Capítulo 46 - Brutus - Parte 1

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Abro os olhos preguiçosamente. Ergo o canto da boca com a vista deslumbrante dos picos nevados das Rocky Montains ao longe. Os primeiros raios de sol se refletem na vidraça da janela do quarto.

Giro o corpo na cama, apoio-me em um dos cotovelos e admiro Will completamente adormecido e inofensivo ao meu lado. Meus olhos percorrem os cabelos castanhos claros desarrumados, os braços definidos por trás da cabeça, o rosto másculo, o peito liso que sobe e desce compassadamente, o abdômen trincado até o triângulo que se esconde por baixo do cobertor.

Sinto-me tentada em acariciá-lo, mas daí o acordaria e acho que é melhor deixá-lo descansar mais um pouco. Will insistiu em que eu voltasse para a cabana, mas me sinto mais confortável na casa de meu tio por enquanto.

Ele acredita que ainda guardo mágoa por ter me mandado embora em nossa última discussão, mas não é verdade. Só acho que esse espaço é necessário até que tudo se defina entre nós.

Aproximo-me devagar e beijo delicadamente seus lábios. Depois descubro-me e saio da cama. Visto a camisa de Will. Mas antes de me afastar sinto uma mão segurar minha perna por trás.

_ Onde pensa que vai? _ A voz de Will está rouca.

Viro e encaro os olhos esverdeados semicerrados.

_ Para casa. Ainda tenho muita coisa para organizar antes que o advogado chegue.

Will se arrasta para mais perto.

_ Por que a pressa? _ Senta na cama.

_ Quero terminar logo de ler todos os documentos. Estou na expectativa de encontrar mais alguma informação importante.

_ Certo. Mas antes... _ Will me puxa com facilidade de volta para a cama.

Caio sobre ele. Gira o corpo e em uma fração de segundos está pairando sobre mim.

_ Temos uma questão muito séria para resolver aqui. _ Suas mãos deslizam por meus braços segurando-os acima de minha cabeça.

_ O quê? _ Arfo ao sentir seus joelhos enveredarem entre minhas pernas separando-as sem nenhuma resistência de minha parte.

Ele se acomoda no espaço e demonstra com movimentos dos quadris o quanto está desperto.

_ Durmo muito melhor quando está por perto. E não tolero a ideia de acordar sem você. Estou viciado no seu cheiro e no seu sabor, Maria Lúcia. O que faremos agora?_ Will diz em meu ouvido enquanto envereda o rosto em minha cabeleira bagunçada.

Uma das mãos desliza por baixo da camisa e circula meu seio com dedos ágeis.

_ Não sei. Tem outra sugestão que não seja eu me mudar para cá,William Belanger?

Ele me observa do alto por alguns segundos. Depois segura a borda da camisa e puxa por minha cabeça.

_ Se não quer ficar, irei com você. Enquanto me quiser, te seguirei por onde for...

Não sou capaz de responder a declaração. Fecho os olhos e tombo a cabeça para trás com a sensação dos lábios de Will deslizando por meu queixo, pescoço e colo. A língua brincando com meus seios e percorrendo pela barriga até o centro mais sensível, úmido e pulsante de meu corpo.

Um gemido escapa de minha garganta...

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Noto os primeiros sinais de recuperação em Will desde que retornou à terapia com a doutora Lin.

Em uma manhã, no antigo escritório de meu tio, Will lembrou de um detalhe que antecedeu à explosão na mina.

Ele estava sentado em uma das poltronas ajudando-me a separar os documentos de Alexander, quando do nada deixou cair a resma sobre o tapete e paralisou com os olhos focados no vazio.

_ Will? _ Ele não responde. _ Está tudo bem?

Após alguns segundos perturbadores, ele me encara. Os olhos arregalados.

_ Alguém passou apressado por mim enquanto eu saia do túnel da mina. A pessoa esbarrou em meu ombro. Não vi o rosto porque usava um capacete. Mas era bem mais baixo que eu e estava praticamente correndo para fora.

_ E depois? _ Pergunto com o coração agitado.

_ Apenas um imenso vazio. Não lembro de mais nada.

_ Deve ter sido o momento em que houve a explosão.

_ Droga. _ Will leva as mãos ao rosto e esfrega até os cabelos.

_ Ei, paciência. _ Aproximo-me. Ele passa os braços por meus quadris e apoia a cabeça em minha barriga. _ Não se cobre tanto. Aos poucos as lembranças surgirão. Já evoluiu muito. Não se deu conta disso?

Will suspira.

_ Eu sei. Mas é frustrante. Além da apreensão que me persegue constantemente de lembrar de algum fato que revele a minha culpa. _ Will apoia o queixo em meu ventre e olha para cima. _ Como vou te encarar se descobrir que fui o culpado por todas aquelas mortes?

_ Pare de se torturar, Will. _ Sento em seu colo.

_ Não faz ideia do conflito interior que tenho travado todos esses anos. _ Will bate no peito com o punho fechado. _ É como se houvesse um outro eu aqui dentro que tenho medo de conhecer.

Abraço sua cabeça e beijo seus cabelos.

_ De uma forma ou de outra vai dar tudo certo, Will. Estarei contigo. Só peço que tenha esperança.

Will puxa-me para mais perto de si. Aconchego-me em seu peito. Mas nosso momento de paz é logo interrompido pelo som de vidro se espatifando.

Imediatamente, Will levanta me segurando. Deposita-me no chão e sai pela porta do escritório. Vou logo atrás.

_ Parece que foi no primeiro andar. _ Sussurro. Ele concorda com um aceno de cabeça. Desce rapidamente a escada. Quando chega na metade, pula o corrimão até o chão.

_ Cuidado. _ Levo a mão à boca.

Ruídos de cacos de vidro sendo pisados comprovam que uma das janelas detrás foi quebrada e alguém está tentando invadir a casa.

Will corre para os fundos. Chego a tempo de vê-lo pulando uma janela e disparando pela floresta a dentro. Volto até o escritório, pego o taco de beisebol e corro pra fora. Brutus também desapareceu.

No instante em que chego no início do bosque ouço um tiro. Todo meu corpo se arrepia e minha respiração acelera.

_ Will! _ Grito a plenos pulmões. A mão na cabeça de preocupação. _ Meu Deus! Will! _ Começo a enveredar pela mata, mas estanco quando ouço o som de um motor de carro se distanciando. Retorno para as proximidades da casa e observo a estrada, mas já é tarde. O veículo desapareceu.

_ Onde você está?_ Minha voz falha. Volto em direção ao bosque.

Folhas secas estalam com os passos. Alguém se aproxima.

_ Will?! _ Ergo o taco na defensiva.

As folhagens se movimentam. Minhas pernas estão trêmulas e meu coração parece que vai saltar da boca a qualquer momento.

A figura de um homem se forma entre as árvores. Solto todo o ar dos pulmões quando reconheço Will.

_ Ah, graças a Deus. _ Mas o alívio é substituído por desespero de imediato quando vejo o corpo inerte do Rottweiller sendo carregado em seus braços...

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Uma cabana na montanha Onde histórias criam vida. Descubra agora