CAPÍTULO Dezesseis

262 35 0
                                    





Das três cozinhas que Kara cuida,aquela é a sua favorita. A parede, os armários e as bancadas são de vidro azul-claro, fácil de limpar. É elegante e organizada,muito diferente da cozinha caótica e rústica da casa de seus pais. Ela observa o forno, conferindo se por acaso a madame cozinhou algo, mas constata que continua limpíssimo. Kara suspeita que jamais foi usado.

Está secando o último prato quando a música começa. Ela reconhece de imediato a melodia. É do rascunho que já viu tantas vezes no piano,mas a melodia continua para além do que já leu, as notas suaves e tristes caindo em tons melancólicos de azul e cinza ao seu redor.

Ela precisava ver isso.
Com cuidado para não fazer barulho, kara deixa o prato na bancada e sai da cozinha. Dá uma espiada na sala e a encontra sentada ao piano. De olhos fechados, ela sente a música, cada nota estampada em seu rosto. Enquanto a observa de testa franzida, cabeça inclinada, lábios entreabertos, ela fica sem ar.
É cativada.
Por ela.
Pela música.
Pelo talento.

A composição é triste, cheia de ânsias e dores,e as notas ecoam  por sua mente em tons mais leves de azul e cinza agora que ela observa. Sua patroa é a mulher mais bonita que ela já viu. É ainda mais bonita do que .... Não!

OLHOS AZUIS E FRIOS ME OBSERVAM. FURIOSOS.
NÃO. PARE DE PENSAR NAQUELE MONSTRO!

Ela afasta a lembrança. Dói demais. Volta a se concentrar na Lady enquanto a melodia melancólica se aproxima do fim. Antes que ela veja, kara volta para a cozinha na ponta dos pés. Não quer deixá-la brava outra vez sendo flagrada espiando em vez de trabalhando.

Quando termina de limpar a bancada, Kara repassa a composição mentalmente. E agora o único cômodo que falta limpar é a sala,onde a patroa está.

Tomando coragem, ela pega a cera e um pano,pronta para encará-la. Fica parada na entrada enquanto ela olha o computador. Quando nota a presença dela,sua expressão é de grata surpresa.

— Posso,Lady?— pergunta ela,indicando o cômodo com a lata de cera.

— Claro. Entre. Faça o que precisar fazer,kara. E meu nome é Lena.
Ela dá um breve sorriso e começa com o sofá, afofando as almofadas e empurrando migalhas para o chão com a mão.

LENA POV

 
   Bom, essa sim é uma distração...
Como posso me concentrar com ela se mexendo para lá e para cá, tão próxima ? Finjo ler a planilha revisada de custos para a reforma dos prédios de Mayfair, mas na verdade a estou observando. Ela se move com uma graça fluida e sensual, debruçando-se  sobre o sofá, braços ágeis e tonificados se estendem,e mãos delicadas com dedos compridos recolhem as migalhas das almofadas. Fico toda arrepiada, meu corpo inteiro sob uma tensão deliciosa, focada na presença dela no cômodo.

Tem como isso ficar mais ilícito? Ela está tão perto, mas tão inalcançálvel. Seu uniforme estica sobre a bunda, revelando a calcinha cor-de-rosa.
Minha respiração fica entrecortada, e me esforço para reprimir um gemido.

PORRA, EU SOU UMA TARADA, MISERICÓRDIA.

Ela termina de arrumar o sofá e olha em minha direção. Tento parecer concentrada na planilha, mas os pelos da minha nuca se arrepiam. Pegando a lata de cera,ela passa um pouco no pano em sua mão e dirige-se ao piano. Lançando outro olhar rápido e ansioso para mim,começa o processo lento de polir o instrumento até deixá-lo brilhando. Ela se debruça sobre ele, o uniforme subindo pelas pernas.

MEU DEUS!

Com um ritmo decidido e regular,ela dá a volta no piano,polindo e esfregando, sua respiração ficando mais rápida e forte pelo cansaço. É uma tortura. Fecho os olhos e imagino como eu poderia provocar a mesma reação nela.

Merda. Cruzo as pernas com a esperança que minha boceta pare de latejar com desejo. Isso está ficando ridículo, ela só está limpando o maldito piano.

Depois espana as teclas, que não emitem som algum. Mais uma vez olha para mim, desvio depressa  o olhar para os números na planilha, que flutuam na página, sem fazer sentido algum. Quando ouso olhar em sua direção, ela está abaixada,pensativa, e parece avaliar o rascunho no suporte. Está observando minha composição com a testa franzida, como se estivesse concentradíssima.

ELA SABE LER MÚSICA?
SERÁ QUE ESTÁ LENDO O QUE COMPUS ?

Ela ergue a cabeça e seu olhar encontra o meu. Seus olhos se arregalam de constrangimento, e ela umedece o lábio superior com a língua enquanto as bochechas coram.

CACETE.

Desviando os olhos, ela se abaixa atrás do piano, suponho que para espanar as pernas ou o banco.
Não consigo aguentar.
Levo um susto com o toque do celular.  É Jack.

— Alô. — digo, com a voz rouca, grato como nunca por uma interrupção. Preciso sair da sala.

DROGA, EU TINHA PROMETIDO A MIM MESMA QUE NÃO IA DEIXAR QUE ELA ME EXPULSASSE DE NOVO.

— Srta. Luthor?
— Sim. Jack. O que foi?
— Temos um problema de planejamento que acho que vai precisar da sua atenção.
  Vou até o corredor enquanto Jack faz um discurso sobre sofitos e paredes de apoio nas obras em Mayfair.

LADY-LUTHOR -KARLENA Onde histórias criam vida. Descubra agora