Lucca

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Lucca Falcone

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Lucca Falcone.

Ressoando pelo salão a Décima Sinfonia de Beethoven, tocada por um pianista e uma jovem violinista. O salão decorado com flores brancas e rosas vermelhas, em um estilo elegante e sofisticado, escolhido a dedo para o grande evento da noite.

Meus olhos atentos passeiam pelo salão, observando de longe a maledetta Isadora, o cordeiro de sacrifício que as desovas Ferrari estão me oferecendo para manter a paz.

A garota sorri como se fosse o dia mais feliz de sua vida, entretanto, hoje começa o inferno para essa maledetta e para todo o lixo de sua família.

Levo o copo com uísque aos lábios, dou um gole grande, aprecio o sabor amadeirado e forte na língua, a leve ardência na garganta, a sensação quente que fica após engolir. Sorrio, apreciando cada segundo disso. Porque após a calmaria sempre vem o vendaval e é exatamente isso que preciso.

Deixei Matteo cuidando da 'ndrangheta por mim, alegando que vou para uma missão afastada. Meu sorriso se alarga quando penso no que estará me esperando quando chegar no meu destino, ou melhor, quem.

— Está muito alegre para quem dizia não querer esse noivado — Comentou Matteo ao meu lado; sinto preocupação em sua voz.

— As coisas são como são — digo, olhando as horas no relógio; são 20:30 e a farfalla ainda não entrou pelas portas do salão.

— Está vendo as horas de novo? Está esperando alguém? — Indagou meu irmão, curioso.

— A dolce farfalla — digo, lambendo os lábios em excitação.

— Por Deus, Lucca! Deixe essa garota em paz; ela está noiva do seu melhor amigo. Não percebe que no meio dessa guerra ela será a única a sair ferida? — falou em tom duro.

O desgraçado está comendo a tia da farfalla e está todo apaixonado pela maledetta russa, o que faz ele pegar as dores dela para si. A semanas que o fodido está enchendo a minha paciência com essa de deixá-la em paz. A paz que eu preciso vem dela, então as chances de deixá-la são zero.

— Ela não sairá ferida, não vou permitir que ninguém toque nela — Sorrio com o pensamento, a partir de hoje só eu irei tocá-la.

Um gemido escapou dos meus lábios, Matteo de imediato fica em alerta.

— Puta que pariu! Que porra você fez com essa garota? — Questionou inquieto, passando as mãos pelos cabelos.

— Eu não fiz nada — Digo com firmeza — Estive a noite toda ao seu lado.

— Caralho, caralho! — Esbraveja mio fratello, dando um show de puta mal comida.

— Acalme-se, eu disse que não fiz nada — digo dando um tapinha em seu ombro.

Assisto enquanto Ricardo, Samuel e Luke passam marchando como a cavalaria da guarda da rainha.
— Vasculhem Roma — ordena Samuel aos seus soldados.

— Encontrem a minha irmã — completa Luke.

Observo Ricardo no celular, tenso, andando de um lado para o outro. Meu sorriso morreu quando, por um instante, me coloco no lugar dele, sentindo o medo e o desespero que senti quando fiquei sabendo que ela foi drogada e quase tirou a própria vida.

Ricardo Salvatore, o don, mafioso implacável, não está aqui neste momento. Quem está presente é o homem apaixonado que mata e morre pela sua garota. O homem que passou os últimos anos de sua vida sofrendo em silêncio e se torturando por estar apaixonado e obcecado pela filha adotiva da irmã.

Meu estômago revirando, peito aperta. Ricardo é o meu melhor amigo desde a infância, o único que sabe tudo sobre mim, absolutamente tudo, e eu fodi tudo. Porra, eu fodi tudo indo atrás de Tatiana Genovese. Ela é dele, pertence a ele e não a mim.

Hoje de manhã, ouvi enquanto faziam sexo e escutei suas declarações de amor. Engulo em seco o ódio ao me lembrar de suas palavras e de como precisei me segurar para não invadir aquele maldito quarto e encher o filho da puta de bala, por estar recebendo o que eu deveria receber. Ela deveria ser minha, suas declarações, seus gemidos, tudo dela, tudo deveria ser meu e não de Ricardo, muito menos de Marco.

Foi por isso que decidi que ela seria minha, só minha, e ninguém mais saberá de Tatiana Genovese.

Engulo em seco assistindo ao desespero de Ricardo, que puxa os cabelos pela raiz com força. Provavelmente está sendo notificado de que o carro de sua mulher perdeu o controle, caiu em uma ribanceira e explodiu enquanto ela ainda estava dentro.

Todos ao redor assistem à cena com espanto, todos em silêncio, observando o desenrolar da situação.

— Lucca, meu Deus! O que você fez?

— Já disse que não fiz nada, passei a noite ao seu lado, fratello — digo firmemente, sem dar abertura para novos questionamentos.

Checo as horas, são 20h38. Sorrio em euforia, a fera em mim ruge em antecipação, com o show que está prestes a acontecer.

— 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2…

Antes de terminar a contagem, o silêncio de instantes atrás é substituído por um estrondo estridente, gritos, pessoas correndo, vidros se quebrando. É um verdadeiro inferno na terra.

Matteo se abaixa, me puxando com ele. O som dos tiros reverbera pelo ambiente. Sorri, respirando profundamente o cheiro levemente adocicado de gasolina perfumando o ar, os estalos das chamas consumindo tudo, madeira crepitando, o ar quase escasso devido à fumaça.

— Precisamos sair daqui — diz Matteo, tossindo muito, segurando meu antebraço e me puxa. Ficamos em pé e começamos a ir em direção às portas dos fundos, rumo à saída.
Todos correm na mesma direção, um verdadeiro formigueiro humano, todos lutando para sair do salão antes de ele explodir por completo.

Observo com atenção Matteo, apoio seu braço no meu ombro, sustentando seu peso, e começo a marchar, avançando na multidão com meu irmãozinho. Matteo tem asma desde pequeno. Estava tão eufórico para arrasar com tudo que me esqueci desse detalhe.

Acerto meu braço com violência nas pessoas em nosso caminho, avançando rumo à saída, Matteo tossindo sem parar, seu corpo parece querer desmoronar, mas não permito que isso aconteça.

— Aguenta, porra, aguenta! — Ordeno, carregando meu irmão, quase desmaiado, para fora do salão.

O vento gelado sopra em nossos rostos, o contraste da temperatura fria do lado de fora com o calor que estava lá dentro faz com que meus pelos fiquem eriçados.

— Só mais um pouco — Digo, atravessando a rua.

— Foi você? — Suas palavras saem baixas, em meio à crise de tosse.

— Foi necessário — aleguei, colocando ele sentado na calçada.

Matteo tosse sem parar, seus lábios estão em uma tonalidade avermelhada, quase roxa, pele pálida, mãos tremendo.

— Necessário? — me abaixo, ficando à sua altura.

— Eu fiz o que tinha que fazer, irmão — explico, começando a procurar a bombinha de asma nos bolsos do seu terno.

— Não me toca, porra! — Esbraveja, dando um tapa na minha mão.

Franzo a testa, movendo os lábios, me preparando para perguntar o que está acontecendo, mas ele puxa o ar com força e volta a falar.

— Qual é a porra do seu problema, Lucca? — inquiriu, se levantando. Faço menção de ajudar, mas sua mão me afasta novamente.

— Do que está falando? — Me coloco de pé.

Matteo tosse novamente, cambaleando para os lados, avança alguns passos, seguro pelos braços, impedindo-o de cair.

— Eu mandei me soltar, porra! — Exige, se afastando alguns passos, tropeçando nos próprios pés, mas rapidamente recupera seu equilíbrio. — Você está louco pra caralho, Lucca!

— Não faça dramas, porra, tudo foi calculado para ninguém se machucar — afirmei.

— Calculado? — Seu tom é ácido. — E cadê a garota? — Investigou.

— Que garota? — Me faço de desentendido.

— Não fode, porra! — Grita Matteo. — Onde está a sobrinha da Irina?

— Não sei do que está falando.

— Eu não sei que porra está acontecendo com você, irmão. — Seu tom é baixo, compreensivo e isso me irrita profundamente.

— A garota me pertence.

— Não. Tatiana não é um objeto, nem uma propriedade para pertencer a você ou qualquer outro — rebate Matteo.

— Ela é minha mulher.

— A menina está noiva do Ricardo. — diz se aproximando. — Seu melhor amigo, se lembra dele?

— Isso é um assunto meu! — declarei, olhando no relógio e conferindo as horas.

— Assunto seu?! Sério? — Meu irmão olha para os lados antes de começar a despejar suas palavras. — Você está arruinando a vida dela da mesma maneira que nosso pai fez anos atrás. Olha pra você, irmão…

Meus olhos se estreitam, faíscas de indignação dançam em meu olhar. Meu maxilar tenso, as mãos antes calmas agora cerradas em punhos, uma corrente de calor pulsando pelo meu corpo, a fúria correndo por minhas veias.

— Cala a boca! — Exijo — Não me compare a ele. — meu tom áspero.

— Então não aja como ele — devolveu cortante.

— Você não entenderia, nem se eu te explicasse — falei a verdade.

— Você ama nossa irmã, e como ela é impossível para você, você está usando a ragazza Genovese como distração, mas cara, isso é errado demais. Ela merece mais, muito mais depois do que nosso pai fez com ela anos atrás…

Sinto a fúria correr solta pelo meu sangue, feito lava de um vulcão em erupção.

— Cala a boca! — Berro despejando toda minha fúria — Você não sabe de nada, moleque. Não sabe dos meus sentimentos, não sabe o porquê das minhas atitudes, a única coisa que sabe fazer é me julgar, me criticar e dizer que estou errado.

— Você está errado. — insiste — Você sequestrou essa garota?

— Eu não posso perdê-la — sussurro, sentindo meu coração batendo desenfreado. — Eu já perdi coisas demais. Se ela me deixar, eu vou ficar louco — sinto o peito apertando com o simples pensamento.

— Isso é obsessão, meu irmão — diz calmamente. — Você se magoou por não poder ficar com Felipa, então você direcionou todo esse sentimento para Tatiana — as mãos de Matteo tocam meu rosto. — Isso não é real. Você precisa de ajuda antes que perca o juízo de vez. — diz como a porra de um psicólogo.

— Eu perdi o meu juízo — arregalei os olhos, um riso histérico escapa dos meus lábios. — Meu juízo se foi quando toquei naquela garota pela primeira vez. Então, meu irmão, não há mais nada a perder.

— Você é um filho da puta! — Suas mãos colidem com as minhas bochechas. — Tatiana vai acabar morta no meio dessa disputa estúpida entre você, Ricardo e Marco. E quando isso acontecer, meu irmão, você vai se arrepender amargamente, porque isso será sua responsabilidade, e eu não quero estar na sua pele.

Matteo selou um beijo na minha testa e se afastou.

— Onde você vai? — Indaguei, observando-o procurar algo nos bolsos.

— Vou voltar para a Calábria — seus olhos encontraram os meus — Se você quer arruinar a sua vida e, de quebra, arrastar uma garota que não tem culpa nenhuma pelas suas besteiras, tudo bem. Mas eu não vou ficar para assistir a isso, então até logo, irmão.

Sorri sem achar graça.

— Vai mesmo pular do barco? — Indaguei, ofendido. Eu nunca virei as costas para ele.

— Eu sou um executor, mato pessoas e cá entre nós, sou muito bom nisso, mas não vou ficar aqui e ajudar você a arruinar a vida de uma menina que tem idade para ser nossa irmã, uma menina cuja vida foi arruinada pelo homem que nos criou e por mais três filhos da mãe... Então, se você vai seguir por esse caminho, vai sozinho, não conte comigo. — disse, virando-se para caminhar.

— Filho da puta! — Amaldiçoo, enquanto assisto Matteo se afastar, percebendo seu dedo do meio levantado.

Balanço a cabeça sorrindo.

[...]

Desço do helicóptero no heliporto; o vento gelado bate contra o meu rosto, como mil agulhas rasgando a minha carne. Inclino levemente meu tronco, corro para longe da hélice, desço alguns degraus, até chegar na areia da praia e por aqui faço meu caminho até a casa principal.

— Onde está? — Questionei Stefano, meu homem de confiança.

— Está dentro da casa — ele diz cautelosamente.

Arqueei as sobrancelhas, apertando os dentes com tanta força que os escuto ranger.

— O que aconteceu? — Questionei entre dentes.

— Os soldados que a trouxeram a amarraram com correntes…

Avanço sobre ele, agarrando o colarinho da sua camisa.

— Está me dizendo que esses filhos da puta prenderam a minha mulher com correntes? — Meu peito sobe e desce freneticamente.

— Quando cheguei, meia hora atrás, ela estava presa no porão…

— Porão? — Berro, sentindo a fúria me tomando — Eles amarraram ela com correntes e a deixaram em um maldito porão sujo?

Liberto Stefano do meu aperto. Aperto os olhos com força, passo as mãos pelos cabelos e os puxo pela raiz.

— Quando ela foi sequestrada na adolescência, ela ficou em um maldito porão depois de ser violentada, e agora esses filhos da puta a acorrentam em um maldito porão — murmuro para mim mesmo, soltando o ar pela boca na tentativa de me acalmar.

— Eu a levei para o quarto, ela está bem na medida do possível…

O cortei e começo:

— Na medida do possível? — Repito suas palavras.

— A garota está queimando de febre. Sinceramente, acho que ela precisa de um médico…

Antes que ele termine de falar, avanço pela porta da frente, deslizo a porta de correr e desço correndo as escadas, rumo ao quarto principal.

Assim que entrei no cômodo, escuto seus dentes batendo, um gemido doloroso escapa de seus lábios. Avanço em direção à cama, onde ela dorme encolhida, tremendo.

Me arrasto de joelhos sobre a cama, me aproximando, minha mão toca sua testa, amaldiçoo baixinho ao perceber que ela está queimando de febre.

— Que porcaria que eu fiz? — me livro da minha camisa, calça, sapatos. Vou até a banheira e ligo a água morna e deixo enchendo, enquanto volto para o quarto e começo a tirar suas roupas, com cuidado para não assustá-la.

Provavelmente acordar acorrentada em um porão trouxe à tona memórias traumáticas e a febre é uma resposta ao estresse.

— Eu vou cuidar de você, farfalla — Prometo, pegando-a em meus braços. Aperto-a contra o meu corpo de uma forma protetora, não há nenhuma conotação sexual neste ato. Acho que é a primeira vez na minha vida que tenho uma mulher nua em meus braços e não estou excitado, e olha que Tatiana não é qualquer mulher, ela é a minha mulher.

*MATTEO*

Disco o número de Irina, chama algumas vezes e ela atende.

— O que foi, Matteo? — Questionou em tom irritadiço.

— Aconteceu alguma coisa? — Sondei.

— Aconteceu. Seu irmão, seu maldito irmão aconteceu na vida da minha sobrinha. — ela grita do outro lado da linha.

— O que Lucca fez? — Finjo inocência.

— Hoje de manhã ele ameaçou matar a minha sobrinha e horas depois o carro dela capota na porra de um penhasco… Coincidência? Acho que não.

Amaldiçoo baixinho, odeio mentir para ela, mas por mais fodido que seja o meu irmão, ele ainda é o meu irmão e não vou trair sua confiança.

— Lucca não tem nada a ver com isso — minto descaradamente — Passei a tarde e o resto da noite com ele e posso te assegurar que dessa vez ele é inocente.

— Não acredito em você. E aliás, faça um favor para mim.

— O que é, amor? — Questionei em meio a um suspiro.

— Diga a Lucca que será como prometi da última vez: olho por olho, dente por dente. Se ele ferir a minha sobrinha, quem vai pagar será Felipa.

— Está ameaçando a minha irmã? — Pergunto, entre dentes.

Escuto vozes ao fundo, uma discussão em seguida ecoa a voz de uma mulher, mas não é Irina.

— Escuta aqui, maldito Falcone — diz em um sotaque carregado, Russo — Avisa o seu irmão que se ele tocar na minha filha, eu acabo com a vida dele, mas antes eu vou arrancar a pele da vagabunda da sua irmã na frente dele, obrigando ele a assistir até o último suspiro da maldita, e depois eu mesma vou matar ele, e será divertido demais. — ameaçou.

— Filha? Quem diabos é sua filha…

Me calo abruptamente, sentindo tudo girar ao meu redor, engolindo saliva com força.

— Abigail? — Questionei, sabendo da resposta.

— Se sabe quem eu sou, sabe também que não estou blefando. Eu quero a minha filha, ou vou até a Calábria e faço chover sangue.

Abro a boca para responder, mas a chamada é encerrada. Aperto o celular com força entre os dedos.

— Merda! — Berro, ficando em pé e com toda a minha fúria passo as mãos sobre a mesa, jogando tudo que anteriormente estava lá no chão.

— Que porra você fez, Lucca? — Berro.

De todas as pessoas do mundo, a última que gostaria de ter um problema é com a maledetta Abigail.


De todas as pessoas do mundo, a última que gostaria de ter um problema é com a maledetta Abigail

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