Retorno para o salão da lanchonete acompanhada por Ava. Oliver arrasta pelo balcão o copo térmico de chocolate alpino para viagem como eu havia encomendado.
_ Parece que voltou a nevar. Melhor não pegar a estrada por enquanto. _ Aconselha-me.
Concordo com a cabeça.
_ Ainda tenho algumas coisas para resolver no centro.
_ Pretende voltar para a montanha? _ Ava pergunta.
Afirmo.
_ Preciso organizar as coisas do meu tio antes de voltar ao Brasil.
_ Essa viagem deve ter atrapalhado bastante sua vida, não é querida? Você trabalha?
_ Sim, sou repórter. Na verdade, dei um tempo na carreira. Precisava sair um pouco do ar.
_ Entendo. William sabe que é repórter?
_ Não lembro de ter comentado com ele.
_ Então, prepare-se. William não gosta de repórteres. Já teve que lidar com muitos por causa do acidente. _ Ava recomenda.
_ O único repórter em quem ele confiava era Alexander. Seu tio. _ Oliver completa.
_ Contarei assim que estiver com ele.
_ Certo. Tome cuidado. Se precisar de algo, me procure. _ Ava junta minha mão nas suas dando-me tapinhas.
_ Obrigada por me contar tudo. Sei que deve ter sido difícil tocar no assunto.
Ela nega com a cabeça.
_ Apesar do falecimento de minha prima, Oliver e eu não perdemos nenhum familiar no acidente. Mas tem muita gente ferida nessa cidade, ainda com sede de justiça. Gente que perdeu filho, neto e esposo. Por isso, evite se expor. Podem descontar em você se souberem que tem alguma ligação com William. _ Ava aconselha-me.
_ Tomarei cuidado.
Aceno para os dois e saio do estabelecimento.
Uma lufada de vento frio atinge meu rosto como um tapa me despertando para a realidade.
Tenho a sensação de que passei a última semana em outra dimensão. Em um lugar onde o William que todos descrevem é diferente. Para mim, ele é simplesmente Will. Misterioso e excêntrico, porém um homem íntegro e de bom coração, que jamais colocaria a vida de outras pessoas em risco, principalmente a própria família.
Pequenos flocos de neve se acumulam em minha roupa enquanto caminho pelas calçadas do pequeno distrito. Olho para o copo térmico de chocolate cremoso que tinha a intenção de levar para ele.
_ Tudo está tão confuso e mal explicado. _ Inspiro profundamente.
Paro em frente ao mercadinho e observo pela vitrine. Uma gaiola grande chama-me a atenção.
_ Seria perfeita para resgatar Fred e devolvê-lo à natureza.
Entro no comércio e logo sou atendida pelo proprietário. Harold.
_ Gostaria de saber o preço daquela gaiola.
_ Não está à venda. _ Ele nem levanta a cabeça ao responder.
_ Como não? Se está na vitrine... _ Harold me interrompe.
_ Acabei de reservá-la para outra pessoa. Por favor me dê licença, preciso fechar a loja para o almoço.
Caminha em direção à porta, não me dando muito opção além de sair.
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Almocei no restaurante do único hotel do centro. Fica no térreo e parece ser pouco frequentado pelos moradores de Robson. Isso foi um alívio. Apenas meia dúzia de hóspedes ocupam as mesas distribuídas no espaço.
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Uma cabana na montanha
RomanceMaria Lúcia Brandão está prestes a se consolidar na carreira jornalística, tornando-se "âncora" do noticiário mais assistido em todo o país. Malu, como é conhecida na TV, seguiu os passos do pai, Dalmo Brandão, ex-atleta de basquete e atual comentar...