Tatiana

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Capítulo 36
Tatiana Genovese 
Acordei lentamente, um borrão de luzes brilhantes invadindo meus olhos

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Capítulo 36
Tatiana Genovese

Acordei lentamente, um borrão de luzes brilhantes invadindo meus olhos. Minha cabeça estava latejando, pulsando em sincronia com as batidas aceleradas do meu coração. Tentei movimentar o corpo, mas uma onda de dor percorreu cada centímetro de mim. A realidade começou a se reconstruir aos poucos, e minha mente foi lembrando dos fragmentos: o acidente de carro, Lucca me dizendo que Marco fez isso intencionalmente para me ferir, lembro dos últimos seis dias e de toda a merda que está subindo para a superfície.

Uma mistura de sentimentos invadia meu peito, desde a tristeza profunda até a raiva pulsante. Por que aquilo tinha que acontecer comigo? Por que Marco fez isso? Por que eu estava ali, naquele hospital, machucada e magoada?

As perguntas se acumularam em minha mente, mas as respostas pareciam estar tão distantes, inalcançáveis. Enquanto lutava para entender a magnitude do que tinha acontecido, pude sentir a presença da minha irmã Kate sentada ao meu lado em uma poltrona, mas resolvi permanecer calada com meus próprios pensamentos.

Enquanto a dor física permanecia, a dor emocional se misturou à minha angústia. Eu me sentia perdida, como se uma parte de mim tivesse sido arrancada à força. Eu tinha que encontrar a força dentro de mim para lidar com a minha merda, começar a me curar não apenas fisicamente, mas também emocionalmente.

Irina, George e Roxy disseram tantas vezes que eu iria acabar me machucando se seguisse com esse sentimento por Marco e no final elas tinham razão.

Mesmo com as lágrimas embargando minha visão, eu sabia que precisava ser forte. O caminho do êxito é cheio de pedras e espinhos, entretanto, eu vou passar por cada obstáculo e vou triunfar. E quando tiver poder suficiente, vou me vingar de todos eles, um por um.

— Dói? — Questionou Kate, sentada ao lado da minha cama.

— Um pouco — Respondi, me sentando na cama.

Kate se levanta, pega uma garrafa de água e se aproxima de mim com um sorriso nos lábios.

— Aqui — diz, me entregando dois comprimidos pequenos. Em seguida, a garrafa de água já aberta.

— Que remédio é esse? — Questionei, estranhando o fato de ser comprimido. Desde que cheguei ao hospital, toda a medicação que tomei foi administrada na veia.

— O doutor veio enquanto você dormia e deixou os comprimidos e disse para tomá-los se houver dor — diz Kate.

Observo os comprimidos na palma da minha mão antes de engolir com um pouco de água.

— Bom, irmãzinha, agora vamos juntas esperar o remédio fazer efeito — comentou Kate. Franzindo a testa, encaro minha irmã que sorri para mim.


[...]



Encarando meu reflexo no espelho, vejo lábios rachados, cabelos desgrenhados, arranhões por todo o rosto, olhos fundos e com olheiras.

Sinto uma lágrima escorrer dos meus olhos, molhando minhas bochechas, e com ela vêm outras. Desvio o olhar do meu reflexo, recusando-me a olhar como estou patética.

Sorrio, mas não é de felicidade. Sinto um bolo se formando dentro do meu peito, uma sensação angustiante, um misto de decepção, tristeza e vergonha.

Meus lábios tremem, aperto os dentes com tanta força que sinto doer, enquanto engulo a seco, impedindo que um soluço escape.

— Eu avisei você, irmãzinha, que Marco está apaixonado pela cunhada e que estava usando você para uma foda — Ecoa a voz da minha irmã do outro lado da porta.
— Eu entendi, Kate — digo em forma de um sussurro.

— E provavelmente não foi nem tão bom assim porque ele te descartou na manhã seguinte...

Aperto os lábios, reprimindo as palavras que quero gritar. Meus olhos estão fechados, mas lágrimas escorrem como de uma cachoeira.

Meu corpo todo dói, minha cabeça latejando, braços e pernas com arranhões. Contudo, nada dói tanto quanto a dor que estou sentindo por dentro, na alma.

É como se algo estivesse esmagando meu peito com tanta força que eu mal consigo respirar. Dói tanto que quero gritar, mas a voz não sai. Dói tanto que nem mil punhais cravados na minha carne doíam tanto.
Cenas de dias atrás se repetem na minha mente, de manhã quando acordei na cama do Marco, arrependida pra caramba por ter bebido e transado com ele, mas ao mesmo tempo feliz por ter sido com ele. Alguém que julgava especial, alguém com quem sonhei muito com esse momento e tudo parecia perfeito demais, tão perfeito que senti medo de que tudo fosse só um sonho e que em algum momento tudo se transformasse em um terrível pesadelo.

Marco foi o primeiro homem com quem eu transei por livre e espontânea escolha. Que eu desejei aquilo e dessa vez não fui tomada à força. E eu queria muito que as coisas terminassem bem...

Flashback:

— Eu a via distante, te observando de longe e agora que posso te ver de perto, sentir seu gosto, provar seus lábios, ouvir seus gemidos, eu sei o quanto sou sortudo por te ter em meus braços, mio amore — Ele me aperta contra seus braços e assim ficamos.

Assim que a porta se fecha, abro os olhos, encarando o teto. Um sorriso pinta em meus lábios. Não é um sonho, é real. Eu estou mesmo aqui com Marco, o meu crush de infância. E foi perfeito demais.

— Ai, meu Deus! — Murmurei eufórica. — Está mesmo acontecendo? — Puxando o travesseiro para perto, sentindo o aroma de Marco impregnado na peça.

Sorrio, me sentindo feliz porque, afinal, aparentemente algo deu certo para mim. Ultimamente, tudo está de pernas para o ar, de cabeça para baixo, e eu me sinto em uma montanha-russa.

Afasto esses pensamentos para longe, empurro a coberta e, com dificuldade, me levanto ainda me sentindo um pouco tonta por causa das doses de vodca que tomei na madrugada. Procuro meu vestido pelo quarto e o encontro rasgado na frente dos seios, mas ainda assim decido vesti-lo e colocar uma camisa branca de Marco para ficar mais apresentável. Assim faço e decido ir procurar por ele, mas antes pego o pen-drive e a caixinha com o colar que ele me deu.

Sigo pelo corredor. O apartamento é modesto, todo decorado em tons sóbrios, o piso de madeira dá uma elegância e ao mesmo tempo um ar sério, assim como meu príncipe certinho.

Sigo até o final do corredor ao ouvir vozes. Me aproximo um pouco mais para conseguir escutar melhor. Era Gabriel e Marco.

— Você não está apaixonado pela esposa do nosso irmão? Então, se ele decidir se engraçar com a sua princesinha, estará tudo em família, não terá drama... talvez role até uma troca de casal...

Sinto uma sensação estranha queimando no meu peito. Ciúmes, talvez? Decido não ficar para ouvir. Também seria vergonhoso encarar Gabriel. Faço menção de avançar para a porta e ir para casa, mas paro quando Marco começa a falar.

— Isso não vai acontecer! Em primeiro lugar, porque Tatiana não é minha princesinha. É só mais uma com quem transei, uma foda a mais. Não tem sentimentos e ela não significa nada para mim, só uma boceta a mais.

O sangue congela nas minhas veias. Já teve a sensação de pisar no paraíso e, no segundo seguinte, ser arrastada e lançada ao inferno? Pois bem, era assim que me sentia.

Aperto a caixinha com força nas mãos, sentindo a vergonha e a humilhação me atingindo com força. O gosto amargo da decepção, tristeza e fúria.

Ele é um Ferrari, o que esperava de um maldito Ferrari?

Meu peito sobe e desce rapidamente, reprimindo as lágrimas que se formam em meus olhos, juntando meus cacos e, com o resto da dignidade que ainda me resta, jogo a caixinha azul no chão. E sigo para a saída, batendo a porta com tanta força.

Saio dos meus pensamentos tortuosos e volto a me concentrar no meu reflexo no espelho. Pisco algumas vezes, enxergando tudo em um borrão. Meu corpo parece querer desmoronar, digo de forma literal. Me sinto tonta, nauseada, fraca.

— Você também não me ouve — diz Kate. — Você é bonita, irmã, mas é só isso. Um corpo formoso onde todos os homens querem se saciar como animais, assim como Denaro Ferrari, Ziven e todos os outros que usaram e vão usá-la, porque você só serve para isso, sua estúpida…

Mais lágrimas caem dos meus olhos.

— Cala a boca!!! — Grito, mas em um som engasgado.

Minha mente está me pregando peças, pois não sei ao certo o que é real e o que é fruto da minha imaginação.

— Eu não sou isso, não sou, não sou… — murmurei, encarando meu rosto através do espelho.

— Ah, você é. Mamãe foi embora e deixou você para morrer, sabe por quê?
— Por quê? — Meus lábios tremem, minhas mãos estão trêmulas, meus olhos estão fixos no espelho e, por uma fração de segundo, parece que a Tatiana do espelho está rindo. Ela está rindo de mim, enxergando a minha miséria.

Eu tenho tudo: dinheiro, carros, viagens, festas. Contudo, o que me falta não se compra com dinheiro. Amor, é isso que me falta.

— Porque ela não te amava. Ela te odiava, por isso ela se foi levando a filha que ela ama.

— Mentira! — Eu rosno em meio aos soluços do meu choro.

— Nem sua mãe, a mulher que te deu a vida, que deveria te amar incondicionalmente, quis você. Como os outros poderiam querer? — Ecoa o som da sua risada — Como pode ser estúpida em pensar que outra pessoa pode te amar? Você é só um brinquedo quebrado jogado em um canto porque não tem serventia, sua piranha inútil.

— Pare!!! — Grito, sentindo a fúria crescer em mim, acertando os dois punhos no vidro do espelho. Meu peito sobe e desce freneticamente, como se estivesse correndo uma maratona. Consigo ouvir meus batimentos. Pisco algumas vezes, recobrando a lucidez. O espelho à minha frente está em pedaços, algumas partes cobertas por algo vermelho, espesso e parecido com sangue.

Dou um passo para trás, percebendo que é o meu sangue entre os cacos. Minha atenção cai sobre minha mão, percebendo que há alguns ferimentos, vidros na pele e sangue escorrendo dos cortes.

— Por que isso não dói? — murmurei para mim mesma — Deveria doer, certo?

Mas eu sei a resposta, nenhuma dor física será mais forte do que a dor que sinto por dentro, a dor que carrego cravada nas minhas entranhas, a dor que sinto desde que me conheço por gente.

— Será que nunca terá um fim? — Olho para a porta que foi aberta, enxergando Kate que está ali parada, me olhando.

— O que? — Seu tom é vazio.

— A dor? Será que ela nunca vai passar? — Meu tom é baixo.

— Claro que vai, querida — ela se aproxima, suas mãos tocam as minhas bochechas — Quando você morrer.

Dou um passo para trás, afastando suas mãos. Encaro seu rosto, estupefata com suas palavras.

— Você quer que eu morra? — Minha voz sai esganiçada, carregada de dor.

Sabe quando você percebe que nada mais faz sentido? Não importa o quanto eu lute, o quanto eu me esforce, eu ainda me sinto aquela criança rejeitada, deixada para morrer por minha própria mãe.
É como dizem: “O que esperar do mundo se o diabo era um anjo?”

— Eu não, mas é a única forma da dor passar. Pensa comigo, você viveu muito. Era para ter morrido no dia em que nasceu, no dia em que mamãe te abandonou como um saco de lixo no terraço desse mesmo hospital...

— Foi aqui? — Minha voz sai em um sussurro.

— Foi. Vê se não é o destino. — As mãos de Kate tocam meu rosto. — Te dando a chance de colocar um fim nessa dor. Era para você ter morrido naquela noite, mas agora está tendo a chance de cumprir seu destino, que é morrer aqui.

— Não... — digo, afastando suas mãos.

— Pensa comigo, ninguém deveria sofrer o que você sofreu. — Dou alguns passos para trás, me escorando na parede. — Você foi abandonado por sua mãe, que levou sua irmã e te abandonou como um saco de lixo inútil. Papai só te vê como a continuação dele. Luke, nosso irmão, sofre tanto por sua culpa. Tem a Bárbara, que precisa olhar para a sua maldita cara todos os dias e lembrar que é filha da mulher que o marido ama.

— Não é verdade...

Minhas lágrimas escorrem sem parar, minhas pernas fraquejam, meu corpo protesta querendo ceder à exaustão que sinto, mas luto para não desmoronar.

— Axel e sua família morreram por sua causa. Ricardo te idolatra, mas sabemos que ele quer só o seu corpo, assim como Lucca e Marco. Todos querem só o seu corpo porque isso é tudo que você tem...

— Pare! Por que está me dizendo isso? — Questionei confusa, tentando cobrir meus ouvidos com as mãos, mas falhei miseravelmente, pois estou sem forças.

— Porque quero que você pare de sofrer.

Fecho os olhos, sentindo as lágrimas caindo sem parar. A dor no meu peito parece aumentar a cada lufada de ar.

Me sinto cansada, exausta, sem forças e vontade de lutar. Sem vontade nenhuma de seguir com essa dor que nunca passa.

Pondero as palavras de Kate e ela tem razão. Mamãe me abandonou, Luke sofreu e foi expulso de casa porque perguntei a mamãe por que um homem tem ereção ao abraçar uma garota por trás. Deve ser realmente difícil para Bárbara criar a filha de Abigail. Aí vem Ricardo, Marco e Lucca, que só me usaram, cada um de uma forma, mas sempre me usando e me descartando como se eu fosse descartável.

Kate tem razão, a única forma de acabar com a dor é pôr um fim na minha vida.

Tento me mover, mas meu corpo está fraco. Minhas pernas estão moles como gelatina, frágeis e mal sustentando o meu peso. Minha vista está turva e a mente parece perdida, enevoada. Mas sei o que preciso fazer, tudo começou aqui a dezoito anos atrás e terá um fim hoje.

 Mas sei o que preciso fazer, tudo começou aqui a dezoito anos atrás e terá um fim hoje

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