Capítulo 23 - Revelações - Parte 1

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Will

Bato de leve na porta do quarto, sem obter resposta. Giro a maçaneta e abro uma brecha. Ela está em pé em frente a janela.

_ Não vai almoçar? _ Sondo para saber como está seu humor depois de nossa breve discussão.

_ Depois como alguma coisa. _ Responde sem virar.

_ Escuta. A sopa ficou boa. Experimentei um pouco.

Ela vira em minha direção.

_ Isso é sério ou está mentindo porque ficou com a consciência pesada?

_ Estou falando sério. Vamos logo. Passei a manhã trabalhando em seu carro e estou faminto.

Meu argumento funciona, porque finalmente ela vem em direção à porta e descemos juntos.

Deixei a mesa arrumada e servi a sopa preparada por ela em tigelas de barro para conservar a temperatura.

_ O macarrão cozinhou demais. _ Com uma careta, ela remexe a sopa.

_ Prefiro assim, facilita na digestão. _ Dou uma colherada em minha tigela e tento mastigar naturalmente.

_ Está sem sal. _ Critica novamente a refeição que preparou.

_ Excesso de sal faz mal a saúde. _ Esforço-me para convencê-la de que fez um bom trabalho, apesar de realmente a sopa estar intragável.

Ela larga a colher na mesa.

_ Isso está horrível, Will. Tem gosto de queimado. Não quero que coma por pena. _ Tenta tirar a tigela da minha frente. Eu seguro.

_ Mas eu gostei! Deixe-me comer. Estou com fome.

_ Dê-me isso aqui. _ Puxa a tigela para longe.

Brutus observa-nos atordoado.

_ Você é uma mulher muito teimosa, sabia? _ Canso de lutar.

_ E você, não sabe mentir.

Bufo exasperado e mudo de assunto.

_ Seu carro está pronto.

Ela me olha atenta.

_ Sério?!

Confirmo com um aceno de cabeça.

_ Está aí na entrada. _ Aponto com o queixo.

Ela sai correndo para fora da casa. Brutus a acompanha.

_ Traidor... _ Sussurro entredentes.

Permito-me um tempo para controlar as emoções. Apoio a testa nos punhos e fecho os olhos.

_ Idiota. Sabia que essa hora ia chegar. Pensou que ela viveria para sempre nesse fim de mundo?

As situações aconteceram rápido demais e mal tive tempo de erguer o muro da indiferença que me protegeria agora...

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Malu

_ Tem certeza de que não quer me acompanhar? _ Pergunto a Will que está parado diante à janela do carro na manhã seguinte.

_ Já disse que não vou ao centro. _ Olha para o alto em direção às montanhas.

Aproveito para admirá-lo. Will é um homem sem muita vaidade, mas possui uma beleza tão natural. O ar selvagem no olhar e nos movimentos do corpo bem definido, esculpido pelo trabalho com a madeira e os exercícios que pratica na neve, causam um efeito hipnótico sobre mim.

Uma cabana na montanha Onde histórias criam vida. Descubra agora