Abigail

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Abigail,

Acaricio seu rosto com as costas da mão. Passei os últimos dezoito anos sonhando, imaginando, criando milhares de cenários na minha cabeça de como seria esse momento, como seria estar aqui com a minha pequena, mas em nenhuma das minhas fantasias se compara ao que estou sentindo.

O quarto da minha filha diz muito sobre ela: o aroma de rosas, mesclado com um toque suave de pêssego. Móveis modernos em tonalidade branca, livros de diversos gêneros em uma longa e caprichosa estante, uma cafeteira de pequeno porte em cima de uma pequena prateleira, com utensílios para chá e alguns biscoitos de chocolate em um vidro.

Alguns pôsteres no lado esquerdo mostram uma cantora chamada Lana del. Rey. Ao lado, recortes e fotos, na maioria delas Tatiana está sorrindo ao lado de amigas, irmãos, Bárbara e a que mais me chama atenção é uma em que está com Irina, elas estão abraçadas e sorrindo em um lugar que se parece muito com aquelas festas eletrônicas que atraem multidões.

Tudo nesse quarto grita intensidade, com cores fortes e sofisticadas. Tatiana é exatamente como eu imaginava: uma menina de personalidade forte e sorriso fácil. Meu coração erra nas batidas de emoção, por finalmente estar aqui com ela, mesmo sabendo que ela não me quer aqui. Estou feliz e realizada.

Minha filha dorme profundamente, graças aos medicamentos que o médico aplicou nela. Sua pressão está alta e ela está em um quadro de estresse, então Samuel achou melhor mantê-la apagada nessas primeiras horas.

O som da porta sendo aberta soa, e eu ergo a cabeça para encontrar Bárbara, que desliza para dentro abraçada com algo que se assemelha a um álbum.

Ajeito o cobertor, deixando-a bem quentinha e confortável. O médico colheu seu sangue e disse que retornará em algumas horas. Até lá, ela precisa descansar e evitar qualquer tipo de aborrecimento, pelo menos até o médico ter certeza do diagnóstico.
Se for o que estou pensando, temo pelas consequências que isso resultará.

— Como ela está? — Indagou em pé ao lado da cama, seus olhos estão fixos em minha filha. Bárbara fita minha filha com preocupação, ela ama Tatiana como se fosse sua e de certo modo é, né?

— Dormindo ainda — confiro a temperatura, para ter certeza que não voltou a subir.

— O que fizeram com ela? — ergo meu olhar, me voltando para Bárbara, que agora me lança um olhar hesitante — Acha que quem estava com ela…?

Um arrepio percorre minha espinha, arrepiando todos os meus pelos com essa hipótese.

— Não sei, mas ela não está bem — Volto meu olhar para Tatiana — Não digo só fisicamente pelos cortes, hematomas e machucados.

— Sim, minha filha não está bem. — Murmurou chorosa — O que houve na sala hoje mais cedo foi o estopim.

Ela chamou a minha filha de filha. Deveria me sentir incomodada, contudo não me sinto. Por mais que odeie admitir, foi Bárbara que esteve presente todos esses anos. Ela foi a mãe que viu os primeiros dentes nascendo, os primeiros passos. Ela foi a mãe que cuidou nas noites de enfermidade, foi ela a mãe que deu o primeiro sutiã, o primeiro absorvente e explicou como funcionavam coisas como menstruação, cólicas e coisas da idade.

Provavelmente foi Bárbara quem soube do seu primeiro namoradinho, do primeiro beijo. Eu me amaldiçoei por ter perdido tudo isso, amaldiçoo Ziven com todas as forças por ter roubado tudo isso de mim e ter me condenado a uma vida miserável sem meus filhos.

O coração aperta, a boca amarga, sinto uma mistura de raiva, remorso, mágoa e fúria por tudo que perdi, tudo que me foi arrancado. Mas Bárbara não é a culpada, não é a inimiga. Ela é a mulher que abdicou de sua vida para casar com um homem difícil como Samuel, que vinha com três filhos de brinde. Ela foi a mãe e não eu.

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