Abigail

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Gente comentem bastante que tem outro capítulo em seguida.

Boa leitura

Abigail

Meu coração dispara no momento em que o carro para nos portões da propriedade imponente, com muros altos e cerca elétrica. O imenso portão de aço é aberto assim que o soldado na cabine avista o carro de Luke. O carro segue para dentro da fortaleza que um dia, há muitos anos, foi minha casa.

Um frio involuntário percorre meu ventre, a nostalgia começa lentamente a invadir meu sistema, levando-me de volta ao passado e, de repente, me sinto emotiva.

Tudo parece tão diferente da última vez que estive aqui. O jardim, sem vida, minhas rosas vermelhas que anteriormente enfeitavam todo o lugar se foram. O que vejo agora são girassóis. A casinha de madeira que construí com Samuel se foi e, no lugar, há vasos de samambaias e outras plantas.

— Está pronta? — Indagou Luke, segurando minha mão.

Meus olhos se fixam na fachada da casa, que agora está pintada de bege. Nada nesse lugar lembra o lar feliz que Samuel e eu construímos antes de tudo acontecer. Essa casa está morta, triste e não posso deixar de sentir o peito apertando. Engulo a seco, sentindo lágrimas se formando.

Luke e Kate corriam por esse jardim enquanto Samuel e eu passávamos horas planejando, fantasiando como seria quando as nossas princesas viessem ao mundo. Tantos sonhos, tantos planos, tantas lembranças, todas arruinadas pela maldade de um só homem.

Samuel e eu tínhamos tudo, éramos uma fortaleza. Juntos, éramos imparáveis, invencíveis, o que despertou inveja e a ira do maldito Denaro Ferrari. E assim se iniciou a minha tragédia.

— Mamma? — Chama Lucca, em tom preocupado.

Balanço a cabeça, afastando a melancolia. Estou aqui para encontrar minha filha e não chorar o leite derramado. O que passou, passou, e o tempo não volta. Então, me lamentar é estupidez.

Seco as lágrimas com as costas das mãos, respirando profundamente. Fecho os olhos por um instante, tomando coragem.

— Estou pronta. — afirmo, voltando a abrir os olhos. Minha atenção se volta para o meu filho, que me lança um olhar hesitante.

— Não precisa fazer isso, podemos encontrar outros meios. Eu não quero que se sinta pressionada a...

Meus dedos tocam o rosto do meu menino, meu pequenino, que agora é um homem feito. Mesmo sendo um adulto, ele ainda tem o mesmo olhar doce em seus olhos azuis vibrantes.

— Tudo bem, meu pequeno. Eu preciso fazer isso, preciso enfrentar seu pai. — Luke acena com a cabeça em concordância.

— Só quero que saiba que estou aqui, mamãe. Você não está mais sozinha. — diz firme. Um sorriso orgulhoso pinta em meus lábios, feliz por meu menino franzino ter se tornado um rapaz forte e corajoso.

— Eu sei, meu príncipe. — digo, inclinando meu tronco e selando um beijo em sua testa, o fazendo sorrir alegremente como se ainda fosse o meu pequeno garotinho.

Luke é o primeiro a sair, dá a volta e abre a porta do carro para mim e, com as mãos entrelaçadas, seguimos para dentro daquela que um dia foi meu lar.

Cada passo é como se uma avalanche de emoções me acertasse com violência: os primeiros passos de Luke e Kate, manhãs que passamos brincando no jardim, Samuel e eu pintando, decorando cada detalhe do quarto de nossas princesinhas.

Tranco o maxilar com força, reprimindo as lágrimas que embargam minha vista, pensando em tudo que me foi arrancado, em tudo que poderia ter sido.

Luke desliza a porta de vidro e, lado a lado, entramos na sala de estar. O aroma de incenso faz meu estômago embrulhar, os móveis são todos brancos, não há cor, não há vida. Essa casa não se parece em nada com o lar que um dia construímos aqui, não há mais fotos de família, quadros pintados por nossos filhos. Aqui só há vazio, tristeza, um ar mórbido e frio.


Aperto os lábios, sentindo a angústia crescer no meu peito, imaginando como deve ter sido difícil para meus filhos crescerem em um lugar que se parece mais com uma igreja, com santas e cruzes espalhadas por todos os cantos, ao invés de um lar acolhedor e feliz.

Aperto os olhos com força, imaginando como minha princesinha deve ter sofrido ao crescer sabendo que foi abandonada pela própria mãe.

Saio dos meus pensamentos e sinto Luke apertando de forma protetora a minha mão. Foco minha atenção nas vozes alteradas que vêm do escritório.

— Cale a boca, Bárbara! — soou a voz zangada de um homem.

— Estou falando a verdade, Samuel errou ao dar espaço a essa menina. Ela se tornou rebelde, mimada, inconsequente e agora olha o que aconteceu com ela — reconheço essa voz, é de Bárbara, a maldita usurpadora que ocupa um lugar que pertence a mim.

— Tatiana é minha mulher! — o homem grita. — Fale com respeito, porra!

Franzo a testa ao escutar o rosnado que escapa de Luke ao ouvir as palavras do homem dentro da sala, que suponho ser Ricardo Salvatore, o irmão da cadela religiosa.

— Quando vai abandonar essa ideia estúpida? — questionou Bárbara, chorosa. — Você precisa de uma boa esposa, uma mulher que lhe dê herdeiros, e não uma...

Aperto a mão em forma de punho. Quem essa piranha pensa que é para falar da minha filha? Abandono a mão do meu filho, respirando profundamente, buscando toda a coragem que tenho em mim. Marcho como um soldado pronto para a guerra rumo ao maldito escritório.

— Bárbara! — ecoa a voz familiar que me faz estremecer. — Cale a porra da sua boca, sua filha da puta! Quem pensa que é para falar assim da minha filha?

O som dos meus saltos batendo contra o piso ecoa, com as duas mãos empurrando as portas de madeira que batem violentamente contra a parede. Três pares de olhos se fixam em mim. Inalo uma mistura de cheiros que se encontram impregnados no cômodo: bourbon, cigarro e o perfume inconfundível de Samuel.


— Olá, amor — cumprimentei Samuel, seus olhos vidrados, presos aos meus.

Engulo em seco, sentindo meu coração trovejar na caixa torácica, mãos suadas, meu peito sobe e desce rapidamente, mas mantenho a expressão de desdém estampada em minhas feições.

— Você…? — Minha atenção se volta para Bárbara, que me encara com os lábios entreabertos, fazendo o sinal da cruz, como se estivesse na presença do diabo em sua pior forma.

Uma gargalhada contagiante escapa dos meus lábios, fazendo-a arregalar os olhos.

— Então você é a outra? — Indago, recuperando a fachada impenetrável.

— A outra? — Os lábios de Bárbara se movem, mas seu tom é baixo. Sua postura tensa.

— A outra, a amante, a concubina, ou melhor dizendo, a minha substituição — Digo friamente, seus olhos presos aos meus, lábios trêmulos.


— Eu sou a esposa…

— Não. Na verdade, seu casamento não tem valor nenhum, pois estou viva — digo entre dentes. — Eu sou a senhora Genovese, a esposa de Samuel, a dona e senhora desta casa, enquanto você é a amante, a mulher que está usurpando tudo que me pertence! — digo, assistindo a maldita fechar os punhos.

Observo, pela visão periférica, Ricardo se aproximando da irmã discretamente, seus olhos verdes me fitando com frieza.

— Chega, Bárbara — diz Ricardo, sem desviar sua atenção de mim.

Sinto o corpo de Luke pairando atrás de mim. Ele está próximo, em um ato protetor.

Minha atenção se volta para Sam. Seus olhos inexpressivos permanecem me fitando sem dizer nenhuma palavra. Meus lábios tremem, deslizo a mão sobre o tecido do vestido vermelho em uma tentativa de aliviar a tensão que estou sentindo. Passei os últimos 18 anos criando vários cenários de como seria reencontrar o amor da minha vida, mas nada me preparou realmente para esse momento.


Seus olhos negros, intensos e sem vida me mantêm cativa, hipnotizada, meu coração batendo desenfreado, sem o meu controle uma lágrima escapou dos meus olhos, molhando minhas bochechas. Tentei mover os lábios, mas nada saiu.

— Aby? — pronunciou em um sussurro.

— Sam? — murmurei, derramando mais algumas lágrimas.

Nossos olhares permanecem cativos, unidos, e por um instante parece que nada mudou, somos eu e ele, como antes, antes de todo sofrimento e dor.

— Saiam todos. — Ordena Samuel, com a voz rouca, sem quebrar o contato visual.

— Mas querido…

— Eu mandei sair. — Ordena entre dentes.

Permaneço imóvel, sem ser capaz de desviar minha atenção do homem da minha vida, meu primeiro e único amor, meu marido e pai das minhas filhas, o homem em que tenho pensado e sonhado dia e noite nos últimos dezoito anos.

Tudo ao redor parece perder a vida. É como se o tempo parasse e nada mais importasse. Somos eu e ele. Não há nada e ninguém ao redor.

Soou o som da porta batendo. Saio dos meus pensamentos, quebrando o contato visual. Olhando ao redor, percebo que estamos sozinhos. Todos saíram, inclusive meu filho.

— Abigail, o que diabos está fazendo aqui? — Seu tom é ácido. Engulo a seco, sentindo meu corpo estremecer com a forma que seus olhos passeiam por meu corpo.

Fecho os olhos, respirando profundamente, tentando controlar meus batimentos. Droga, eu não deveria me sentir tão afetada por Samuel. Não deveria sentir esse frenesi em cada célula do meu corpo, e nem o pulsar entre minhas coxas.


Puxo o ar pelo nariz, soltando pela boca, meus pelos arrepiados sentindo a proximidade de Samuel. Não preciso abrir os olhos para saber que ele está na minha frente, seu perfume invadindo minhas narinas, seu hálito de menta contra o meu rosto. Amaldiçoo em pensamentos por me sentir tão afetada por ele. Anos se passaram desde a última vez que estive com ele, mas a atração, o desejo permanecem iguais.

Seus dedos ásperos tocam meus lábios, causando a destruição de todo o meu controle. Meus pelos se eriçam, os bicos dos meus seios se enrijecem. Suavemente, aperto as coxas na tentativa de reprimir a onda de prazer que sinto com seu toque.

— Senti tanto a sua falta — seus dedos escorregam para o meu rosto, acariciando, antes de trilhar o caminho entre meus cabelos.

Abro os olhos e me deparo com as esferas cor de ônix de Samuel. Prendo a respiração com tamanha intensidade que encontro em seu olhar.

— Eu te odeio, Samuel! — murmuro, umedecendo os lábios.


— Eu te odeio muito mais — seus dedos se envolvem entre os meus fios, puxando-os com força — Eu te odeio tanto, Abigail...

Antes que pudesse formular meus pensamentos, sinto o impacto dos seus lábios colidindo com os meus, sua língua serpenteando por entre meus lábios antes de deslizar para dentro da minha boca. Provo o gosto de menta e uísque em sua língua, sua mão livre enlaça ao redor da minha cintura, prendendo-me contra seu corpo duro e forte. Seu cheiro gostoso, cheiro de homem rústico e viril, invade meu olfato. Nossas línguas se encontram em uma sincronia assombrosa. Fome, raiva, desejo, tesão, mágoa, tudo ao mesmo tempo, todas as emoções em uma batalha travada para ver quem sairá vencedor.

Samuel me beija com vontade, diria com necessidade. Seu beijo é bruto, punitivo, doloroso, carregado de sentimentos. Ódio e amor caminham lado a lado.

 Ódio e amor caminham lado a lado

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