Capítulo 14 - O urso

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Malu

Abro os olhos e encaro o teto de madeira. Sinto-me desnorteada. Tento lembrar onde estou e que dia é. As lembranças do dia anterior vão chegando como flashes. Sento apressada. Olho ao redor, mas não vejo nenhum sinal do homem que conheci ontem a noite e me trouxe para cá.

Ruídos e latidos lá fora chamam minha atenção. Jogo a manta de lado e levanto rapidamente. Um dos tornozelos falha. Faço uma careta de dor e caminho mancando até a entrada da cabana. Observo através da tela de proteção da porta.

_ Que isso... _ William está com o dorso nu e todas as tatuagens expostas, apesar do frio lá fora.

O cão vem correndo em sua direção, salta e pega um bife que ele segura no alto.

Saio até a varanda. O ar frio atinge meu rosto como um tapa. Abro os lábios embasbacada com a exibição de testosterona a minha frente. Expiro e observo o vapor sair de meus lábios.

O volume de neve aumentou bastante e pequenos flocos ainda se acumulam em uma espreguiçadeira de madeira em frente a casa.

_ Você acordou. _ William joga um graveto longe para que Brutus vá buscar. Enquanto isso, se aproxima do gradil da varanda.

Desvio o olhar evitando encarar o abdômen definido e os braços musculosos.

_ Acho que dormi demais. _ Tento me concentrar na vista da montanha coberta de gelo e da névoa que esconde o topo.

_ Tudo bem. Não há muito mesmo o que fazer. Parece que nevou bastante a noite e a estrada está interditada.

O encaro descrente.

_ O que isso quer dizer?

_ Ninguém sobe, ninguém desce, até que a neve baixe ou venham com uma escavadeira desbloquear a pista.

Sacudo a cabeça.

_ Não acredito nisso.

William me analisa de cima a baixo.

_ Como está o tornozelo?

_ Ainda dói um pouco. _ Meu rosto esquenta e essa reação me irrita.

Ele afirma.

_ Se quiser tomar um banho, esquentei a água e deixei tudo preparado.

Gira o corpo olhando para o horizonte.

_ Seria muito bom. _ Respondo encarando a visão ampla de suas costas. Ele tem um número tatuado que vai de um ombro ao outro.

"2015, qual significado terá? Será um ano? E se for, o que será que aconteceu nessa data que marcou tanto a ponto dele marcar na pele?"

_ Encontrei uma pomada para contusões também. _ Fala de forma desinteressada. Mas noto que me olha de lado.

_ Vai ajudar bastante.

_ Certo. _ Ele sacode os flocos de neve da calça jeans ragada.

Nós dois ficamos reticentes. Então, tomo a iniciativa de entrar. Mas paro na porta.

_ Mas há um problema... _ Franzo a testa.

_ O quê? _ Ele gira e me olha.

_ Não tenho roupas limpas. Minha mala ficou no carro.

William olha em direção à estrada encoberta de neve.

_ Posso buscar.

_ Não é arriscado?

_ De forma alguma. Brutus ficará em casa enquanto vou.

William sai andando sem me dar tempo de argumentar. O cão corre ao seu encontro. Após um comando o cão vem em direção à casa, sobe a escadaria e fica sentado observando seu tutor desaparecer entre os arbustos.

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_ Que vergonha! _ Paraliso em frente ao espelho do banheiro ao ver a bagunça que minha cabeleira está. _ Por isso ele estava me encarando daquele jeito.

Tento organizar os cachos, sem sucesso.

_ Não adianta. Preciso lavar e finalizar.

Pego uma pequena cuia ao lado da banheira branca de porcelana no centro do banheiro e testo a água. Está morna e agradável.

_ Enquanto ele não chega com minha mala, vou dar um jeito nesse cabelo.

No meio da tarefa, alguns pensamentos trágicos se formam em minha mente...

"Ele disse que a neve estava alta e desbarrancou no caminho. E se for arriscado sair por aí com o tempo assim? E se ele se acidentar?"

Enxáguo o cabelo, largo a tina no chão, torço os fios e enrolo uma toalha branca na cabeça e outra no corpo. Abro a porta do banheiro e coloco a cabeça para fora.

O Rottweiller está sentado em frente a porta do banheiro. Me observa atento com seus olhos negros redondos.

_ O que está fazendo aqui? Deveria ter ido com ele. _ O cão levanta e sapateia.

Nesse momento ouço batidas em algum cômodo da casa. Brutus ergue as orelhas em direção à entrada.

_ Ouviu isso? _ Pergunto ao cão. Ele me olha rapidamente e se volta em direção à porta.

Saio no corredor. Não há ninguém na sala, nem na entrada. Novamente um som alto. Dessa vez mais próximo, seguido de coisas caindo e louças quebrando.

Brutus gira e olha em alerta para a direção oposta do corredor que dá acesso à estufa e a porta de trás da cabana.

_ Meu Deus, será que um urso invadiu a casa?! _ O cão não me dá atenção, sai em disparada para o fundo da casa. _ Brutus, cuidado!

Sigo atrás cautelosa. Pego uma vassoura que encontro encostada na parede e me aproximo trêmula com ela em riste.

Brutus vê algo, pois começa a latir para cima. Chego no fundo da casa e olho para o alto a tempo de ver um guaxinim subir pelas prateleiras carregando uma lata de ervilhas e sumir pelo telhado.

Nesse instante, a porta traseira se abre com um baque, vento e neve adentram pelo cômodo. Uma silhueta grande e coberta de pelos negros surge no portal. Dou um grito de susto e por instinto avanço para cima da criatura com a vassoura...

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Nota da autora:

Olá meninas!

Sei que esse capítulo foi mais curtinho, porém estou optando por postar assim menor e diariamente do que demorar muito para postar por conta da revisão.

Espero que estejam gostando! Estou muito empolgada com esse romance. Tem muita treta ainda para acontecer e muitos mistérios para desvendar.

Deixem nos comentários as opiniões de vocês. E me sigam no Instagram ( escritorasarasantos) para me dar aquela força que preciso lá!

Beijos!

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