CAPÍTULO TRINTA E SEIS

239 30 4
                                    




●LENA POV




O caminho todo Kara permanecia encolhida no banco do carona, mas pelo menos se lembrou de colocar o cinto.

Entendo por que está mexida. QUE DIA.  Se eu estou assustada com o desenrolar dos acontecimentos, ela deve estar esgotada. Completamente esgotada. Acho que é melhor deixá-la pôr os pensamentos em ordem. Além do mais, está tarde e preciso fazer algumas ligações.

Encontro o número de Eve pelo painel de navegação do carro. O som da ligação chamando ecoa no carro pelo sistema integrado de viva-voz.  Depois de dois toques, ela atende.

____ Mansão Luthor's — diz em seu sotaque irlandês familiar.

____ Eve,sou eu Lena.

____ Mileide Luthor... Quer dizer...

____ Tudo bem,  Eve,não se preocupe. — Eu a interrompo, lançando um rápido olhar a Kara,que agora me observa.

____ O Esconderijo ou o Mirante estão disponíveis este fim de semana?

____ Acho que os dois estão, minha senh....

____ E na semana que vem?

____ O Mirante está reservado para uma sessão de tiro ao prato.

____ Vou ficar com o Esconderijo, então.
APROPRIADO.

____ Eu preciso...—olho de relance para o rosto pálido de Kara.

____ Eu preciso que dois dos quartos sejam arrumados e que intens de higiene pessoal e algumas roupas minhas sejam trazidas da mansão.

____ A senhora não vai ficar na mansão?

____ Não, pelo menos não no momento.

____ A senhora disse dois quartos?

EU ESPERAVA QUE FOSSE SÓ UM...

____ Isso,por favor. E você pode pedir a jessie que abasteça a geladeira para o café da manhã e, talvez, para um lanchinho mais tarde? E vinho e uísque. Ela pode improvisar.

____ Com certeza Mileide. Quando a senhora chega?

____ Mais tarde,ainda está noite.

____ Pois não. Está tudo bem,senhora?

____ Tudo ótimo. Ah,Eve, o piano poderia ser afinado?

____ Providenciei isso ontem. A senhora mencionou que queria todos afinados quando estivesse aqui.

____ Ótimo. Obrigada, Eve.

____ Não há de quê, minha sen..

PRESSIONO O BOTÃO DE DESLIGAR ANTES QUE ELA TERMINE DE FALAR.

____ Quer ouvir música? —pergunto a Kara.

Ela se vira, os olhos vermelhos na minha direção, e sinto um aperto no peito.

____ Certo. —digo,sem esperar resposta.

Pesquisando no mesmo painel, encontro um álbum que espero que ela ache relaxante e pressiono play. O interior do carro é tomado pelo som de violões, e fico um pouco calma. Temos uma longa viagem pela frente.

____ Quem é?—pergunta kara

____ Um cantor e compositor chamado Ben Howard.

Ela examina a tela por um momento e volta a olhar pela janela.

Reflito sobre todas as minhas interações anteriores com Kara à luz do que ela me contou hoje. O quanto sofreu e os traumas que ela adquiriu nesse tempo nas mãos daqueles desgraçados. Isso me deixa com um peso no coração.  Nas minhas fantasias, imaginei que quando,enfim, ficássemos sozinhas, ela fosse sorrir e relaxar, olhando para mim com adoração. A realidade é bem diferente.

BEM DIFERENTE.

E, no entanto... Não me importo. Quero estar com ela.
Eu a quero em segurança.
Eu a quero...
A verdade é essa.
Nunca me senti assim antes.

Tudo aconteceu tão rápido. E ainda não sei se estou fazendo a coisa certa. Mas sei que não posso abandoná-la à mercê daqueles bandidos. Quero protegê-la.

QUE ATITUDE MAIS NOBRE.

Meus pensamentos vão ficando mais sombrios quando mergulho em devaneios mórbidos do que ela pode ter presenciado e suportado. Esta menina nas mãos daqueles monstros.

CACETE. Aperto o volante com mais força. A raiva aumenta como ácido sulfúrico queimando minhas entranhas.

Se algum dia eu colocar as mãos nesses caras...

Minha fúria é assassina
O que fizeram com ela? Quero saber.

Não. Não quero saber.
Quero.
Não quero.

Olho para o painel.
Merda. Estou correndo muito.

VAI COM CALMA, AMIGA.

Tiro um pouco o pé do acelerador.
Calma.
Respiro fundo,tentando me controlar.
FIQUE TRANQUILA.

Quero que ela me conte tudo. Tudo o que viu. Mas agora não é o momento para isso. Todos os meus  planos, todas as minhas fantasias não vão dar em nada se ela não suportar ser tocada por ninguém.

E me dou conta de que não posso tocá-la.

MERDA.






●KARA POV



Kara tenta, mas não consegue evitar as lágrimas. Ela está confusa, afogada nas próprias emoções.

No medo.
Na esperança.
No desespero.
Será que pode confiar na mulher ao seu lado? Ela se colocou nas mãos dela.
Por vontade própria. Ela já fez isso antes. Com Dante, e a história não acabou muito bem.

Ela não conhece a Lady Luthor.  Não de verdade. Ela apenas lhe tratou com bondade, sempre, desde que se conheceram. E o que Lena fez por Nia supera muito o que se esperaria de qualquer pessoa justa. Antes de conhecer Lena, Nia era a única pessoa na Inglaterra em quem Kara confiava. Ela havia salvado sua vida. Ela a acolherá, alimentara e vestia, além de ter encontrado trabalho para Kara através de uma rede de polonesas que vivem em West London a ajudam umas às outras.

E agora Kara estava indo embora, para longe daquele porto seguro. Nia garantiu que uma das outras moças cuidaria das casas da Sra.kingsbury e da sra.Goode enquanto ela estivesse fora.

Quanto tempo ela passará fora?
E para onde vai?
Ela fica tensa. Será que Dante está indo atrás delas?
Ela se abraça com força. Pensar em Dante lhe lembra o pesadelo que foi a viagem até a Inglaterra. Ela não quer pensar nisso. Nunca mais. Mas é algo que a atormenta em momentos de tranquilidade e em pesadelos. O que aconteceu com BLERIANA, vlora, Dorina e as outras meninas?

POR FAVOR, QUE ELAS TENHAM ESCAPADO TAMBÉM.

BLERIANA tinha só dezessete anos,era a mais nova de todas.

Kara estremece. A música que está tocando no carro fala de viver nas profundezas do medo. Kara fecha os olhos com força. Sente um aperto no estômago, o medo com que tem convivido por tanto tempo, e as lágrimas continuam rolando.

LADY-LUTHOR -KARLENA Onde histórias criam vida. Descubra agora