04 | O FIM DA FESTA.

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18 de Agosto de 2018.
Rio de Janeiro, Madureira.
ARABELLA

— O maior arrependimento da tua mãe é você, Arabella. Hoje ela é assim, uma fudida do caralho por tua causa. Porque teve que criar você! — Foi o que o meu pai me disse, sim o meu pai. E hoje eu juro a mim mesma que nunca terei filhos.

Naquele instante meu mundo desabou, meu pai sempre jogou piadinhas de como eu impedi a carreira da minha mãe, mas nesse dia ele conseguiu, conseguiu ultrapassar todos os níveis e limites. Então naquele dia eu decidi que iria sumir da vida dele, sumir daquele local.

Entrei em contato com a empresa que me agenciava e pedi a minha mãe para que pudesse assinar o termo de autorização para que eu pudesse viver na república da agência, era a melhor opção.

Mas essa foi a pior decisão da minha vida, nos primeiros meses aquele lugar era flores, até que Stella, uma grande amiga engravidou, ela não tinha o apoio dos pais e engravidar parecia o fim para ela. A Stella tentou abortar com alguns comprimidos, era o máximo que dava na época, mas sem sucesso. No final das contas, meses depois ela teve o bebê, ela o criou, mas era tão nítido o quanto ela o odiava, o quanto ela fazia aquilo apenas por "mera" obrigação.

E eu jurei a mim mesma que eu nunca estaria naquela posição, nunca estaria grávida e após ver tudo aquilo conversei com a minha médica e comecei com o anticoncepcional extremamente forte e com consultas de 6 em 6 meses queria garantir que tudo estivesse no lugar certo.

E eu jurei a mim mesma que eu nunca estaria naquela posição, nunca estaria grávida e após ver tudo aquilo conversei com a minha médica e comecei com o anticoncepcional extremamente forte e com consultas de 6 em 6 meses queria garantir que tudo est...

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Dias atuais
São Paulo, capital.
ARABELLA

— Arabella, que porra foi essa? Agora você vai estar na boca do povo. — Bella tentou me acordar, me dar um chá de "acorda pra vida", mas naquela altura do campeonato tudo já estava acabado,

Não era dessa maneira que eu queria que soubessem sobre Ysis, não era dessa forma que eu queria sair na boca da imprensa, eu fui uma pessoa cruel, mas eu não podia dar a Ysis uma mãe ruim, frustrada por ter seus sonhos arruinados. Não podia entregar a ela uma mãe de merda, uma completa idiota. Eu sabia que Yuri estava preparado para aquilo, afinal, era aquilo que ele queria.

Mas eu nunca quis isso, não queria ser um lixo de mãe para uma simples garotinha, uma garotinha que merecia todo amor do mundo. Eu não poderia ser injusta com a pequena, como eu poderia amar algo que eu nunca quis? Esse era o meu maior medo, ser um lixo de mãe, da mesma forma que eu tive um lixo de pai, frustrado pelo nascimento da filha. Uma mãe que tenta esconder que teve a vida acabada, mas não consegue.

"Ah, mas por que você não se deu uma chance." Ysis não precisava de uma chance, Ysis precisava de uma mãe que tivesse certeza da porra que queria. Não podia dar a ela uma vida de incertezas e não queria que ela vivesse um terço do que eu vivi. Yuri e eu conversamos e ele disse que sabia que eu iria, mas voltaria. Mas quando eu vi aquele pingo de gente naquele estúdio, semelhante, a mim, foi como se eu fosse um monstro

Sendo sincera, era assim que eu me via como um verdadeiro monstro que teve coragem de abandonar a própria filha, nenhuma justificativa é suficiente para isso, mas ao menos eu sabia que ela não teria uma infância merda como a que eu tive.

— Loira, podemos conversar? — Yuri disse já entrando no quarto e me encontrou sentada sob a cama, eu nem havia reparado, mas aquele parecia o quarto dele.

— Claro, o que quer?

— Bella, você pode? — Bella relutou, mas saiu após o meu sinal ela assentiu com a cabeça e saiu, mas podia vê-la pela porta estava ali para vigiar e intervir caso alguma coisa ocorresse.

Yuri deitou na cama, ficando ao meu lado, como nos velhos tempos quando eu estava grávida. Podia ver suas mãos inquietas e seus pensamentos pareciam estar carregados. Suas mãos repousaram na minha que estava ali sobre a cama.

— Loira, me desculpe por ela. Vamos dar um jeito, prometo que faremos algo para rever toda a situação. Explicaremos pra mídia e quando você voltar para Londres ninguém vai mais lembrar.

— Eu não sei se quero voltar pra lá, yuri. — Ele congelou e o carinho que fazia em minha mão simplesmente parou. Ele olhou em meus olhos e podia ser loucura, mas seus olhos pareciam sorrir.

— Como assim não quer?

— Yuri, eu, eu to bem aqui, nesses dois dias que estive aqui, me sinto em casa.

Aquela felicidade retornava em seus olhos como se eu estivesse lhe dando algum tipo de esperança, eu estava? Não sei. Eu e ele nunca fomos próximos, nunca nos amamos e a única coisa que nos mantinha juntos era o nosso interesse em ambas coisas que o outro poderia proporcionar.

Yuri se ajeitou a cama, estava tenso, como se estivesse nervoso com algo, como se quisesse falar algo, imediatamente nossas mãos foram afastadas e ele se virou olhando no fundo dos meus olhos.

— Loira, eu sei que nunca fomos uma família. Mas eu acho que na época que moramos juntos... eu... — Suas palavras pareciam ter dificuldade para sair, era como se ele estivesse tentando confessar algo escondido a quatro chaves e que poucas pessoas poderiam saber. — eu gostei de você.

Pude sentir o impacto das palavras, o peso do que ele falava. Ele havia gostado de mim? Realmente? Éramos dois jovens completamente imprudentes, mal, mal sabíamos cozinhar naquela casa.

— Eu não sei explicar, só sei que a cada vez que eu te olhava e via a nossa neném, a minha neném dentro de você, eu torcia para que ela viesse a sua cara, porque sempre quis guardar um pedaço de você. — Ele desabafou e eu continuei em silêncio, engolindo as palavras que me foram ditas. — Só queria entender, uma única vez, porque foi embora.

Eu suspirei, nunca havíamos falado disso, nunca. E eu estava nervosa, nao sabia se confessava meus pecados ou morria com eles no caixão, então, com as mãos tremulas comecei a falar.

— Yuri, eu nunca me vi nessa posição de maternidade. Eu sofri muito na mão da minha mãe e do meu pai. Quando eu descobri que estava grávida, não queria que ela tivesse o mesmo tipo de criação que eu tive. Mas você foi tão... tão algo que eu nunca tive e eu escolhi fazer aquilo, por nós dois. — Eu disse deixando algumas lágrimas escorressem em meus olhos. — Sei que errei com a Ysis, errei profundamente e sei que ela me odiará pelo resto da vida, como as pessoas que amanhã irão saber da noticia. Mas a minha intenção, nunca foi trazer sofrimento a ela, foi apenas lhe proporcionar uma vida que eu nunca tive. Porque minha mãe foi mãe nova e nunca se perdoou por isso. Não queria que ela se sentisse um lixo também. — Eu finalizei dizendo com muitas lágrimas em meus olhos, pude ver os olhos de Yuri também marejados e soube que ali era hora de encerrar nossa conversa.

Me levantei e deixei um beijo na testa de Yuri em forma de carinho e peguei as minhas coisas que estavam no local. Ele pegou minha mão uma última vez e me olhou.

— Não some nem da minha vida e nem da vida dela Arabella.

Eu assenti, joguei um beijo no ar e dei as costas para Yuri seguindo com Bella para a minha casa, com tudo o que foi dito ecoando em minha cabeça.

CHOICE$ - Yuri AlbertoOnde histórias criam vida. Descubra agora