CAPÍTULO TRINTA E UM

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Kara desce a escada de incêndio voando,o coração disparado pela adrenalina e pelo medo. Assim que alcança o térreo, se vê em um beco lateral. Deve estar segura ali. O portão que dá pra rua nos fundos do edifício está trancado por dentro. Por precaução, ela se abaixa entre duas caçambas onde os moradores do prédio da Lady Lena jogam seus lixos. Inclina-se contra a parede de tijolos e se esforça para respirar, tentando recuperar o fôlego.

COMO ELES A ENCONTRARAM ? COMO?

Ela havia reconhecido a voz de Dante na hora, e todas as lembranças reprimidas vieram à tona com um ímpeto apavorante.

O ESCURO.
O CHEIRO.
O MEDO.
O FRIO.
O CHEIRO. MEU DEUS.O CHEIRO.

Lágrimas brotam em seus olhos,e kara pisca,tentando contê-las. Ela os levou até Lena! Ela sabe como aqueles homens são cruéis e do que são capazes de fazer. Deixa escapar um soluço alto e coloca a mão na boca enquanto se encolhe no chão frio.

ELA PODE ESTAR FERIDA.
NÃO.
ELA PRECISA CONFERIR. NÃO PODE FUGIR SE LENA ESTIVER MACHUCADA.
PENSE, KARA. PENSE.
A ÚNICA PESSOA QUE SABE QUE ELA ESTÁ AQUI É NIA.
NIA!
NÃO. SERÁ QUE ELES ENCONTRARAM NIA-NAL E SEU FILHO?
O QUE FIZERAM COM OS DOIS?
NIA.

Sua respiração é violenta,curta,seca,o pânico começa a obstruir sua garganta. Ela acha que vai desmaiar,mas de repente seu estômago se revira, e antes que perceba kara está inclinada para a frente, vomitando o café da manhã no chão. Enquanto o enjoo não passa,ela apoia as mãos na parede de tijolos até não restar mais nada no estômago. O esforço físico a deixa exausta, mas um pouco mais calma. Limpando a boca com o dorso da mão, ela se levanta,meio tonta,e espia  o bico para conferir se alguém a ouviu. Ainda está sozinha.

GRAÇAS À DEUS.
PENSE,KARA,PENSE.

A primeira coisa a fazer é conferir se Lena está bem. Inspirando profundamente, deixa o abrigo das caçambas de lixo e volta a subir a escada de incêndio.

Avança com cautela,movida pela autopreservação. Precisa saber se eles foram embora,mas não pode ser vista. São seis andares; no quinto,ela já está sem fôlego. Sobe bem devagar o nível seguinte e espia entre as grades de metal para dentro do apartamento. A porta da lavanderia está fechada, mas dá pra ver a sala. A princípio, não há sinal de vida,mas então, de repente, Lena irrompe no cômodo, e kara percebe que ela está procurando alguma coisa na escrivaninha. Lena fica um minuto antes de tornar a sair do ambiente às pressas.

O corpo dela relaxa contra a grade de metal. Lena está bem.

GRAÇAS A DEUS.

Tendo matado sua curiosidade e com consciência tranquila, kara desde a escada mais uma vez, cambaleando, convicta de que precisa conferir se Nia e o filho estão bem.

Quando volta ao beco, calça as botas e se encaminha para o portão nos fundos do prédio, que dá para a rua de trás, não para o Chelsea Embankment. Ela hesita por um instante. Talvez Dante e Ylli,seu comparsa,  estejam à sua espera. É claro que poderiam estar ali fora. Com o coração em um ritmo frenético, ela abre o portão e examina a rua. O único movimento é o de um carro esportivo verde-escuro acelerando no final da via; não há sinal de Dante e do comparsa. Tirando o gorro de lã da bolsa, ela o veste,enfia o cabelo para dentro, e segue em direção ao ponto de ônibus.

Ainda apressada pela rua. Está lutando contra o impulso de correr,sabendo que isso chamaria atenção indesejada. Mantém a cabeça baixa e as mãos no bolsos e,a cada passo, reza para o Deus da sua avó manter Nia-Nal e seu filho a salvo. Ela repete e repete o pedido, alterando entre sua língua nativa e o inglês.

RUAJI,ZOT.
RUAJI,ZOT.
DEUS,PROTEJA OS DOIS.



LENA POV

Fiquei imóvel no corredor pelo que apareceu uma eternidade. Estou morrendo de medo, e sinto o sangue pulsar nos ouvidos, o som alto como o de um trovão.

ONDE ELA ESTÁ PORRA?
QUE PORRA FOI ESSA QUE ELA SE METEU?
O QUE FAÇO?
COMO ELA VAI ENFRENTAR AQUELES CARAS SOZINHA?
CACETE. PRECISO ENCONTRÁ-LA.
PARA ONDE ELA FOI?
PARA A CASA.

BRENTFORD.
ISSO.

Sigo pelo corredor até a sala e pego as chaves do carro na escrivaninha, depois corro para a porta de casa,parando apenas para apanhar o casaco.

Estou enjoada,meu estômago revirando.
Não tem como aqueles caras serem da "imigração ".
Quando chego à garagem, pressiono o botão do controle, esperando destravar o Discovery, mas o carro que dá sinal de vida é o jaguar.

MERDA.
Na pressa,peguei a chave errada.
FODA-SE.

Não tenho tempo para voltar lá em cima e pegar a certa. Salto para dentro do jaguar e dou partida. O motor ronca,e tiro o carro da vaga. A porta da garagem se abre pouco a pouco, e viro à esquerda, seguindo a toda a velocidade até o fim da rua,depois à esquerda de novo em direção ao Chelsea Embankment. Mas isso é o mais longe que consigo chegar. O trânsito está lento porque é sexta-feira à tarde,o começo da hora do Rush. As ruas engarrafadas me deixam mais ansiosa e não ajudam em nada o meu humor já péssimo.

Repasso minha interação com os marginais várias vezes, procurando qualquer pista do que pode ter acontecido com Kara. Eles pareciam ser do Leste Europeu. Tinham uma aparência agressiva. Kara fugiu então, ou ela os conhece, ou acredita que são mesmo do serviço de "imigração ", o que deve significar que ela está na Inglaterra ilegalmente. Isso não me surpreende. Ela interrompeu de maneira abrupta qualquer conversa sobre o que está fazendo em Londres.

AH,KARA. NO QUE VOCÊ SE METEU?
E ONDE VOCÊ SE METEU ?

Torço para que ela tenha voltado a BRENTFORD, porque é para lá que estou indo.

LADY-LUTHOR -KARLENA Onde histórias criam vida. Descubra agora