Will
Bato de leve na porta do quarto, sem obter resposta. Giro a maçaneta e abro uma brecha. Ela está em pé em frente a janela.
_ Não vai almoçar? _ Sondo para saber como está seu humor depois de nossa breve discussão.
_ Depois como alguma coisa. _ Responde sem virar.
_ Escuta. A sopa ficou boa. Experimentei um pouco.
Ela vira em minha direção.
_ Isso é sério ou está mentindo porque ficou com a consciência pesada?
_ Estou falando sério. Vamos logo. Passei a manhã trabalhando em seu carro e estou faminto.
Meu argumento funciona, porque finalmente ela vem em direção à porta e descemos juntos.
Deixei a mesa arrumada e servi a sopa preparada por ela em tigelas de barro para conservar a temperatura.
_ O macarrão cozinhou demais. _ Com uma careta, ela remexe a sopa.
_ Prefiro assim, facilita na digestão. _ Dou uma colherada em minha tigela e tento mastigar naturalmente.
_ Está sem sal. _ Critica novamente a refeição que preparou.
_ Excesso de sal faz mal a saúde. _ Esforço-me para convencê-la de que fez um bom trabalho, apesar de realmente a sopa estar intragável.
Ela larga a colher na mesa.
_ Isso está horrível, Will. Tem gosto de queimado. Não quero que coma por pena. _ Tenta tirar a tigela da minha frente. Eu seguro.
_ Mas eu gostei! Deixe-me comer. Estou com fome.
_ Dê-me isso aqui. _ Puxa a tigela para longe.
Brutus observa-nos atordoado.
_ Você é uma mulher muito teimosa, sabia? _ Canso de lutar.
_ E você, não sabe mentir.
Bufo exasperado e mudo de assunto.
_ Seu carro está pronto.
Ela me olha atenta.
_ Sério?!
Confirmo com um aceno de cabeça.
_ Está aí na entrada. _ Aponto com o queixo.
Ela sai correndo para fora da casa. Brutus a acompanha.
_ Traidor... _ Sussurro entredentes.
Permito-me um tempo para controlar as emoções. Apoio a testa nos punhos e fecho os olhos.
_ Idiota. Sabia que essa hora ia chegar. Pensou que ela viveria para sempre nesse fim de mundo?
As situações aconteceram rápido demais e mal tive tempo de erguer o muro da indiferença que me protegeria agora...
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Malu
_ Tem certeza de que não quer me acompanhar? _ Pergunto a Will que está parado diante à janela do carro na manhã seguinte.
_ Já disse que não vou ao centro. _ Olha para o alto em direção às montanhas.
Aproveito para admirá-lo. Will é um homem sem muita vaidade, mas possui uma beleza tão natural. O ar selvagem no olhar e nos movimentos do corpo bem definido, esculpido pelo trabalho com a madeira e os exercícios que pratica na neve, causam um efeito hipnótico sobre mim.
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Uma cabana na montanha
RomanceMaria Lúcia Brandão está prestes a se consolidar na carreira jornalística, tornando-se "âncora" do noticiário mais assistido em todo o país. Malu, como é conhecida na TV, seguiu os passos do pai, Dalmo Brandão, ex-atleta de basquete e atual comentar...