Malu
Uma semana passou desde que Will lembrou de ter visto Oliver na mina antes da explosão. Novas lembranças e investigações nos últimos dias só serviram para comprovar a inocência de Will e confirmar sua recuperação do TEPT.
Oliver está preso e Ava indiciada como cúmplice do crime. Ambos planejaram e executaram a explosão, enquanto Jackson Murray foi o mandante. O prefeito segue internado em estado crítico por conta de complicações cardíacas.
Estaciono o carro em frente a cabana de Will na estrada que serpenteia a montanha. Ele está treinando com Brutus em frente a casa. O rottweiller ainda tem um longo caminho de recuperação, mas dá gosto de ver todo carinho e esforço dedicado por Will.
Buzino e aceno disposta a continuar o percurso até a casa de meu tio.
_ Onde pensa que vai?! _ Will vem de encontro ao veículo. Está sem camisa com todas as tatuagens expostas e usando apenas a bermuda de moletom caída no quadril.
_ Volto depois. Não quero atrapalhar o treinamento.
Will abre a porta do carro, solta o cinto de segurança e me iça de dentro da cabine com apenas um braço.
_ Ei! _ Apoio-me em seu peito quando coloca-me no chão pressionada por seu corpo na lateral do carro.
_ De onde está vindo? _ Ignora meu protesto.
_ Da loja de Hunter. Ele está revoltado com essa doença repentina do prefeito justamente quando tem que responder ao processo.
_ Hum. _ Will une as sobrancelhas. _ O que foi fazer lá?
_ Ligar para meus pais. _ Cerro os olhos. _ Por que o interrogatório, William Belanger? Vai dizer que está com ciúme de Hunter?!
Will repuxa a boca e olha para o lado.
_ É claro que não. Que besteira. _ A voz sai com uma ponta de orgulho arranhando a garganta.
_ Não parece. Ficou bem carrancudo de repente. _ Empino-me nas pontas dos pés e seguro seu queixo.
Os olhos castanhos esverdeados encontram os meus. Solta o ar dos pulmões de uma só vez em sinal de resignação.
_ Desculpe. Não quis ser possessivo. É que já notei como Hunter te olha.
Meu coração dá um salto no peito.
_ Que diferença faz como ele me olha se só me interesso por você? _ Beijo seu queixo.
Quando ameaço me afastar, Will segura minha nuca e me beija de uma forma que chega me deixar tonta. Fecha os olhos e encosta a testa na minha fazendo um som com a garganta que lembra um urso.
_ Will, precisarei viajar nos próximos dias. _ Ele abre os olhos com a notícia repentina._ Meu pai reagiu mal à notícia de que não vendi a casa e pretendo ficar mais tempo no Canadá.
_ Aquele advogado deve ter enchido a cabeça dele. _ Will deduz.
_ Provavelmente. Mas não importa o que o doutor Velásquez diz. Quero muito a casa de meu tio. Irei ao Brasil conversar com meu pai e convencê-lo a me dar ou vender o imóvel, se preferir.
Will repuxa um canto do lábio. O sorriso não alcança os olhos.
_ Entendo. _ Segura meus ombros, mas afasta nossos corpos por alguns centímetros olhando para os próprios pés.
_ Voltarei o mais breve possível. Só acertarei algumas coisas que deixei em suspenso no Brasil e... _ Ele me interrompe.
_ Não quero que se sacrifique. Deve fazer o que é melhor para você. Não tem que se sentir obrigada a nada. Sei que tem uma carreira promissora no Brasil. Sei que tinha planos e uma história lá.
Avanço um passo e seguro seu rosto.
_ Pare de falar assim. Parece até que estamos nos despedindo. Eu vou voltar. Prometo. Só preciso explicar pessoalmente às mudanças de planos. Não conhece Dalmo Brandão. Meu pai detesta ser contrariado e é extremamente controlador. Não faz a mínima diferença a filha ser maior de idade e independente. Sempre serei a garotinha que ele acha que precisa proteger.
Will acena a cabeça em negativa.
_ Não precisa fazer promessas, Maria Lúcia. Na verdade, em pouco tempo você fez por mim muito mais do que qualquer outra pessoa fez nos últimos anos. Sinto-me vivo novamente.
Toco em seus lábios.
_ Fizemos bem um ao outro. Estava me sentindo perdida também quando vim para o Canadá. Cheguei ao ponto de duvidar da minha capacidade profissional e até da inteligência por ter me enganado tanto com Gael. Minha consciência me torturava dia e noite por ter confiado nele e ignorado os sinais de que não era uma boa pessoa.
Ele avança novamente falando agora com os lábios encostados nos meus.
_ Independente do que aconteça no Brasil. Independente do que decidir, quero que tenha certeza de uma coisa...
Nossas respirações aceleram juntas.
_ O quê, Will? _ Uno as sobrancelhas sentindo o ar faltar em meus pulmões.
_ Eu te amo, Maria Lúcia. _ Os olhos dele captam cada reação de meu rosto. _ Não posso sair do país agora por conta do processo que foi reaberto. Se estivesse no lugar de seu pai também não ia querer que minha filha se relacionasse com um cara como eu. Mas você tem que saber que sempre terá esse refúgio te esperando. _ Will olha para trás, para a cabana. _ Eu sempre estarei aqui para você, ouviu?
Um nó se forma em minha garganta.
_ Will, eu também... _ Ele me interrompe com um beijo urgente, quente e úmido.
_ Não fale nada agora, ok? _ Flexiona os joelhos para ficar em minha altura. _ Vá e resolva o que precisa. Depois conversamos.
Concordo com um aceno de cabeça. Uma lágrima escorre por minha bochecha.
Will acha que não tenho certeza dos meus sentimentos. Pensa que quando chegar ao Brasil e me deparar com a realidade que vivia, darei conta de que estarei abrindo mão de muitas coisas para ficar com ele.
Ele só não sabe de uma coisa, eu não estava feliz de verdade. Vivia rodeada de pessoas oportunistas e falsas. Eu vivia uma mentira.
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No retorno para a casa de meu tio, antes de pegar o caminho de pedra, paro ao ver um envelope branco pendurado na caixa de correspondência.
_ Estranho. Está endereçado para Maria Lúcia Tremblay e William Belanger. _ Franzo a testa e viro o envelope. _ Remetente: Nolan Murray. O que ele quer?
Trata-se de um convite para participar de uma reunião com outros representantes da cidade. Amanhã no saguão do hotel...
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_ Não consigo imaginar o que esse canalha tem de útil para nos falar. _ Will resmunga ao meu lado na caminhonete. _ Devia sentir vergonha pelo pai que tem.
Estaciona na calçada do hotel na tarde do dia seguinte.
Toco em sua mão.
_ Lembre-se do que combinamos. Ouviremos o que ele tem a dizer e sairemos. Não sabemos se é uma armadilha, portanto, fale pouco e em hipótese alguma permita que te tire do sério.
Will concorda com um aceno de cabeça e desce do carro. Salto do lado do carona e o acompanho.
_ Também foram convidados para a tal reunião? _ Hunter acaba de parar na entrada do prédio.
_ Será que ele pretende fazer algum tipo de confissão? _ Observo outros conhecidos subindo os degraus até o saguão do hotel.
_ Parece que isso vai ser interessante. _ Hunter para ao meu lado e comenta de forma conspiratória.
_ Para mim parece mais um show de horrores. _ Will encerra a conversa passando entre nós, entrelaçando os dedos nos meus e me conduzindo para dentro....
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Uma cabana na montanha
RomanceMaria Lúcia Brandão está prestes a se consolidar na carreira jornalística, tornando-se "âncora" do noticiário mais assistido em todo o país. Malu, como é conhecida na TV, seguiu os passos do pai, Dalmo Brandão, ex-atleta de basquete e atual comentar...