William
Brutus a encontra primeiro...
Tenho certeza que é ela e que algo ruim aconteceu quando meu cão para na beira de um barranco e começa a latir insistentemente olhando para baixo.
Primeiro, meu coração acelera com a expectativa. Depois, congela quando alcanço a beirada e reconheço o corpo inerte de Maria Lúcia jogado na neve.
_ Ah, não... _ Deslizo pela descida íngreme.
Brutus vem logo atrás.
Meu coração salta no peito quando vejo uma mancha de sangue em sua testa.
_ Maria Lúcia, está me ouvindo? _ Aproximo-me rápido.
Suspiro aliviado quando vejo que está respirando. Mas o ferimento na testa me preocupa.
_ Por favor, acorde. Fale comigo. _ Toco seu rosto com cuidado.
Ela geme e abre os olhos devagar.
_ Acho que bati a cabeça. _ Diz baixo.
_ Mas consegue movimentar as pernas e os braços? Tente, por favor.
Lentamente ela dobra e estica as pernas, depois faz o mesmo com os braços.
_ Ah, graças a Deus. _ Respiro mais aliviado.
Depois que tudo passar, preciso avaliar minhas reações em relação à ela. Tudo isso tem me consumido de forma muito rápida e assustadora.
_ Preste bastante atenção no que vou dizer. _ Seguro seus ombros frágeis.
Ela me encara com atenção e olhos lacrimejantes.
_ Tenho que tirar você daqui antes que tenha uma hiportemia. Preciso que coopere e confie em mim. Não vou lhe fazer nenhum mal.
Ela apenas concorda com a cabeça.
_ Ótimo. Segure em meu pescoço.
Maria Lúcia obedece e pela segunda vez a carrego em direção ao abrigo da cabana...
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Malu
Desde que entrou na cabana comigo nos braços, William não parou. Acomodou-me no sofá da sala com muito cuidado. Alimentou o fogo da lareira. Tirou minhas roupas úmidas e me enrolou em um cobertor. Não tive condições de protestar quanto a isso, pois meus dentes batem fortemente um contra o outro e todo o meu corpo treme.
_ Seus lábios estão arroxeados e sua pele gelada.
Vai apressado até a cozinha e retorna pouco depois com uma bacia com água quente e uma toalha. Torce o excesso de água e começa a limpar meus braços e rosto. A quentura trás algum alívio, porém logo começa a arder, então protesto segurando sua mão.
_ Você se arranhou bastante na queda. Deve ter caído sobre algum arbusto com espinhos enquanto corria. Estava com tanto medo assim?
_ De-desculpe. _ Meus dentes não param de bater. _ Fui uma tola.
_ Não tem que se desculpar. Também fugiria de mim se estivesse em seu lugar.
William coloca a mão em minha testa.
_ Está com febre. Tenho que te levar a um hospital.
_ Na-não precisa. Vou, vou melhorar.
_ Nada disso. Bateu a cabeça. Precisa ser examinada por um médico.
_ Não tem como passar. A estrada está...
_ Dane-se. Vamos passar de qualquer jeito.
William sobe os degraus de dois em dois e some no segundo andar. Pouco depois retorna com uma camisa grande, que em mim fica parecendo um vestido, e um casaco de lã de carneiro.
_ Me ajude a vestí-la. Precisamos sair.
_ Não podemos esperar um pouco? Estou tão cansada. Preciso descansar.
_ Não pode dormir. Bateu com a cabeça. Precisa fazer uma tomografia para verificar se não houve contusão.
Estico os braços para fora do cobertor e deixo que William faça a maior parte da tarefa de me vestir. Noto que evita me encarar. Assim que termina me pega em seus braços e me carrega para os fundos da casa. Brutus acompanha tudo nos seguindo.
William sai pela porta traseira, segue pela lateral da cabana e entra em uma extensão que ainda não tinha notado e que parece ser uma garagem. Dentro há uma picape bem conservada, que deve ser usada por ele para viajar e comprar suprimentos.
Coloca-me sentada no banco do carona e ajusta o cinto de segurança.
_ O distrito mais próximo não fica tão longe daqui. Mantenha-se aquecida e tente não dormir. _ Fecha a porta, dá a volta e entra no lugar do motorista.
William dirige com segurança e habilidade na neve. Passamos no local onde fui encontrada caída e também onde meu carro está enguiçado. O veículo está totalmente coberto pela neve. Logo chegamos no ponto interditado da estrada.
_ Não tem como passar. _ Minha voz sai trêmula e fraca.
_ Veremos. Fique aqui.
Observo pelo retrovisor. William pega uma pá na traseira do carro e segue determinado em direção ao amontoado de neve que fechou a pista.
_ Não acredito que está fazendo isso...
Passo a hora seguinte em estágio de sonolência. Pelos olhos semicerrados vejo nuances das costas de William enquanto ergue a pá e ataca a neve com vigor. Meu corpo volta a tremer e a cabeça a doer. Já não sei o que é realidade e o que é delírio.
_ Maria Lúcia...
É como se tivesse sido transportada para casa. Somente meu pai me chama assim. Não, espere. Mas alguém me chama assim. Quem é ele?
Acordo sobressaltada.
Devo ter cochilado de exaustão.
William está sentado ao meu lado na cabine. A camisa úmida. As mãos calejadas estão feridas e apertam o volante, mas no rosto há satisfação.
_ A estrada está liberada. Daqui a pouco chegaremos no hospital...
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Uma cabana na montanha
RomanceMaria Lúcia Brandão está prestes a se consolidar na carreira jornalística, tornando-se "âncora" do noticiário mais assistido em todo o país. Malu, como é conhecida na TV, seguiu os passos do pai, Dalmo Brandão, ex-atleta de basquete e atual comentar...