CAPÍTULO 55

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POV LENA ***

Pela parede de vidro, vejo Eve dar passos hesitantes na escadaria
íngreme iluminada, carregando uma caixa de plástico branca. Parece
pesada.
Abro a porta e corro descalça para encontrá-la no meio do caminho.
Porra. O chão está congelante.

— Eve. Posso levar isso.

— Está tudo bem. Lena, você vai pegar um resfriado aqui fora —
repreende ela com uma expressão de censura. — Quero dizer, senhora Luthor —
acrescenta, como uma reflexão tardia.

____  Eve. Me dê a caixa. — Não vou aceitar não como resposta.

Comprimindo os lábios, ela me entrega a caixa, e eu sorrio.

____ Obrigada.

____  Vou entrar e arrumar para você.

____  Está tudo bem. Tenho certeza de que posso cuidar disso.

____  Seria muito mais fácil se você estivesse na casa, senhora.

____ Eu sei. Desculpe. E agradeça a Jessie por mim.

____ É o seu favorito. Ah, e Jessie adiantou as batatas que estão na caixa.
Já foram aquecidas no micro-ondas, então não devem demorar muito para
ficar crocantes. Agora, entre. Você está descalça.
Ela franze a testa enquanto me faz voltar para casa. Como está muito
frio, obedeço. Pelas janelas do chão ao teto, espia Kara no sofá e acena
para ela, que retribui.

____  Obrigada — digo, no abrigo da entrada com piso aquecido
aconchegante.
Não a apresento a Kara. Sei que é uma grosseria. Mas quero
permanecer na nossa bolha mais um pouco. Apresentações podem ser feitas
mais tarde.

Eve balança a cabeça, o cabelo branco despenteado pelo vento
gelado, e se vira para subir os degraus de volta. Eu a observo. Ela não
mudou nada durante todos esses anos em que a conheço. Cuidou dos meus
joelhos ralados, tratou dos meus cortes e arranhões e colocou gelo nos meus
machucados desde que eu tinha idade suficiente para andar. Sempre estava
de saia xadrez e sapatos grossos, nunca de calça comprida. Não mesmo.
Sorrio. Jessie, sua companheira há doze anos, usa calças. Pergunto-me se
algum dia elas vão se casar. Já é legalizado há um bom tempo. Não tem
mais desculpa.

____ Quem é aquela? — pergunta Kara, espiando dentro da caixa.

____ Aquela é Eve. Eu falei, ela mora aqui perto e trouxe nosso jantar.
Pego a caçarola na caixa. Tem quatro batatas grandes, e fico com a boca
cheia d’água quando vejo a torta banoffee.
Minha nossa, Jessie sabe cozinhar como ninguém.

____ É só esquentar o cozido, e a gente pode comer com batatas assadas.
Parece bom?

____ Sim. Muito bom demais.

____  Muito bom demais?

____  Sim. — Ela pisca. — Meu inglês?

____  É ótimo — respondo e, sorrindo, tiro o assador de batata de dentro
da caixa.

____  Posso fazer isso — diz ela, embora pareça um pouco indecisa.

____  Não. Eu faço. — Esfrego as mãos uma na outra. — Estou me
sentindo meia doméstica esta noite, e, acredite, isso não acontece com
frequência. Então, aproveite.
Kara arqueia uma sobrancelha, achando graça, como se estivesse me
vendo de uma perspectiva totalmente nova. Espero que isso seja bom.

____  Aqui. — Em um dos armários, encontro um balde de gelo. — Pode
encher de gelo. Tem na geladeira da copa. É para o champanhe.
Uma ou duas taças depois, Kara está enroscada em um dos sofás
turquesa, com os pés debaixo do corpo, me observando enquanto termino
de colocar o cozido no forno.

LADY-LUTHOR -KARLENA Onde histórias criam vida. Descubra agora