HELENA MAIA
A van estava começando a andar um pouco mais devagar, sinalizando que já estávamos chegando em nosso destino. Acordei com Sérgio ainda dormindo, balancei ele de leve, tentando acorda-lo.
— Hum... O que? O que foi?
— A gente já chegou, dorminhoco. — falei acariciando de leve o cabelo dele.
Olhei ao redor e só tinha eu, os irmãos Reoli e o japonês na van, provavelmente Dinho e Júlio já tinham descido.
Não demorou muito até ser a minha vez de descer. Me despedi dos meninos e desci, tudo já estava desligado em casa, não me surpreende, minha avó amava dormir cedo.
Andei até a parte da frente do portão, abrindo o mesmo em seguida, o portão rangeu um pouco, devido estar um pouco enferrujado. Andei sobre a pequena calçada de pedras até chegar na porta principal, fui até um vaso de plantas que tinha ali e enterrei minha mão naquela areia, procurando a chave que minha avó sempre deixava por ali.
Assim que entrei em casa, me deparei com uma pequena luz ligada em cima da mesa de centro, e minha avó sentada em sua cadeira de balanço, com diversos lençóis por cima de si, e uma xícara em mãos.
— Vovó? O que faz acordada tão tarde assim? — me aproximei lentamente.
— Filha — ela parecia um pouco apreensiva.
Ela apontou para um folheto que tinha em cima da mesa, perto da pequena luz que tinha ali. Me aproximei lentamente, olhando atentamente o papel.
Parecia um bilhete, mas a letra não era tão legível. Peguei o papel e aproximei ainda mais da luz, arregalando os olhos ao ler o nome na assinatura.
Não pode ser...
— Vovó, o que é isso?... — olhei assutada para ela.
— Filha, eu acho que seu pai foi solto...
— Não, vovó... Isso não... — levantei rapidamente de onde eu estava e comecei a andar de um lado para o outro, preocupada.
Um nervosismo começou a me consumir completamente, logo as lágrimas já estavam rolando pelo meu rosto.
O meu medo passado estava voltando, o homem que tirou minha mãe de mim estava voltando, eu estou completamente perdida.
— Helena, se acalma. — minha avó veio até mim, me abraçando. Eu já estava chorando tanto que começava a soluçar no colo da minha avó.
Um sensação horrível se instalou no meu peito, a mesma dor que eu senti naquela noite voltou a tona, tantos anos depois...
Por que, por que justo quando a minha vida está começando a melhor? Por que?!
— Ele não vai trocar uma palavra com a gente, meu amor... — minha avó falou, trazendo um copo d'água para mim e sentando do meu lado no sofá.
Enquanto bebia água, tentava respirar fundo e manter a calma. O que estava sendo impossível.
Por alguns anos, achei que com meu "pai" estando preso, eu teria um pouco de paz, o que não foi possível, já que em pesadelos ele continuava me assombrando.
— Eu tenho tanto medo...— falei por alto.
— Eu sei que tem, meu amor — minha avó acariciou meu cabelo. — Eu também tenho, mas diferente de mim, você estava lá quando tudo aconteceu, e eu compreendo perfeitamente o seu medo.
— Eu presciso dormir um pouco, ou pelo menos tentar...— levantei lentamente e depositei um beijo na testa da minha avó, em seguida fui para meu quarto.
Não me preocupei em fazer outra coisa, a noa ser me jogar na cama e fechar os olhos, tentando descansar a minha mente.
No outro dia, não teríamos show, ainda bem, pois eu estava exausta.
Enquanto eu estava de olhos fechados, minha mente não parava por um segundo se quer, aquilo já tava começando a me agoniar. Logo eu comecei a suar muito, devido eu estar me mexendo demais na cama.
Eu precisava de ar, na verdade, eu precisava de alguém que fosse um conforto para mim. Eu precisava ver ele.
Estava tarde, bem tarde pra falar a verdade. Mas eu não ligava, só precisava passar pelo menos cinco minutos ao lado dele.
Levantei da cama e peguei um casaco que estava na porta do guarda-roupa. Podia estar quente no meu quarto, mas provavelmente estaria muito frio lá fora.
Fui até a janela e abri com cuidado, para não fazer barulho. Pulei rapidamente na grama um tanto áspera.
Limpei minha calça e sai em direção ao portão, abrindo vagarosamente o mesmo, que fez um barulho baixo.
Não tinha ninguém nas ruas, mas algumas casas tinham algumas luzes acessas. Segui meu caminho rapidamente, teria que dar uma pequena caminhada até chegar na casa de Sérgio.
Quando cheguei na frente da casa dele, todas as luzes já estavam apagadas, mas com um pouco de sorte, eu iria acertar qual era a janela do quarto de Sérgio.
Pulei o pequeno muro com cuidado, não queria que a dona Nena ou o seu Ito me vissem invadindo a casa deles em plena madrugada.
Fui andando lentamente pelos fundos, tentando acertar em qual era a janela certa. Encarei por alguns minutos uma janela, torcendo para que fosse a certa.
Bati levemente na janela, mas sem resposta. Tive que bater um pouco mais forte, o que não foi uma boa ideia, já que a janela quase se quebrou. Espero não ter acordado ninguém da casa.
Passou-se uns minutos, até que alguém abriu a cortina da janela. Era Sérgio, e ele estava com alguma coisa em mãos, provavelmente para se defender caso fosse um ladrão.
Ainda com a janela de vidro fechada, Sérgio me observava confuso. Dei um "tchauzinho" para ele.
Ele continuou me olhando atordoado por um tempo, até finalmente abrir a janela e passar a mão pelo olhos, provavelmente ele achava que estava sonhando.
— Não me leve a mal, mas o que você tá fazendo aqui nesse horário? — ele perguntou.
— Bom... É uma longa história — passei a mão pelo cabelo. — Mas, resumindo, aconteceu, ou melhor, pode acontecer coisas ruins, então eu precisava ver você.
— Sou tão importante assim pra você? — ele falou, provocando.
— Para se ser convencido! — me aproximei da janela e dei um soco de leve no ombro do mesmo.
Logo depois, Sérgio falou para eu pular a janela e entrar em seu quarto, pois estava bastante frio do lado de fora.
Eu e ele deitamos na cama e nos abraçamos por de baixo das cobertas, um aquecendo o corpo do outro.
— Quer dormir aqui hoje? — depois de um tempo em silêncio, Sérgio finalmente falou algo.
— Eu não sei... O que sua família vai pensar?
— Você sabe que eles amam você. Minha mãe em qualquer oportunidade sempre fala de você, meu pai então, nem se fale. — Sérgio riu um pouco, me deixando mais confortável para me aconchegar em seus braços.
Acabamos pegando no sono depois de um tempo jogando conversa fora, eu queria eternizar aquele momento
ao lado de Sérgio.
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𝐄𝐍𝐐𝐔𝐀𝐍𝐓𝐎 𝐇𝐎𝐔𝐕𝐄𝐑 𝐒𝐎𝐋, sérgio reoli
ספרות חובבים𝐇𝐞𝐥𝐞𝐧𝐚 𝐌𝐚𝐢𝐚 𝐀𝐥𝐛𝐮𝐪𝐮𝐞𝐫𝐪𝐮𝐞, apenas mais uma moradora comum da cidade de Guarulhos. Mas, em 1989, foi o ano em que sua vida avançou mais um degrau, depois de conhecer cinco meninos, que assim como ela, sonhavam em ganhar a vida e o...