Capítulo 7 - Fora de cena

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_ Por isso não quero saber de homem em minha vida. _ Zoe senta ao meu lado na cama e puxa minha cabeça para seu colo. _ Sou testemunha dos estragos que fazem na vida de uma mulher. Minha mãe nunca mais foi a mesma depois que meu pai partiu deixando-nos falidas e endividadas.

Fungo e me encolho. Tenho a sensação de que um trator passou por cima de mim nas últimas horas.

_ Como ele pôde ser tão calculista? _ Levanto e encaro minha amiga. _ Será que sempre foi assim e eu que estava cega? _ Falo sobre Gael.

_ Tem pessoas que mudam quando há dinheiro e poder envolvidos. E outras são dissimuladas e conseguem disfarçar bem. _ Zoe suspira.

Sei que minha amiga se refere não só a decepção que acabo de vivenciar como ao passado lamentável de sua família.

_ Onde ela está? _ Ouço a voz de trovão de meu pai.

Dalmo Brandão irrompe o quarto e me observa do batente da porta. O encaro durante alguns segundos e já estou com as "comportas de lágrimas abertas".

_ Sua mãe me contou tudo.

Salto da cama e mergulho nos braços abertos que sempre foram meu porto seguro.

_ Me perdoa por não ter te ouvido. Você estava certo. Fui uma idiota.

Ele alisa minha cabeça e me consola com um chiado.

_ Isso não interessa mais. O que importa agora é que está livre daquele encosto. E ele vai pagar por ter brincado com minha filha.

_ O que vai fazer? _ Ergo a cabeça de seu peito.

_ Por enquanto, acionei nosso advogado. Melhor que aquele verme não cruze meu caminho, ou vou desmontar a cara dele.

_ Pai, não quero que faça nada imprudente. Não vou me perdoar se te prejudicarem de alguma forma.

_ Ei! Vamos parar com isso! Sou experiente em lidar com esse tipo de gente. Não tem que ter medo de nada, ouviu bem? _ Ele segura meu rosto nas mãos grandes e seca as lágrimas com os polegares.

Sons de vozes discutindo nos interrompe. Tenho a impressão de ouvir a voz de Gael entre elas.

Vejo na expressão de meu pai o exato momento em que ele reconhece também a voz do meu ex. Dalmo Brandão abre um sorriso cheio de segundas intenções que me assusta.

_ Não acredito que ele teve a audácia! _ Meu pai vira as costas e sai do quarto com o mesmo ímpeto em que entrou.

Zoe e eu nos entreolhamos e corremos.
Do alto da escada observo a cena ridícula. Na entrada da casa, Gael tenta driblar nosso caseiro e o motorista de meu pai. Quando me vê ele insiste em entrar.

_ Malu! Me dê somente alguns minutos para conversarmos. Vou esclarecer tudo.

_ Como se atreve a invadir minha casa depois do que fez, seu infeliz! _ Meu pai avança em direção a Gael.

_ Segurem ele! Dalmo, não faça nenhuma besteira! _ Minha mãe grita do meio da sala de estar.

Imediatamente, nosso caseiro, que está com nossa família desde minha infância, tenta conter meu pai.

_ Não suje suas mãos, senhor. Já acionei a polícia.

Gael arregala os olhos quando ouve que a polícia está a caminho.

_ Vai se arrepender por não me dar a chance de explicar, Malu. Tudo o que fiz foi para conquistarmos nossos objetivos. Não sinto nada por Valéria. Ela é apenas um trampolim.

Desço os degraus hipnotizada pelas palavras que saem da boca de Gael e só revelam os valores distorcidos e o caráter estragado que ele escondeu por tanto tempo.

_ Malu não se aproxime desse elemento. _ Meu pai adverte.

Paro a alguns metros de Gael.

_ Como tem a coragem de dizer que tudo o que fez foi para me beneficiar? _ Minha garganta arde por tentar prender o choro. _ Depois de me trair e sujar meu nome perante a mídia, o que quer mais de mim?

Gael parece finalmente se dar conta de que não há mais nenhuma chance entre nós.

_ Malu, eu...

_ Saia da minha casa e nunca mais me procure. A partir de agora fale somente com nosso advogado. Já conseguiu o lugar que queria na emissora. Mantenha-o agora se for capaz.

A expressão de Gael muda ao sentir o impacto de minhas palavras. Ele para de lutar com nosso motorista. Vejo o olhar de orgulho de meu pai ao meu lado. Gael vira as costas e caminha para fora.

_ Nos falamos quando estiver mais calma...

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_ Não gosto da ideia de você se afastar de nós em um momento como esse. _ Minha mãe me observa com expressão aflita enquanto jogo uma mala na cama e começo a colocar algumas peças de roupas e objetos pessoais.

_ Muito pelo contrário, esse é o momento ideal para me afastar. Ficou claro que Gael não desistirá de nos atormentar. Comigo longe ficará mais difícil para ele.

_ Fora que ficar longe da mídia por um tempo poupará bastante sua imagem. A única coisa que me incomoda é o fato de ir sozinha. Tem certeza de que não quer que eu a acompanhe? _ Zoe me observa impotente.

Seguro seus ombros.

_ Não seria justo parar sua vida em função da minha, amiga. Tem seu trabalho e sei que se sente responsável por sua mãe.

Zoe concorda com um aceno.

Meu pai surge no quarto.

_ Faça alguma coisa, Dalmo. Ela pretende viajar assim na correria. _ Minha mãe mantém a mão no peito com uma postura aflita.

_ Ela está certa, Natalice. Se afastar do olho do furacão nesse momento é uma boa estratégia. Tem muito abutre com sede de fofoca nesse nosso meio.

_ Não estamos falando de um esquema de jogo, Dalmo! Trata-se da vida de nossa filha. Não quero que fique longe de nós assim com o coração partido.

Me aproximo e seguro o rosto de minha mãe.

_ Vou ficar bem. Não se preocupe. Não vou fazer nenhuma besteira, prometo. Sabe que sou forte. Só preciso de um tempo longe dessa bagunça para repensar minha vida.

_ Verdade. Aqui ela não poderá nem sair de casa, tia. _ Zoe me ajuda a acalmar minha mãe.

Minha mãe suspira.

_ Está certa. Mas tome cuidado. Fale comigo todos os dias.

_ Deixe comigo. Acredito que terei tanta coisa de meu tio para organizar no Canadá que nem terei tempo de pensar no que aconteceu...

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