Capítulo 33 - Uma cabana na Montanha

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Will insistiu em me levar ao hospital por causa da queda que sofri com a lateral do corpo. Fui examinada e apesar do local estar dolorido e com uma grande mancha roxa, não houve trauma. Ele também recebeu um curativo no rosto, perto do olho direito.

_ Por que está tão calada? A dor aumentou ou ainda está aborrecida porque eu não quis registrar queixa na delegacia? _ Will olha-me rapidamente enquanto dirige a caminhonete.

Esvazio os pulmões de uma só vez.

_ As vezes você é muito frustrante, sabia? Esses criminosos não podem ficar impunes. _ Respondo olhando para fora pela janela.

A paisagem começa a sofrer mudanças por conta da despedida do inverno rigoroso. Aos poucos os lagos estão descongelando e as árvores e arbustos ganham nova coloração. A primavera se aproxima.

Will desvia o veículo para o acostamento e freia.

Respira fundo antes de se explicar.

_ Pensa que já não fiz isso outras vezes? Sei que não vai adiantar. O rancor e a rejeição dessas pessoas não tem fim.

_ Nada foi provado contra você, além do testemunho de pessoas pouco confiáveis. Ninguém tem certeza do que aconteceu. Ava me contou. _ Viro no banco em sua direção.

Will aperta o volante. Posso sentir a dor comprimindo seu peito.

_ Você não entende. Já revivi essa história milhares de vezes. Estou cansado de tudo isso. Todos os indícios apontam para mim. E não consigo lembrar do que realmente aconteceu. Eu mesmo não acredito em mim. _ As mandíbulas se apertam.

_ Por que não se muda, então? Por que insiste em viver em um lugar onde as pessoas te rejeitam e o tratam tão mal?

_ Porque naquele dia também perdi pessoas que amava. E não sei se fui o causador da morte deles. Sinto que não mereço recomeçar a vida como se nada tivesse acontecido. Tenho que ficar aqui e lembrar todos os dias.

_ Você tem sido muito injusto consigo mesmo. Está se punindo todos esses anos desnecessariamente. Isso não os trará de volta. Tem que se perdoar. Não permita que pessoas cheias de defeitos te julguem. _ Toco a mão de Will presa firmemente ao volante. _ Tenho certeza de que não foi o culpado.

Will vira rápido a cabeça e me olha surpreso.

_ Como pode ter tanta certeza?

_ O convívio com você me mostrou quem verdadeiramente é. Sei que não faria mal a inocentes de propósito.

Os olhos de Will brilham. Talvez ainda tenha um fio de esperança de não ser o único culpado por toda a tragédia. E agora, que tem falado mais abertamente sobre o assunto, posso entender a dor, a vergonha e o peso que carrega.

Descobrir o que realmente aconteceu e mostrar a verdade para esse povo se tornou minha nova missão de vida.

_ Conhecia algum daqueles caras que nos atacou? _ Uno as sobrancelhas.

Will acena a cabeça em negativa.

_ Não lembro deles. Apesar, de que há muito tempo não ando pelo centro de Robson. Então, podem ser novos por aqui.

_ Entendo. E quanto ao frentista do posto? Qual a ligação entre vocês? Disse que estudaram juntos no Ensino Médio. Foram amigos no passado? _ Meu instinto de repórter investigativa aflora.

Will olha para o nada como quem força a memória.

_ Nunca fomos próximos. Ross era de outra turma e costumava andar com outros caras.

Algum pensamento o deixa em alerta. Então, me encara.

_ Ele andou te incomodando novamente? Seguiu você enquanto esteve no centro?

Uma cabana na montanha Onde histórias criam vida. Descubra agora