CAPÍTULO QUARENTA E SEIS

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Eu a observo e a escuto, facinada. É fervorosa e eloquente e pinta um nítido retrato do país que é seu lar. Ela me conta que a Albânia é um lugar especial em que a família está no centro de tudo. É u. País muito antigo, influenciado ao longo dos séculos por várias culturas com ideologias diferentes.  Tem orgulho da sua cidade natal. Kukes é um vilarejo pequeno no norte,perto da fronteira com Kosovo, e ela fica animada ao falar sobre os lagos ,rios e ravinas espetaculares, mas, acima de tudo,sobre as montanhas que cercam o lugar. Seus olhos brilham ao falar sobre a paisagem, e fica claro que é disso que sente falta em sua terra natal.

_____ E é por isso que gostei daqui—diz ela.
_____ Pelo que vi, a paisagem na Cornualha também é linda.

Somos interrompidas por Megan e as tortas de peixe. Ela larga os pratos na mesa e se afasta sem dizer nada. Sua expressão é amarga, mas a torta está quente e deliciosa, e não parece que tenham  cuspido nela.

_____ O que seu pai faz?—pergunto com cautela.
_____ Tem uma garagem.
_____ Vende gasolina?
_____ Não. Conserta carros. Pneus. Coisas de mecânico.
_____ E a sua mãe?
_____ É dona de casa.

Quero perguntar por que deixou a Albânia, mas sei que isso vai fazer com que se lembre da sua jornada penosa até o Reino Unido.

_____ E o que você fazia em kukes?
_____ Ah, eu estava estudando, mas a universidade fechou, então às vezes trabalho em uma escola com crianças pequenas. E as vezes toco piano....

Sua voz falha e não sei se é porque ela sente saudades ou por outro motivo.

_____ Me fale mais sobre o seu trabalho.

Fica claro que ela quer mudar de assunto e, como ainda não quero contar a ela o que faço, falo sobre minha carreira de DJ.

_____ E passei dois verões em San Antonio, em Ibiza. Lá, sim, é lugar de festa.
_____ É por isso que você tem tantos discos?
_____ É —respondo.
_____ E qual é o seu tipo de música preferida?
_____ Todos. Não tenho um estilo preferido. E você? Quantos anos tinha quando começou a tocar?
_____ Eu tinha quatro.
UAU.CEDO.
_____ Estudou música?Digo,teoria musical?
_____ Não.
Isso consegue ser ainda mais impressionante.

Ver Kara comer é recompensador. Suas bochechas estão rosadas,seus olhos brilham, e eu suspeito que esteja um pouco alterada depois de duas cervejas.
_____ Quer mais alguma coisa?—pergunto.
Ela faz que não.
_____ Então vamos.

Jago traz a conta. Acho que Megan se recusou, ou está de intervalo. Pago a conta e pego a mão de Kara ao sairmos do pub.
_____ Só quero passar rapidinho na loja —Digo.
_____ Está bem.
O sorriso torto de Kara me faz rir.

As lojas de Trevethick fazem parte da propriedade Lutho's; os moradores locais as alugam. São bastante lucrativas entre a Páscoa e o ano-novo.  A única que é  de fato útil é o armazém.  Estamos a quilômetros da cidade grande mais próxima, e lá há uma imensa variedade de produtos. Um sininho toca quando entramos.

_____ Se estiver precisando de alguma coisa, é só me falar—digo a Kara, que está olhando a seção de revistas, balançando o corpo de leve.
Vou até o balcão.

_____ Posso ajudar?—pergunta a vendedora, uma jovem que não reconheço.
_____ Vocês têm luzes noturnas? Para crianças?

Ela sai de trás do balcão e procura nas prateleiras de um corredor próximo.

_____ São as únicas que temos.
Ergue uma caixa com um dragãozinho de plástico dentro.
_____ Vou levar uma.
_____ Vai precisar de pilhas —informa a vendedora.
_____ Então vou levar também.

Depois de pagar, me junto a Kara na frente da loja,onde ela está olhando a pequena seção de batons.
_____  Quer alguma coisa?—pergunto.
_____  Não. Obrigada.
Sua recusa não me surpreende. Nunca a vi de maquiagem.
____ Podemos ir?
Ela pega minha mão e nós voltamos para a estrada.
_____ Que lugar é aquele? —pergunta Kara,apontando para uma chaminé distante parcialmente visível enquanto subimos o caminho até a mina antiga.
Eu conheço o lugar,é claro;fica no topo da ala oeste da mansão Lutho's meu lar ancestral.
DROGA.
_____  Aquele lugar? Pertence ao Conde Lutho's.
_____ Ah.
Ela franze a testa por um instante e nós seguimos em silêncio enquanto travo uma batalha interna comigo mesma.
DIGA A ELA QUE VOCÊ É A PORRA DA DONA DESSE LUGAR.
NÃO.
POR QUE NÃO?
VOU DIZER. NÃO AGORA.
POR QUE NÃO?
QUERO QUE ELA ME CONHEÇA PRIMEIRO.
CONHEÇA VOCÊ?
PASSE TEMPO COMIGO.

______ Podemos ir à praia de novo?
Os olhos de Kara estão brilhando de animação outra vez.







■KARA POV■

Ela está hipnotizada pelo mar. Corre com alegria desenfreada até a beira. As galochas protegem seus pés das ondas que quebram na praia.
Ela está.... em êxtase.
Lady Lena lhe deu o mar.
Com um prazer estonteante, ela fecha os olhos, abre os braços e respira o ar frio e salgado. Não se lembra de já ter estado tão.... plena. Pela primeira vez em muito tempo, se sente um pouquinho feliz. Sente uma conexão forte com a paisagem fria e selvagem que, de alguma forma, a faz lembrar sua terra natal.
É uma sensação de pertencimento.
Está completa.
Virando-se, ela olha para Lena,de pé na praia com as mãos nos bolsos, observando-a. O vento bagunça o cabelo dela, aquele tom bem preto que chega reluzindo ao sol. Os olhos da Lady estão cheios de alegria e têm um brilho verde-esmeralda ardente.
Ela é de tirar o fôlego.
E o coração de Kara  está cheio. Cheio até a borda.
Ela simplesmente ama essa mulher fina e elegante.
Sim. Ela a ama.
Está animada. Empolgada. E apaixonada. É assim que deve ser. Alegre. Satisfatório. Libertador. Essa compreensão envolve seu corpo como o vento da Cornualha que joga o cabelo no seu rosto.

Está apaixonada pela Lady Lena.
Todos os seus sentimentos não articulados vêm a tona, borbulhantes,e em seu rosto surge um sorriso que é pura luz. O sorriso que Lena lhe devolve é estonteante e, por um segundo, ela ousa ter esperanças.
TALVEZ UM DIA LENA SINTA O MESMO.

Ela se aproxima de Lena dançando e, em um momento de descuido, se joga em cima dela, passando os braços ao redor do seu pescoço.

______ Obrigada por me trazer aqui!—exclama, sem fôlego.
Lena sorri para ela enquanto a abraça com força.
______ O prazer foi meu—diz.
______ Vai ser! —brinca ela,e ri quando os olhos de Lena se arregalam e a boca se abre.
Ela a  deseja. Cada curva de seu lindo corpo.
Rodopia para longe dos braços de Lena e volta para a beira da água.

LADY-LUTHOR -KARLENA Onde histórias criam vida. Descubra agora