Capítulo 41 - Guardiões

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_ A fechadura está consertada. Mas por garantia, Brutus passará a noite aqui. _ Will guarda as ferramentas na caixa que foi buscar na oficina da cabana.

_ Não acho necessário afastar o pobrezinho de você por causa disso. Agora que consertou a fechadura, ninguém entrará sem minha permissão.

_ Mas eu acho necessário. Ficarei mais tranquilo assim.

Will desse os degraus da entrada da casa em direção a sua caminhonete.

_ Além do mais, esse daí parece sentir muito mais sua falta do que a minha. _ Aponta com o queixo para o Rottweiller que já se aconchegou no tapete da sala.

Sorrio feito uma boba.

_ Sendo assim, vou aceitar a oferta. Podemos revezar na guarda dele.

Will ergue as sobrancelhas. Meu rosto esquenta. Ele entra na caminhonete sem dizer mais nada e retorna pela estradinha que leva à cabana.

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_ Quando ouvi seu sobrenome, tive a certeza de já tê-lo visto citado em algum lugar. _ Jogo uma das folhas, que faz parte das anotações de meu tio, no balcão da loja de conveniência do posto.

Após alguns dias lendo o restante do dossiê de Alexander, descobri que Hunter Baker é filho de Baptiste Baker, responsável pela mina e que também faleceu com a explosão.

Hunter une as sobrancelhas, mas não demonstra surpresa.

_ Disse que tinha informações importantes. Mas só pretendo falar se concordar em me ajudar. Já tomou uma decisão, Maria Lúcia?_ Hunter se afasta de uma pequena pia e seca as mãos em uma toalha com tranquilidade.

_ Não tenho certeza em que posso ajudar nesse caso. Acho que está depositando muitas expectativas em mim. Qual seu objetivo, afinal? _ Cerro os olhos intrigada.

Hunter me observa em silêncio por segundos intermináveis. Claramente, indeciso em revelar o que sabe.

_ Não se preocupe, meus motivos não são escusos. Nem pretendo ganhar nada com isso. Desejo apenas revelar a verdade. Preciso limpar o nome de meu pai. É uma questão de honra.

Remexo-me na banqueta em que estou sentada e sorrio incrédula.

_ Por acaso acha que sou algum tipo de detetive particular, Baker? Sou jornalista. Não seria mais fácil contratar advogados e buscar ajuda da polícia?

Baker suspira demonstrando cansaço.

_ Pensa que isso já não foi feito, senhorita? Tudo o que tinha que ser provado já foi. Trata-se agora de tirar a sujeira que foi jogada para baixo do tapete por gente influente. Quero limpar o nome de alguém que não está mais aqui para se defender e foi usado como "testa de ferro" no esquema sujo dos poderosos dessa cidade. E somente alguém ligado à impressa tem condições de contar a história verdadeira. E ouvi dizer que é bem conhecida nas mídias sociais.

_ É verdade em parte, pois quando vim para cá, não estava em um momento bom na carreira.

_ Isso não importa. O que precisamos é de alguém que dê voz aos menos favorecidos como seu tio fez. De alguém que não se deixe corromper em troca de alguns trocados como Gordon Mackenzie fez. Pelo menos é capaz de fazer isso, Maria Lúcia?

_ Sabe ser bem convincente, senhor Baker. _ O encaro admirada e curiosa com o quê tem para revelar.

Ele sorri.

_ Essa resposta significa que posso contar com sua ajuda?

Aceno a cabeça afirmativamente, mas ainda relutante.

_ Se ainda houver dúvidas, posso oferecer outro estímulo maior... _ Hunter faz suspense antes de completar analisando minha expressão.

_ De quê está falando? _ Ergo a cabeça.

_ Todos sabem que se tornou próxima de William Belanger. Em particular, não gosto dele por motivos óbvios. Mas algo me diz que ele também carrega um fardo maior do que lhe pertence. Temos a oportunidade de desmascarar os verdadeiros culpados por toda essa desgraça. O que acha?

Hunter me estende a mão. Seguro-a imediatamente.

_ Fechado. _ Respondo.

Ele sorri satisfeito.

_ Sabia que minha última cartada a convenceria.

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Deixo o carro estacionado no posto decidida a caminhar um pouco até à lanchonete de Ava enquanto processo o acordo que acabo de fazer com Hunter Baker. Mas assim que atravesso a rua, sinto que estou sendo seguida. Olho para trás e confirmo a sensação. Ross está parado há alguns metros atrás de um poste de luz. Mastiga um palito de dentes enquanto mantém a mão por dentro da calça se coçando de forma quase obscena.

Não consigo evitar uma careta de nojo.

_ Escuta aqui, qual seu problema comigo?! _ Aumento o tom da voz para ser ouvida de longe.

Ross olha de um lado para o outro. Depois aponta para o próprio peito.

_ Está falando comigo?!

_ Tem mais alguém me seguindo? _ Abro os braços.

_ Ei! Para início de conversa, não estou a seguindo, estou dando cobertura. Agora é aliada do meu chefe, então pode contar com minha proteção. _ Estende a mão que acabou de se coçar.

Dou um passo para trás.

_ Olha só, não precisa. Vá para o seu trabalho. Sei me defender sozinha. E tenho certeza de que essa ideia não partiu de Baker.

Ross segura o palito na boca, funga e me observa de baixo em cima com expressão contrariada.

_ Garota metida à besta. _ Gira nos calcanhares e atravessa a rua de volta.

Arfo e reviro os olhos.

_ Só me faltava essa. _ Sigo meu caminho.

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_ Fiquei preocupada por encontrar a lanchonete fechada há alguns dias. _ Comento assim que sento em uma das mesas do Ava's após pedir meu chocolate alpino favorito.

_ Ah, esteve aqui?_ Ava olha para o marido que está atrás do balcão preparando a bebida.

_ Estive sim. Está tudo bem? _ Não deixo de notar uma certa apreensão em Ava e a troca de olhares entre o casal.

_ Está sim, querida. Olive esteve indisposto nos últimos dias, mas agora está tudo bem. _ Ela sorri parecendo-me um pouco apática.

_ Foi a tal da hérnia de disco que me atacou. Coisas da idade. Mas agora estou bem melhor. _ Ele sorri enquanto traz a bebida quente.

_ Ah, que bom. _ Bebo um gole.

_ E quanto a você e William, está tudo bem entre vocês? _ Os olhos de Ava brilham de curiosidade, um brilho que não notei quando a conheci.

_ Somos apenas amigos. Sou grata por ter me ajudado quando cheguei, mas agora estou na casa de meu tio.

_ Ah, é mesmo? Entendo. _ Ava encerra a conversa de forma discreta.

_ Bem, tenho que ir. _ Abro a bolsa para pagar.

_ Não precisa! Fica por conta da casa esse. Pela viagem perdida do outro dia. _ Ela segura minha mão.

_ Está bem. Então, obrigada. _ Aceno para os dois e saio da lanchonete com uma sensação estranha.

Uno as sobrancelhas enquanto caminho de volta ao carro...

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