O dia amanhecia calmo como de costume. Vizinhança calada, apenas barulho de alguns carros passando. Se tornou algo cotidiano essa calmaria, as vezes entediante, mas um bom lugar para pensar e compor.
Fiquei olhando para o teto por um tempo, apenas sentindo meu corpo afundar na cama. Escutei a porta do quarto sendo aberta.
— Vai passar o dia deitada, minha neta? — minha vó disse na porta do quarto.
Uma senhora de 65 anos, doce como mel. Mas não se engane com sua doçura e delicadeza, ela pode facilmente quebrar um cabo de vassoura em quem ousar mexer com seus filhos e netos.
— Hoje a noite vai ter show, vovó — falei enquanto sentava na cama e amarrava meus cabelos em um rabo de cavalo frouxo — Essa semana está sendo tão cansativa. Só essa semana foram três shows, UM ATRÁS DO OUTRO! — praticamente gritei, me jogando na cama novamente.
— Você sabe que eu apoio você em tudo que fazes, mas desse jeito você vai acabar pegando uma anemia, que Deus o livre — Minha vó sempre foi uma segunda mãe para mim, e se tornou mais ainda com a partida da minha primeira.
— Não se preocupe — levantei indo em direção a ela, abraçando-a e sussurrando em seu ouvido: — O céu é o limite, vovó.
Fui em direção ao banheiro para tentar acordar melhor. Mesmo querendo muito eu não poderia me dar ao luxo de passar o dia deitada.
Amarrei meu cabelo em um coque desajeitado, levei meu rosto e em seguida me despi. Entrei no box e liguei a água que estava pior que água recém tirada do congelador.
— Um dia eu quero ter o luxo de tomar banho com água quentinha — falei choramingando enquanto molhava meu corpo.
— Papai do céu, me dá um namorado — cantei enquanto colocava shampoo nas mãos — Lindo, fiel, gentil e tarado. Xuxu, xuxuzinho, par de vaso, minha uva, meu vinho. — dançava enquanto esperava o creme fazer efeito no cabelo.
Quanto terminei meu banho fui procurar uma roupa confortável para vestir, até porque eu só iria sair mais tarde de casa.
Optei por vestir um short preto e um top do Brasil, combinação perfeita no calor.
— Bom dia, dia, bom dia sol. — falei abrindo a janela do meu quarto.
Logo pela manhã podíamos ver pessoas andando com sacolas de compras, crianças e adolescentes indo para escola, senhoras molhando suas plantas. As vezes era tão monótono que chegava a ser entediante.
Sai do meu quarto e fui pra cozinha, onde minha vó colocava a mesa, com bolo, suco, café. Tem coisa mais linda que essa?
— Minha filha você tá tão magra que é capaz de sua guitarra te carregar ao invés de você carregar ela — minha vó fala em um tom brincalhão.
— Vovó! É meu charme — ri junto da senhora que servia nosso café.
★ ★ ★
18:34 PM.
Eu estava sentada na calçada de casa fazendo desenhos aleatórios no chão com uma pedra qualquer, esperando meu primo chegar para irmos até o local que seria o show de hoje.
Nossa banda não era tão conhecida, acho que nem podemos chamar de banda na verdade. Era apenas eu, meu primo e um amigo dele. Fazíamos covers, a maioria em inglês, ja que eu era apaixonada na língua inglesa e bom, digamos boa também.
— Eai bolinha, de boa? — meu primo chegou naquela coisa que ele chama de carro.— Finalmente! — adentrei no carro — E de novo, para de me chamar assim, é tão brega — "bolinha" foi o apelido que ele me deu quando éramos crianças ainda, pois eu era gordinha. Esse gordo fóbico.
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𝐄𝐍𝐐𝐔𝐀𝐍𝐓𝐎 𝐇𝐎𝐔𝐕𝐄𝐑 𝐒𝐎𝐋, sérgio reoli
أدب الهواة𝐇𝐞𝐥𝐞𝐧𝐚 𝐌𝐚𝐢𝐚 𝐀𝐥𝐛𝐮𝐪𝐮𝐞𝐫𝐪𝐮𝐞, apenas mais uma moradora comum da cidade de Guarulhos. Mas, em 1989, foi o ano em que sua vida avançou mais um degrau, depois de conhecer cinco meninos, que assim como ela, sonhavam em ganhar a vida e o...