CAPÍTULO QUARENTA E OITO

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Kara derrama sua confusão no Prelúdio de Bach. Quer esquecer tudo. O olhar de Lena. A dúvida. A rejeição. A música se move lentamente dentro dela e pelo cômodo, preenchendo com as cores sombrias do arrependimento. Enquanto ela toca,se entrega à melodia e esquece. Esquece tudo.
Quando as notas finais saem,ela abre os olhos e Lady Lena está de pé ao lado da bancada da cozinha,observando-a.

_____ Oi—diz Lena.
_____ Oi —responde ela.
_____ Desculpe. Não quis magoar você. Foi a segunda vez hoje.
_____ Você é muito do contra—diz Kara,tentando dar voz à sua confusão. E acrescenta em seguida.

______ São à minhas roupas?
______ O quê?
______ Que você não gosta.

Afinal. Lena insistiu tanto que queria comprar roupas novas para ela. Kara fica de pé e com uma coragem atípica rodopia diante de Lena. Espera que aquilo a faça sorrir.
Vai na sua direção, Lena olha para a blusa de time de futebol e a calça de desenho animado dela e esfrega o queixo, como se refletisse sobre a situação.

______ Adoro o fato de você estar vestida como um menino de treze anos. —seu tom de voz é seco,mas também repleto de humor.
Kara dá uma risadinha. Alta. Contagiante. E Lena ri junto.

______ Assim é melhor —sussurra Lena. Segura o queixo dela e a beija.
_____ Você é uma mulher atraente Kara, independente do que esteja vestindo. Não deixe que eu ou ninguém a faça pensar diferente. É também muito,muito talentosa. Toque outra coisa para mim. Por favor.

_____ Está bem —diz ela,mais calma pelas palavras gentis de Lena, e Senta-se diante do piano outra vez.

Ela lhe lança um sorriso breve e cúmplice e começa a tocar.




☆●LENA POV ●☆

É a minha música.
A que terminei de compor depois de conhecê-la.
  Ela decorou. E a toca muito melhor do que eu. Comecei a escrever essa música quando Lex estava vivo.... e agora ouço minha dor e meu arrependimento nas harmonia que enchem a sala. A dor do luto me atinge como um maremoto,estourando sobre mim,me afogando. Um nó na minha garganta e tento conter a emoção, mas ela cresce, dificultando minha respiração. Eu a observo, enfeitiçada,mas dói demais quando a música perfura meu coração e toca o vazio profundo que é a ausência de Lex. Kara está de olhos fechados. Concentrada e perdida na melodia triste e solene.
  Tentei ignorar meu sofrimento. Mas ele está aqui. Desde o dia em que Lex morreu. Eu disse a Kara que o amava. E é verdade. Eu o amava mesmo. Meu irmão mais velho.
 
Mas eu nunca disse isso a ele.Nenhuma vez.
E agora sinto saudade de uma forma que ele nunca vai saber.
Lex.
Por quê?
As lágrimas surgem nos meus olhos e eu me encosto na parede,tentando conter a angústia e o desamparo. Cubro o rosto com às mãos.

Kara prende a respiração e para.
______ Desculpe —sussurra.
Faço que não com a cabeça, sem conseguir falar ou olhar para ela. Ouço o banco se arrastar no chão e sei que ela se afastou do piano. Então sinto-a perto de mim,e ela toca meu braço. É um gesto solidário. E acaba comigo.

______ Isso me fez lembrar do meu irmão. —As palavras saem com dificuldade pelo nó na minha garganta.

______ Nós o enterramos aqui,três semanas atrás.

_____ Ah, não. —Ela soa arrasada e passa os braços ao meu redor, me surpreendendo.

______ Eu sinto muito. —sussurra.

Enfio o rosto no cabelo dela e inspiro seu cheiro tranquilizante. Não consigo impedir as lágrimas.
MERDA.
ELA MINOU MINHA RESISTÊNCIA.

Não chorei no hospital. Não chorei no interro. Não chorei desde a morte de meu pai,quando eu tinha dezesseis anos. No entanto, aqui é agora, com ela, eu me solto. E choro de soluçar em seus braços.



■POV Kara☆

Kara entra em pânico e seu coração acelera. Confusa, ela o abraça, a mente envolta em um turbilhão.
O QUE ELA FEZ?
LADY,LENA. LADY LENA. LENA.

Kara pensou que Lena acharia divertido que ela soubesse a peça dela. Mas não, ela a  fez lembrar de sua dor. Sente o remorso pesando no estômago. Três semanas não é nada. Não surpreende que Lena ainda esteja de luto. Ela a puxa para mais perto e acaricia suas costas. Kara lembra como se sentiu quando a avó faleceu. Só sua Nana a entendia. A única pessoa com quem podia conversar de verdade. Tinha morrido um ano atrás.

A garganta de Kara arde e ela engole em seco. Lena está vulnerável e triste, e tudo o que ela quer é que Lena sorria novamente. Lena fez muito por ela. Kara passa as mãos pelos ombros de Lena, segue até a nuca e, segurando a cabeça, vira o rosto da Lady em sua direção. O olhar de Lena não demonstra qualquer expectativas. Tudo o que se vê naqueles olhos verdes luminosos é tristeza. Então ela a puxa devagar para que a boca de Lena encoste na sua e a beija.



●POV LENA■

Gemo quando os lábios dela roçam nos meus.O beijo é tímido, mas tão inesperado e, ah, tão doce... Fecho bem os olhos,lutando contra a minha dor.

______ Kara.
O nome é uma benção. Aninho a cabeça dela nas minhas mãos, passando os dedos pelo cabelo macio e sedoso enquanto aceito seu beijo hesitante e inexperiente. Ela me beija uma, duas, três vezes.

______ Estou aqui.— sussurra ela.

As palavras dela me tiram o ar. Quero esmagá-la e nunca mais soltar.Não me lembro da última pessoa que me consolou em uma hora de necessidade.

LADY-LUTHOR -KARLENA Onde histórias criam vida. Descubra agora