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    Quando saio do meu quarto, não vejo mais sinal do meu pai

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    Quando saio do meu quarto, não vejo mais sinal do meu pai. A TV está desligada e os cacos de vidro da xícara ainda estão no chão. Não perco tempo pensando em limpar, não quero ficar mais nenhum minuto nessa casa. Seguro firmemente a alça da mochila e tento não chorar.

    Assim que abro a porta, a tristeza invade ainda mais o meu peito. O dia está lindo, o céu coberto de nuvens e o sol brilhando lá em cima. Como pode tudo parecer tão normal quando estou tão mal por dentro?

    Começo a andar pela calçada esburacada. Mas quando ouço o barulho de uma buzina, me viro e vejo o carro de Charlotte.

    — Ah, sua Songamonga, entra no carro agora! — ela grita com a cabeça para fora da janela.

    Reviro os olhos e tento parecer normal. Não quero que ela perceba que estou chateada ou algo assim. Charlotte está feliz, não quero atrapalhar. Ela é a pessoa mais animada que conheço. Não importa se está chovendo ou fazendo sol, se ela pisou em merda de cachorro na rua ou se o jeans que está usando rasgou, Charlotte sempre encontra uma maneira de mostrar o seu lado mais feliz.

    Quando abro a porta do carro Ford Mondeo rosa e sento no banco do passageiro, Charlotte começa a dar gritinhos e me abraça como se não me visse há dias. Ela está linda como sempre. Está usando um vestido da cor de seu carro e o brinco de melancia que sempre está em sua orelha. Minha amiga sempre gostou de vestir coisas coloridas demais e extravagantes demais, ao contrário de mim, que só tenho moletons e calças pretas no meu guarda-roupa.

    — EU CONSEGUI A BOLSA! — diz.

    — AH, MEU DEUS! MENTIRA! PARABÉNS, LOTTE!

    Abro um sorriso imediatamente e a abraço com mais emoção. Gritamos como se estivéssemos um parafuso a menos na cabeça. Não consigo evitar a felicidade que sinto por ela.

  Desde que nos conhecemos na escola, Charlotte dizia que seu sonho era estudar moda em Nova York. E agora, vendo-a realizar seus sonhos, tenho certeza de que o céu é o limite para ela.

    Paramos de nos abraçar quando ouvimos alguém buzinando atrás de nós. Charlotte olha pelo retrovisor e faz uma careta.

    — Não sabe esperar, não?! — e ela aperta com força a buzina do seu carro também.

    Vemos o homem passar com o carro em alta velocidade depois que ela começa a dirigir.

    — Deve estar bêbado — digo e continuo olhando  pensativa pela janela.

    Charlotte desvia o olhar da estrada e olha para mim rapidamente.

    — Cadê o Jay? Achei que ele ia vir com a gente. — ela pergunta, me deixando sem palavras por alguns segundos.

    Não quero contar a ela o que aconteceu ainda. Ela está tão animada, não quero que se preocupe comigo. Sei que parece errado não querer contar, mas só por hoje quero que ela aproveite apenas o sabor de sua conquista.

Borboletas de papelOnde histórias criam vida. Descubra agora