Cap.33

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Terceiro morro que eu estou subindo atrás dele, dentre becos e vielas fiquei encucada com toda situação e a cada dia fico mais agoniada com a vida de todas nós! Isso não é vida, não merecemos nada disso pois nada do que estamos fazendo é por vontade própria. Tô caçando o pitbull mas não vou brigar com ele por que por mais que eu seja galo de briga eu tenho que me preservar pela minha bebê.

Zury só tem 4 anos e 3 meses, vai pra creche todos os dias e todos os dias pergunta da mãe "Cadê a mamãe?" "Eu quero a mamãe" "por que a mamãe não fica sempre comigo?" Ela faz inúmeras perguntas pra tia dela, Carol, perguntando de mim o tempo inteiro e isso acaba comigo.

Só quem é mãe sabe o que é isso, já tentei muito, muito, conversar com o pitbull mas o máximo que ele deixa é eu ir pra minha casa sexta feira à noite, e é claro, eu nunca consigo ir. Sexta feira é o que a gente chama de moneyday por que é o dia que a casa mais faz dinheiro juntando com os sábados e domingos. E ele sabe disso, ele sabe que eu tenho que escolher ou entre fazer dinheiro ou ver minha filha e perde quase 1800 reais (na noite).

Porém, minha filha é muito mais importante. Já sou macaca velha, nasci em Paraisópolis e sou limitada a somente aqui, por ser a mais velha tenho alguns privilégios e uso uns macetes pra escapar de dia da semana. Sempre que posso vou na casa minha casa olhar a Zury e me acabo com a minha bebê, cada segundo é precioso e eu luto muito pra ele não tirar mais isso de mim.

Por que ele já tirou tudo.

Eu não tenho mais nada a não ser minha filha, a única coisa que ele fez que eu não tenho rancor, ou aversão. Por mais que tenha sido da maneira mais violenta, acabou resultando na única coisa que estou vivendo para!

Cheguei na casinha já sendo avistada pelos vapores.

-Boa tarde! Quero falar com o pitbull, assunto da casa.

Me olharam indiferente, apenas um deles pegou o radinho e se comunicou com o pitbull.

-Pode mandar subir.- Assim que ele terminou de falar abriram o espaço pra mim me deixando subir. Analisei o lugar, como sempre, e reparei algo estranho... quase não tinha vapor aqui na casa, estava um silêncio ensurdecedor, mesmo assim não temo nada então segui em frente até a sala. Bati na porta impaciente e entrei assim que ele permitiu.

Estava de costas pra mim, fechei a porta sem girar o meu corpo por que cada segundo que você fica de costas pra esse filha da puta ele pode dar um tiro no meio da sua cabeça, não dá pra ficar confortável na presença dele. Sempre esteja atenta, sempre!

-O que Cê quer, Sheron?- assoprou a fumaça do charuto.- como tá a minha fi-

-Cala a porra da boca! Não fala da minha filha, ela não é sua e nunca será...você nem sabe o nome dela, não aja como se gostasse dela. Não vim aqui pra isso! Vim pra falar da covardia que você fez com a Jhay.

-Abaixa a bola Sheronzinha, cê não tá falando com aquelas piranha não, tá ouvindo? Tá falando comigo caralho quando que eu virei bagunça nessa porra? Que ideias são essas?- se virou rápido acabando com o resto do cigarro que tinha em mãos. Disse em tom calmo... assustador. Preferi me calar, não tô pra desafiar ele hoje.

Hoje não.

-E outra, o que tu tem haver com o que eu faço ou deixo de fazer com essas putas que tu trabalha?

-Sabe o que eu tem haver? Como assim você simplesmente acaba com a cara da menina e quer que ela saia por aí fazendo programa pra você? Não tem noção? Ela não consegue nem andar Pitbull.

-Fodasse, ninguém mandou essa mina me desafiar. Cê sabe o que acontece, cê não é como mãe, irmã, sei lá delas? Não avisou por que? Tá fazendo um mal trabalho, linda.- Fez questão de me olhar de cima a baixo

-Não debocha de mim! Só vim aqui dizer pra aliviar pro lado dela entendeu? Adianta de que você ficar batendo nas meninas? Caralho, como que elas vão trabalhar e encher o seu cu de dinheiro? Cê acha que eu não sei que mês passado a gente fez quase 25 mil? 25 MIL reais!! Você obrigou a gente vender a nossa dignidade e a gente não recebe 1% disso. Qual é a porra do se-

Bateu na mesa tão brutalmente que achei que iria quebrar e veio até mim em passos rápidos e apertou meu maxilar com força o que me fez ficar presa contra a parece- CALA A BOCA! CHEGA! EU TÔ CANSADO DE VOCÊ, DESSAS PUTAS, DO PAI DAQUELA VAGABUNDA E DA PORRA DA SUA VOZ.- empurrou meu rosto mas não saiu de perto de mim, eu senti o ódio que tenho dentro de mim crescer ainda mais, se é que essa merda é possível.

Apontou o dedo na minha cara como se eu fosse uma escrava desobediente- Vou falar só uma vez por que não devo satisfação pra você, só te dou um alívio por causa da Zury... só bati nela por que ela negou pra mim e ninguém me nega o que eu quero. A filha da puta revidou não tá vendo? Olha aqui- virou o rosto, o pescoço com hematomas e realmente, ela lutou, e lutou muito... o que só deixou a situação mais triste.

-Quase que quem me dá um cacete era ela...- saiu de perto voltando pra cadeira- Agora sai daqui, só volta quando eu mandar ou se for por causa da Zury.

-Um dia você vai pagar, você é um demônio e está morto pro dentro... mas eu juro que algum dia você vai implorar pra terem dó de você... Nem que seja no inferno, seu inútil.- debochou de mim e assim eu sai o mais rápido que pude.

Eu juro pela minha filha, todas nós teremos justiça nem que eu faça por mim mesma!

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