretar minha ida

Ele deixa de existir.


II

Se você ainda me vê, parceiro

Saiba que é por um curto tempo

Estou, pouco a pouco, indo por um bueiro

Para o eterno esquecimento


Já não lembro de algumas histórias

Aquele verme nunca parou de me sugar

E não esqueceu de levar minhas memórias

Para algum, tão sombrio como ele, lugar


Maldito seja esse desejo incessante

Que, cruelmente

Me leva ao despejo


Daquilo que era propriamente meu:

Corpo e mente

Restando-me apenas um longo e vazio breu.


III

Agora sim, é hora de partir

Deixarei o vento sozinho

Na companhia de uma escuridão que sorri

Por me ver seguindo o caminho


Um caminho para o descanso final

Daquela sanguessuga que outrora

Sugou meu essencial

Deixando apenas o aqui e agora


Até das palavras começo a esquecer

Já não lembro aquilo que disse

Ou que um dia quis dizer


Será que esquecerei de...

...

?!

!

?

?? .













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