Capítulo 3: Andar com fé

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Lembrando que essa história é um romance lésbico, quem não gosta, não leia! 💋

Não é G!P

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– "Uma erosão, uma terrível tromba-d'água que deixou nossa família para sempre deformada. As camadas da perda fazem eu me sentir fina como um papel." —
Chimamanda Ngozi Adichie

Point Of View — Karla Camila dos Santos e Souza

Ao sair do trabalho naquele fim de dia, senti-me exausta, ansiando pela minha cama. Odiava quando meus patrões me exploravam, ultrapassando os limites nos pedidos de serviços. Muitas tarefas eram destinadas a duas pessoas, mas, como são mesquinhos, eu tinha que realizar tudo sozinha. Ainda estava chateada com seu Otávio pela fala insensível que ele teve logo nos primeiros dias. Às vezes, dava vontade de jogar tudo para o alto. O ônibus estava lotado naquele horário, tive que ir de pé segurando firme o corrimão, temendo cair no arranca e para. Minha cara estava desgostosa já que o homem ao meu lado estava fedendo igual um urubu.

— Meu amigo, faça o favor de não aproximar mais esse sovaco da minha cara, seu CC vai me matar! — declarei indignada vendo ele ficar roxo de vergonha. — Meu irmão, vê se pode. Vá passar um desodorante! — falei impaciente e ele negou com a cabeça me chamando de doida. — Doido é você, que não faz a higiene e acha que a gente tem que pagar por isso! — declarei me afastando dele, achando outro canto para me apoiar. Vejo algumas pessoas rindo e negando com a cabeça. Ainda bem que faltava pouco para que eu chegasse até meu ponto. Retirei o meu celular da bolsa vendo a lista de coisas que minha irmã falou que precisava comprar e estranhando que ela tinha feito uma transferência de quinhentos reais para minha conta, Geise Carolina com dinheiro? Isso é até milagre.

Mentalmente, preciso lembrar de perguntar de onde essa garota está tirando dinheiro; normalmente, ela ajuda, mas não em grandes quantias. Geise era esforçada, e eu me orgulhava demais dela, embora às vezes quisesse dar com um cabo de vassoura nela. Minha irmã é minha filha mais velha, e eu faço de tudo por ela. Infelizmente, a ausência dos nossos pais a afetou muito mais do que a mim. Mesmo antes de ir embora, minha mãe já a negligenciava, tratando-a como uma adulta, mas ela não tinha nem cinco anos. Lembro-me dela sempre atrás de mim, literalmente escondida atrás da aba da minha saia. Dividimos a mesma cama, e por vezes ela tinha pesadelos e acabava fazendo xixi, o que resultava em surras. No entanto, após um tempo, aprendi a resolver esse problema sozinha, evitando que ela fosse castigada. Nossos pais não nasceram para serem pais, mas infelizmente nos colocaram no mundo. Faltou amor e carinho para ambas. É por isso que temos um apego gigante, e eu faço tudo por ela, até o fim.

Geise tinha sofrido algumas tentativas de abuso sexual na infância. O homem que se diz nosso pai tentou agarrar a menina algumas vezes, foi aí que minha avó expulsou ele da nossa casa e passou a criar nós duas. Eu nunca deixava a garota sozinha com ele, mas em um dia fui estender roupas na laje e quando voltei ele estava em cima dela, apertando-a de forma brusca e tentando abrir suas pernas. Peguei a primeira coisa que vi pela frente e ameacei ele. Era uma faca grande de cozinha. Ela chorava desesperadamente, e eu me senti impotente, acreditando que não a tinha protegido o suficiente. Lembro-me de pegá-la e correr até a casa da minha avó, que ficava um pouco acima da nossa. Minha avó permaneceu em silêncio, consciente de que abusadores na favela não eram tolerados, mas conseguiu expulsar meu pai de casa, assegurando que ele nunca mais voltasse.

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