Capítulo 18 - Amigas do Pudim

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Maya olhou feliz para a mensagem. Ela tinha a casa. Não era a casa dos seus sonhos ainda, mas quem sabe um dia. Ela sabia que a casa que havia acabado de adquirir era uma casa que iria valorizar muito com o tempo, e quem sabe poderia vendê-la no futuro para comprar uma melhor. Mas naquele momento estava muito feliz e estava enviando os documentos necessários para seu advogado,

- Está feliz? - perguntou Carina.

- Muito - disse sorrindo - Amo Amelia, mas as vezes eu sabia que a incomodava.

- Acho que tava mais você incomodada que não podia me agarrar no balcão da cozinha - disse Carina rindo.

- É.. tem isso também.

As duas conversaram mais um pouco e foram para casa da médica, onde fizeram amor.

Enquanto Carina dormia, Maya ficou acordada e encarou a linda morena, ela não podia estar mais feliz, tinha uma namorada linda, o emprego dos sonhos e havia acabado de adiquirir uma casa e queria aprofundar mais ainda sua relação com Carina, mas sabia que ainda não podia. Isso podia machucar a linda italiana.

Queria chamar Carina para morar com si, mas sabia que precisava que Carina conhecesse todos os seus lados, mesmo que isso a assustasse. Não que Maya fosse um monstro, ou algo do tipo, mas ela tinha um lado que não gostava de mostrar, um lado que às vezes aparecia e que ela não podia controlar. Ela queria que esse lado dela, o lado sério, o lado que era dono da medalha olímpica fosse embora, mas não sabia como fazer, sabia que ele estava adormecido dentro de si, mas que iria uma hora acordar.

Queria vencer esse seu lado, queria que ele fosse embora, mas ela não fazia a menor ideia como fazê-lo, porque não fazia a menor ideia de como ele vinha. Ela se lembrava que as últimas vezes que esse lado veio foram na época das olimpíadas e quando seu irmão morreu, e os dois eram momentos muito distintos e Maya não sabia dizer como esses dois momentos poderiam tê-la puxado para tão baixo. Claro que a morte do irmão era plausível, mas ao competir? Ela não sabia a resposta, ela não entendia o que tinha de comum nesses dois momentos para tê-la transformado de uma pessoa alegre para uma pessoa triste e isolada.

Ela precisava entender isso, vencer isso, e aí sim, poderia dar mais um passo com Carina. Mas até lá, teria que manter a relação como estava. Deu um beijinho na testa da namorada e dormiu.


No dia seguinte as duas acordaram cedo, Carina precisava pegar o plantão e Maya aproveitou a deixa para poder se levantar e correr, já que a tarde precisaria ir até seu advogado e à imobiliária assinar os papéis. Se tudo desse certo, em uma semana ela poderia entrar na casa e poderia fazer com que seus móveis, há meses no depósito, finalmente fossem usados novamente. Ela estava com saudade do seu sofá e de sua cama king size.

Depois de se despedirem Maya saiu para correr, correu um pouco e depois foi para casa de Amelia, que já não estava no local, tomou um banho, tomou café e foi até à imobiliária.

Doeu na alma da bombeira assinar os papéis para a compra da casa. A casa estava bem dentro do seu orçamento e dentro das suas previsões de gastos, mas ao ver tantas casas no número não pode deixar de sentir uma coceirinha no coração, mas tudo valeria a pena, voltaria a ter seu espaço.

Depois de resolver tudo que precisava mandou uma mensagem para Carina chamando-a para jantar e dizendo que ia pegá-la depois do plantão. Carina não ousou recusar.

A noite as duas se encontraram, Maya parou o carro em frente ao hospital e esperou Carina sair, que como sempre estava incrivelmente linda, apesar dos olhos cansados, mas a morena tinha uma feição triste no rosto, o que chamou a atenção de Maya, Carina não era de ficar triste ou coisas do tipo.

-Está tudo bem, meu amor? - Perguntou Maya, Preocupada.

- Não muito, se importa de pedirmos algo em casa e ficarmos lá? - perguntou Carina.

Maya só concordou e tocou no rosto da namorada, mas antes de que pudesse dar um beijo na sua italiana percebeu que já havia um carro atrás e precisou dirigir. Ela dirigiu em silêncio, enquanto via a namorada perdida em pensamentos. Era a primeira vez que via Carina assim, em silêncio depois de um plantão, ela sempre ficava animada e gostava de conversar.

Então chegaram no apartamento da morena. A italiana entrelaçou as mãos de Maya e subiram juntas as escadas até o andar da médica, que ainda continuava um pouco calada.

- Quer tomar um banho enquanto eu peço algo para comermos? - perguntou Maya, assim que entraram no apartamento. Para alegria de ambas, Andrea havia sido escalado para o turno da noite e só chegaria na manhã seguinte.

- por favor - concordou Carina já tirando parte da roupa ainda na sala e deixando em cima do sofá.

- Algo em mente? - perguntou Maya se aproximando da namorada e fazendo-a parar por alguns instante e olhar a loira.

- Pode ser uma salada, não estou com muita fome.

Maya concordou e fez um carinho leve no rosto da namorada.

- Se quiser conversar, estou aqui, tah? - Maya sabia que havia acontecido algo durante o turno, provavelmente com algum paciente de Carina, e não iria forçá-la a falar se não quisesse.

Carina deu um sorriso fraco e selou rapidamente os lábios de ambas.

- Eu sei, e quero, mas deixa eu tomar um banho, tudo bem? - pediu Carina.

- Com certeza, leve o tempo que quiser, vou pedindo sua comida.

- Obrigada, Maya - disse Carina e entrou no banheiro.

Maya estava sem saber muito como agir, ela nunca tinha visto Carina triste pós plantão, então decidiu dar o tempo que a namorada precisava, mesmo que quisesse ajeitar tudo o mais rápido possível para ver um sorriso no rosto da morena. Daria o tempo que ela precisava.

A bombeira então pegou o celular e fez o pedido de duas saladas, mesmo que não gostasse muito da mesma, iria acompanhar sua namorada. Depois do pedido abriu uma garrafa de vinho e colocou em duas taças, e isso a lembrou do primeiro encontro que elas tiveram naquele apartamento, depois do banho de chuva e isso fez a loira sorrir. Havia se passado pouco mais de quatro meses desde aquele encontro, e ela não poderia ter pedido pessoa melhor para entrar na sua vida, já que finalmente Maya conseguia ver que sua vida estava se encaminhando, estava evoluindo.

Aproveitando também, Maya ligou um som ambiente e pegou dois cobertores fofos além de duas mesinhas para comerem no sofá confortavelmente. E ao finalizar sua arrumação, Carina saiu vestindo o mesmo roupão felpudo da primeira noite delas e foi em direção a Maya e apenas a abraçou.

Maya não esperava pelo abraço, mas assim que viu Carina se jogar em seus braços a recebeu e a apertou firmemente com seu corpo. Carina não chorou, apenas deixou seu corpo ficar preso naquele que ela considerava o lugar mais seguro e confortável do mundo, se ela tivesse opção, nunca iria sair do abraço. Depois de vários minutos assim, Carina finalmente se afastou.

- Sente aí no sofá, meu amor - disse Maya e a conduziu ao sofá - Vou pegar uma taça de vinho para você.

E foi o que ela fez, ela voltou para o sofá com duas taças de vinhos e entregou uma a sua namorada, e ao sentar no sofá puxou as pernas da morena para seu colo, para poderem sentarem ainda mais perto uma da outra. Carina ficou por uns momentos com o olhar período e Maya deu o tempo que ela precisava, apenas fazendo um carinho sem segundas intenções na perna da moça.

Então finalmente falou.

- Eu perdi uma paciente hoje - disse Carina - uma mãe, eu já perdi pacientes antes, mas essa eu acompanhava desde o inicio da gravidez, não foi só um parto que eu fiz no plantão. Foi de uma paciente minha.

- Eu sinto muito, meu amor, sinto muito mesmo.

- Está tudo bem, vai passar logo, é que eu fiquei triste, ela me contou todos os planos que tinha para ela, o bebê e a esposa. Agora a esposa está sozinha, e também está desolada.

Maya tocou no rosto de sua namorada, fazendo um carinho, tentando confortá-la. Ela sabia que falar frases como 'eu sei que você deu seu melhor' ou coisas do tipo, não era a melhor coisa para se dizer, então apenas ficou ali, presente para a namorada.

- Eu sei que nunca é fácil, mas eu estou aqui com você, okay - Disse Maya - sempre vou estar com você quando precisar.

Ouvir isso fez Carina se sentir mais confortável, em nenhum momento Maya afirmou que ela tinha feito de tudo, ou tinha falado que coisas assim aconteciam, apenas afirmou que estava ali com ela, validando todos os sentimentos de culpa e tristeza que assolavam Carina naquele momento. E era isso que a italiana precisava, de alguém que simplesmente estivesse com ela e deixasse ela sentir o que estava sentindo.

- Eu sei, muito obrigada por isso.

Aquela noite foi tranquila. Carina ficou mais manhosa e gostou de estar perto assim da namorada. Elas comeram a salada e a Italiana até conseguiu brincar levemente que Maya estava comendo uma salada, o que deixou a bombeira mais relaxada, sabendo que em breve aquela angústia de sua namorada iria embora. Até porque, Maya sabia como era a angústia de tentar salvar alguém e não conseguir.

As duas dormiram juntas, coladas com o corpo uma na outra, e quando o despertador tocou pela manhã, Carina já estava se sentindo bem melhor, As duas se despediram com palavras de carinho e cada uma seguiu para o seu dia de trabalho.

Depois da noite com a namorada, Carina se sentiu mais relaxada, e voltou ao que era no dia seguinte e estava feliz por voltar a trabalhar. Ela gostava de trabalhar e gostava ainda mais de poder ver sua namorada depois dos plantões.

Carina estava feliz que sua namorada tinha comprado uma casa, mas elas não haviam retornado ao assunto de morar juntas, e Carina só iria morar junto de sua namorada se ela pedisse isso, mas enquanto isso não ocorresse não se importaria de deixar uma peça ou outra lá, mas não iria deixar seu apartamento ou dormir na casa de Maya sozinha sem a bombeira lá.

A verdade é que Carina queria tudo com Maya, mas sabia que ela tinha um pensamento um pouco acelerado, e pelo visto Maya precisava de mais tempo e confiança para dar passos importantes. Se Maya tinha 'fugido' só por ter percebido que gostava dela, a médica poderia imaginar que poderia levar um pouco mais de tempo para dar outros passos. Tudo bem que ainda se conheciam a pouco tempo, 4 meses era muito pouco, então elas tinham tempo.

E tinha outra coisa também que passeava na mente da obstetra. Eram os pais de Maya. A conversa que Carina tinha iniciado com o intuito de entender a família da loira para saber se ela queria filhos, acabou demonstrando que a forte bombeira tinha crescido em um lar abusivo, e que a mesma não tinha percebido isso, e provavelmente havia cicatrizes por debaixo daquela força toda. E a Italiana queria descobrir essas cicatrizes, queria cuidar da menina ferida que provavelmente existia em Maya, mas que a forte bombeira protegia e não deixava ninguém ver. Assim como Carina era vulnerável com Maya, queria ver esse lado dela, o lado que ela tinha visto rapidamente quando o telefone tocou durante as férias, mas que logo a loira conseguiu prender e esconder. Ela queria ver todos os lados de Maya, só não sabia como.

Ela só conseguiria ver isso, se um dia maya deixasse, não ia adiantar forçar.

Tendo isso em mente, Carina afastou um pouco Maya do seu pensamento, não que quisesse, e voltou sua mente para o trabalho. Havia consultas a serem feitas e bebês para serem entregues.

Naquele dia depois do almoço, Carina estava em sua sala quando alguém bateu na porta, por um segundo achou que fosse Jenny, mas desde o dia que tinha contato para a mulher que tinha namorada, a interna parou de entrar na sua sala e conversar tanto com ela. A obstetra então pediu para a pessoa entrar e se surpreendeu ao ver a loira.

King entrou segurando dois potinhos de pudim de chocolate e sem pedido algum sentou-se na cadeira em frente a Carina e entregou a ela um dos pudins com uma colherzinha. Como se já tivesse o costume de fazer isso, King abriu o próprio pote de pudim e deu uma colherada.

- Eu peguei os pudins lá da cozinha dos pacientes, pode comer, até onde eu sei não está envenenada - disse King com um breve sorriso.

Carina se surpreendeu ao ver King fazer o que fez, mas não se sentiu ofendida ou algo do tipo, sabia que King era assim por todos os relatos de Maya e sabia que era o jeito dela ser.

- Teriamos um grave problema se fosse. Obrigada. - Disse Carina e então abriu seu próprio pudim e começou a comer - Tudo bem?

- Ah sim, tudo certo - Disse King depois de mais uma colher de pudim - Deu uma brecha lá na emergência. Aquela Bailey falou que era tranquilo, mas devia ter desconfiado, vou pedir um aumento de salário - disse ela revirando os olhos e Carina riu- Como você está?

- Sobre o aumento de salário, boa sorte, sobre estar bem: Estou bem - disse Carina, não sabendo mais muito como continuar a conversa. Ela só havia encontrado King uma vez até o momento e tinha sido da presença de Maya, tirando algumas vezes que se encontraram no corredor ou na emergência por conta de pacientes.

King parecia estar se divertindo com a situação, enquanto comia olhava a obstetra.

- Pode ficar tranquila, Carina, não estou te avaliando ou algo do tipo, só quero te conhecer melhor. Tudo que vi até agora gostei. E se está se perguntando se tem minha aprovação: você já a tem. Não que você precise, claro - disse e deu um leve sorriso.

- Obrigada - disse - É que eu não sei muito como agir com você.

- Então vamos começar do início. Oi, meu nome é Charlotte King, minha idade é um mistério, tenho 2 filhos, sou casada com o Cooper. Tenho duas melhores amigas que você conhece bem. E você?

Carina sorriu e entrou na brincadeira.

- Me chamo Carina Deluca, sou italiana, tenho 36 anos, tenho um irmão mais novo e tenho uma namorada chamada Maya.

- Interessante sua vida - disse King - Sabe Carina, deixa eu te contar uma coisa, quando Amelia me ligou dizendo que Maya estava apaixonada por uma mulher, eu não dei muita fé, não. Mas quando ela foi até minha casa, chegando meia noite, eu pensei " meu deus, minha amiga ta muito ferrada, quem é essa mulher e o que fez com minha Mayazinha?!"

- Mayazinha? - perguntou Carina rindo.

- Ah, sim, minha Mayazinha, tenho que proteger ela de homens e mulheres que só querem usar o corpo forte dela - disse King rindo - Mas sério, quando eu vi como ela estava, percebi que ela realmente estava gostando. Ela não me falou muito de você, mas Amelia me falou que você era uma pessoa rara. E ela tinha razão. Pra mim ficou óbvio porque Maya se apaixonou por você, e estou realmente feliz que ela tenha se apaixonado por uma pessoa incrível. As pessoas aqui do hospital só falam bem de você.

- Você andou perguntando de mim para as pessoas no hospital? - Perguntou Carina, mas não estava ofendida por isso ou algo semelhante.

- Claro, se seu irmão começasse a namorar alguém, você não ia querer saber informações da mulher, ou homem, não sei a sexualidade do italiano.

- Justo - concordou Carina.

- Mas agora eu quero saber de você, eu já ouvi a Maya falando de você para mim, agora eu quero entender mais seu lado em relação a ela, e pode ter certeza, eu não sou como a Amelia, minha boca é um túmulo.

Carina encontrou os olhos de King, e soube que ali também poderia criar uma amizade. A obstetra podia ver claramente que King estava ali não só para entender e proteger sua amiga, como para criar laços com a mulher que agora tinha o coração de sua amiga.

- Eu amo sua amiga - disse Carina.

- Eu sei - King trocou um sorriso confidente com Carina - está estampado na sua cara.

- Eu quero tudo com ela.

- Eu também sei disso - Disse a loira - Diga-me se eu estiver errada, mas você é daquelas que quer casar, criar uma família e ter um grande quintal para criar algumas crianças bilíngues, não?

Carina não pode deixar de rir da última parte. Se ela tivesse... Carina se corrigiu, Quando ela tivesse filhos, ela com certeza faria as crianças serem bilíngues se nascessem nos EUA.

- Algo do tipo - Disse Carina dando de ombros.

Charlotte então comeu sua última colher de pudim.

- Eu torço por vocês - disse King - Sabia?!

- Você e Amelia. Obrigada - disse Carina - King... - Carina começou a falar, mas deixou sua voz sumir.

- Eu sei que você tem perguntas sobre a Maya, e eu sei as respostas das perguntas que você quer fazer, mas você, tanto como eu, sabe que eu não posso respondê-las. O que eu posso te dizer é: Maya te ama, e eu nunca vi ela assim por mulher nenhuma, por pessoa nenhuma. Eu sei que as perguntas que você quer fazer, tem respostas complicadas que nem mesmo Maya as tem, mas pela primeira vez na minha vida, eu vi Maya tentando achar respostas para essas perguntas, mesmo que nem ela perceba isso. Ela quer se entender pra poder se abrir mais para você, sabia disso?

Scrubs on Fire - MarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora