irina

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Irina Dragon ⭐️

Empurro a mala pelo corredor vazio, rumo à sala em direção à porta principal. Ainda está escuro lá fora, são por volta das 4 da manhã, mas prefiro ir assim sem despedidas.

Estou irritada com Felipa o suficiente para ser rude se encontrá-la, então decidi que é melhor me acalmar primeiro antes de voltarmos a conversar novamente.

Eu compreendo o lado de Felipa, sei tudo que ela passou, assisti seu sofrimento e como ela voltou da temporada que esteve presa com Ziven. Melhor do que ninguém sei o dano que Ziven é capaz de fazer na vida de uma garota. Roxy, Aby, eu, Georgina, Felipa e Tatiana, fomos todas vítimas do mesmo demônio, todas marcadas pelo fogo em brasa, todas com as mesmas cicatrizes, cicatrizes que não têm cura.

E saber que a criança está em posse dele é como reabrir uma ferida e jogar sal nela. Temo que seja mais uma vítima. Se for mesmo uma menina, uma menina nas mãos do Ziven, Felipa afirma com convicção que é Kalina.

Por isso, não a julgo por suas escolhas, mas a julgo por não ter contado antes, por não ter me contado, enquanto assistia minha sobrinha morrendo lentamente em vida. Tatiana era uma doce menina, cujo sorriso iluminava tudo ao seu redor, uma menina doce, carinhosa, que amava balé, música, doces e sonhava em ser médica para salvar vidas e hoje, por ironia do destino, ela tira vidas.

Assisti seus olhos perdendo a vida, a doce menina ir se apagando, murchando igual uma flor e lentamente ir perdendo a vontade de viver, de sonhar, a adolescente sorridente e cheia de sonhos se tornando aquilo que ela mais odiava, a cópia fiel da mãe que a abandonou em um hospital quando nasceu.

Não é culpa de Felipa, pois sei que ela sofreu igual, mas me dói saber que ela não confiou em mim para dizer que a filha de Tati estava com Ziven.

Há um pouco mais de um ano, Tatiana se tornou El Lobo, inicialmente para eliminar os possíveis desafetos do cartel que estávamos construindo, mas aí Roxy, sua madrinha, descobriu e propôs um acordo a Tati, e movida pela raiva, ódio e a vingança aceitou.

Obviamente, fui contra, mas assim como Abigail, Tatiana não escuta ninguém, somente aquela maldita voz dentro da sua cabeça que vive por colocá-la em problemas, e nesse momento ela está em um maldito problemão, porque agiu como a porra de uma filha da puta. Eu avisei por diversas vezes, mas ela me deu ouvidos? Não. É claro que não.

Eu iria embora de qualquer maneira, está na hora de me dedicar mais à minha família, Georgina, Tatiana e Abigail. Então, essa merda toda com Lucca e Felipa só adiantou as coisas para mim.

— Já está indo? — Ecoou a voz de Domenico vindo da escuridão da sala.

— Estou — Digo, seguindo até a porta da entrada, mas parei ao me lembrar de algo que escutei há pouco. — Domenico?

— O quê? — Seu tom vazio.

A sala cheira a bourbon e a cigarro, o cômodo está um breu, iluminado somente com a luz da lua. Não me sinto confortável em estar aqui e com ele.

— Ouvi o que você disse à Felipa — Comento — Sei que não é da minha conta, contudo preciso te perguntar se você está…

Me cortando, ele começa.

— Não estou interessado na sua sobrinha, Irina, se é isso que quer saber — Ecoa o som de um suspiro pesado — Eu amo aquela filha da puta que está no quarto. Sou louco por minha mulher. Falei o que falei para fazê-la sentir na pele o que sinto por causa dela, mas não foi real.

Solto um suspiro aliviado ao saber que Domenico não será um problema para Tatiana, que já tem muitos para lidar, graças às suas escolhas de merda.

— Não vou negar — Continua Domenico, me fazendo franzir a testa, imaginando que não vou gostar do que ele tem a dizer — Que sua sobrinha me desperta curiosidade. Ela é um enigma que tenho interesse em desvendar.

— Curiosidade? — Indago cautelosa.

— Ela parece frágil, doce, o tipo de garota que desperta o instinto de proteção dos homens. Felipa sabe se cuidar, ela é dura, letal, enquanto que Tatiana demonstra doçura e gentileza, mas…

Ele começa, mas se cala por um longo minuto.

— Mas? — Incentivo a prosseguir.

— Mas estava refletindo, uma garota que passou por tantas coisas e sobreviveu a todas elas — Domenico gira os calcanhares ficando de frente, enxergando seu rosto através da pouca iluminação — Não pode ser sorte, não é? Ninguém tem tanta sorte assim, ou tem? — Indagou em um tom vazio que me faz estremecer.

— Onde quer chegar? — Questionei firme.

— Sabe aquela voz dentro da sua cabeça que sussurra atenção?

— Seja claro, Domenico, não tenho tempo para seus jogos de merda — digo entre dentes, perdendo o resto da paciência que ainda me restava.

— Vou descobrir o que a dolce ragazza esconde, vou descobrir suas reais intenções, guarde minhas palavras — Declara Domenico.

Um riso de escárnio escapa dos meus lábios. Um sorriso pinta em meu rosto.

— Vou te dar um conselho, Domenico Ferrari…

— Não preciso dos seus conselhos — alega, em um tom rude.

— Mas darei mesmo assim — meu tom goteja veneno — Ao invés de se preocupar com uma garota que não é nada sua, que sofreu e passou pelo inferno nas mãos do demônio do seu pai, um maldito Ferrari, deveria se preocupar em descobrir mais sobre sua esposa, em protegê-la e cuidar dela… Ela deve ser sua prioridade e não a mulher de outro homem, a não ser que tudo que me disse há pouco seja mentira e você esteja interessado nela…

Ele me corta e começa em um tom áspero.

— Eu amo Felipa, porra!

— Então, não se meta com a minha sobrinha. Conheço o seu segredo, e nós dois sabemos que a qualquer momento a merda virá, e virá com força. Então, dedique-se a cuidar do seu casamento e da sua esposa, e não cruze o caminho de Tatiana, se você não quiser que eu conte a Felipa toda a sujeira que você, Lucca e Matteo têm mantido embaixo do tapete pelas costas dela. — Meu sorriso cresce — Acredite quando digo que você tem muito a perder, então cuide do seu casamento e da sua esposa, e deixe a minha família em paz.

Girei nos meus calcanhares, segui o meu caminho e girei a maçaneta, abrindo a porta.

— Não me ameace, Irina — diz Domenico, entre dentes — Posso ser muito pior do que você imagina.

— Não é uma ameaça. Entenda isso como um aviso de alguém que se preocupa com a Felipa. Ela passou por muitas coisas ruins. Seja o suporte que ela precisa e não o peso que ela carrega. Foque sua energia em manter Ziven longe da sua mulher e não perca tempo com a minha sobrinha, porque ela não é problema seu. E mantenha seus cachorros na coleira, bem longe de Tatiana. Mesmo sabendo que muito te interessa essa aliança, tanto financeiramente quanto pelos territórios que viriam junto, como principalmente ter Marco dedicando total atenção a outra mulher que não a sua, mas Ricardo é tão possessivo quanto você. Eu diria muito pior, ainda tem Lucca. Então, desconsidere essa possibilidade se não quiser mais mortos na sua família. — Digo por fim, saindo do apartamento, fechando a porta atrás de mim, mas ainda consigo ouvir os palavrões de Domenico.

Saio do elevador, do prédio e sigo rumo ao meu carro que está estacionado do outro lado da rua.

— Qual é o plano? — Ecoou uma voz masculina, familiar, logo atrás.

Olhei por cima dos ombros e um sorriso surgiu em meus lábios.

— Não pensou que iríamos deixar toda a diversão para vocês, né? — Indagou Georgina, ao lado de Tristan.

Girei meus calcanhares, ficando de frente para ambos.

— Sabem que temos chances de não voltar dessa missão, não sabem? — Mordi os lábios, tentando reprimir as lágrimas que se formavam em meus olhos.

Quando Aby me ligou contando que minha pequenina estava na mira dos ceifadores, decidi que entraria nessa guerra ao lado da minha irmã. Vamos encontrar esses desgraçados, matá-los antes que encontrem Tatiana.

— Somos uma família, porra! — afirmou Georgina.

— Se a Tati precisa de nós, nós iremos enfrentar tudo que vier no caminho. Isso é o que os amigos fazem, não é? — Indagou Tristan.

— Ela faria o mesmo por nós. — Afirmou Georgina. Concordei com a cabeça, sabendo que era verdade.

Sem controle, lágrimas escaparam dos meus olhos, molhando minhas bochechas.
Tenho muitos defeitos, fiz coisas ruins, mas sempre cuidei e protejo esses pirralhos como se fossem meus próprios filhos: Georgina, Tristan, Felipa. Infelizmente, fui negligente com Tatiana, mas isso não quer dizer que a amo menos, porque sinceramente não é o caso. Tatiana é uma das pessoas que mais amo no mundo.

E saber que, mesmo com meus erros, acertei na criação deles é algo pelo qual não posso deixar de me sentir grata e até um pouquinho orgulhosa.

Pelo menos acertei com eles, né? Drogo deve estar orgulhoso das nossas crianças grandes e fortes.

— Então vamos para Roma? — Questionou Georgina, com um sorriso largo em seus lábios.

— Vamos — Abro os braços recebendo os dois em um abraço — Vamos para casa, meus amores.


— Vamos — Abro os braços recebendo os dois em um abraço — Vamos para casa, meus amores

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