Capítulo 6 - Conversa na escadaria

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Enquanto dirijo, uma revolta vai crescendo dentro de mim por conta das mentiras e comentários maldosos a meu respeito. Tento ligar várias vezes para Gael, mas todas as ligações caem na caixa postal.

Ainda no meio do caminho para o complexo de gravações, meu pai liga. Está furioso e já acionou um advogado para processar os responsáveis pelo site de fofocas.

Desço do carro, puxo o capuz para a cabeça e entro no prédio. Levanto a mão com o crachá para o porteiro que me olha alarmado.

Com certeza já viu a postagem.

Passo pela roleta, cruzo o saguão e sigo para os elevadores. Entro no primeiro que abre a porta. Encolho-me em um canto e tento passar incógnita pelos outros.

Desço no andar da redação e sigo em direção à sala de minha redatora chefe que fica no fim do corredor. Trombo em Every, a assistente de Valéria.

_ Malu?! _ Ela me olha como se visse uma assombração. _ Não estava de folga hoje? O que está fazendo aqui?

_ Preciso falar com Valéria. Ela está?

_ Está. Quer dizer, não! _ Every aumenta o tom da voz. _ Ela não está. Na verdade, acabou de sair.

Franzo a testa estranhando o comportamento de Every. É sempre tão calma e concentrada no trabalho.

_ Sabe se vai demorar?

_ Não tenho certeza. _ Every olha várias vezes para a porta da sala de Valéria.

_ De qualquer forma, vou esperar. _ Caminho decidida. _ O que tenho para falar é urgente.

Every me segue ansiosa.

_ Melhor voltar outra hora, Malu.

_ Vou esperar o quanto for preciso, Every. Está ciente do que publicaram a meu respeito nas redes sociais. Valéria é minha chefe e preciso garantir de que essas mentiras não me prejudiquem no trabalho.

_ Já vi sim. Mas acontece que não é uma boa hora. _ A garota se mostra determinada a me impedir de entrar no escritório.

Chego a ter a impressão de que quer esconder algo.

Coloco a mão na maçaneta da porta e escancaro antes que Every me impeça de entrar.

Ela desiste.

Eu paraliso.

Fico parada relutante em acreditar que a cena que presencio é real. O casal não se deu conta ainda de que foi exposto. A mulher debruçada sobre a mesa tem a saia erguida até a cintura. O homem sobre ela segura seus braços acima da cabeça. Ela geme, gira o rosto e me vê primeiro parada de boca aberta. Descaradamente, ela sorri.

_ Ah... _ O máximo que consigo verbalizar é um monossílabo de surpresa ou de dor.

Nesse momento é que o homem percebe que está sendo observado. Interrompe os movimentos e me encara. O rosto adquirindo um tom avermelhado. Desperta alguns segundos depois, se levante e fecha rapidamente a calça.

_ Malu... _ Dá um passo em minha direção.

Dou dois passos para trás. Ergo a mão sem dizer nada. Meus olhos se enchem de lágrimas instantaneamente.

A mulher se levanta, endireita a própria roupa e segura o braço dele.

_ Deixe-a ir. Ela já viu tudo mesmo. Não tem o que explicar. _ Observo as unhas longas de Valéria cravadas no braço do meu futuro noivo, agora ex.

_ Não. Precisamos conversar. _ Gael puxa o braço e tenta se aproximar.

_ Não chega perto de mim. _ Consigo sussurrar com o estômago embrulhado.

Every agora tenta me apoiar de alguma forma colocando a mão em minhas costas.

_ Saia da minha frete. _ Empurro a assistente de Valéria e disparo pelo corredor.

Dispenso o elevador, abro a porta da saída de emergência e começo a descer as escadas.

Ouço alguém vindo atrás. Aumento a velocidade quase pulando os degraus. Meu coração parece querer saltar pela boca e meu estômago continua revirando.

_ Malu! Espere, por favor! _ A voz não é de Gael, muito menos de Valéria.

Olho para cima e vejo Every me observando do alto.

_ O quê quer? Não viu a humilhação que passei? _ Minhas pernas fraquejam e acabo sentando em um degrau.

_ Sinto muito pelo o quê acabou de ver. _ Ela me alcança e senta dois degraus acima. _ Mas acredite, não estou feliz com isso.

Olho de lado para Every.

_ Você é assistente dela. Tentou ao máximo protegê-la.

_ Não tentei protegê-la. Estava apenas cumprindo ordens e evitando escândalos. Mas já estava farta da sujeirada que esses dois estavam espalhando pelo escritório debaixo dos olhos de todos.

Sorrio com escárnio. As lágrimas escorrendo pela face.

_ Pelo jeito todos sabiam o que estava acontecendo. A única iludida, burra e cega era eu.

_ Não se culpe. Você foi a vítima. Seu único erro foi confiar demais.

Concordo me levantando.

_ No fim das contas, meu pai estava certo.

_ Espere. _ Every segura meu pulso. _ Tem mais uma coisa que quero falar.

_ Diga logo e me deixe sair ou vou acabar vomitando em você.

_ Sobre as postagens...

Cerro os olhos e sento novamente.

_ O que tem? Sabe quem foi? _ Uma ira ainda maior começa a crescer dentro de mim.

Every admite com um aceno de cabeça.

_ Foi ele, Gael.

Arregalo os olhos e fecho os punhos.

_ Ele queria ocupar o lugar prometido a você na banca do Jornal.

_ Traidor miserável. _ Falo entredentes.

_ Gael foi conquistando Valéria aos poucos, até que ela chegou a esse ponto, completamente apaixonada.

_ Daí por diante foi tudo mais fácil. Ela faria qualquer coisa que ele quisesse. _ Concluo.

Every concorda. Olha para o alto da escadaria conferindo se não tem mais alguém por perto.

_ Estou te contando essas coisas, mas por favor, deixe-me fora disso. _ Ela diminue a voz.

Afirmo com a cabeça e ela continua.

_ Ouvi uma conversa dos dois. Valéria exigiu que Gael espalhasse comentários denegrindo sua imagem para justificar a mudança de planos. Assim ela colocaria ele como "âncora" em seu lugar sem precisar dar maiores explicações à diretoria.

_ E ainda conservaria ele como amante. _ Deduzo.

_ Na verdade, ela também foi usada. É evidente que Gael está se aproveitando.

_ Ele só pensa na carreira. Sempre foi ambicioso. Mas nunca imaginei que chegaria a tanto.

Ergo-me do chão. E essa atitude nunca teve tanto significado em minha vida.

Seco as últimas lágrimas do rosto.

_ No fim das contas, os dois se merecem. Preciso ir. Obrigada pela conversa.

Every acena a cabeça e me observa descer o restante de escada até que sumo de seu campo de visão...

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