Capítulo 3 - Um tio distante

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Faço os últimos retoques na maquiagem, visto o tailleur branco que faz conjunto com uma saia reta na altura dos joelhos da mesma cor e calço scarpins na cor nude. Desço a escadaria da casa carregando a pasta de trabalho.

_ Maria Lúcia...

Giro o rosto em direção à poltrona favorita de meu pai assim que ouço a voz.

"Lá vamos nós. Espero que não queira brigar novamente."

_ Está indo para o trabalho?

Afirmo com um aceno de cabeça.

_ Tenho reunião na Redação do Jornal antes de gravar uma externa. Acredito que Valéria anunciará a promoção ainda essa semana, então estou um pouco ansiosa.

Meu pai sorri.

_ Tem feito um bom trabalho. Merece ser a "âncora" do Jornal do horário nobre.

Aproximo-me, beijo sua cabeça e o abraço por trás.

_ Obrigada. Não sabe o quanto significa para mim ouvir isso de você.

Ele dá tapinhas em meu braço.

_ O que é isso? _ Observo um envelope pardo em seu colo.

_ Lembra-se de seu tio Alexander?

_ Sim. Seu único irmão que vive no Canadá.

Meu pai confirma com a cabeça.

_ Ele faleceu.

O semblante triste ressalta um pouco a idade. Isso faz com que me sinta culpada por ter discutido com ele no dia anterior.

_ Ah, pai. Sinto muito. _ Envolvo seu pescoço novamente. _ O que aconteceu? Ele estava doente?

_ Parece que sim. O e-mail enviado pelo advogado não conta muitos detalhes. _ Ergue o envelope. _ Recebi um documento solicitando a presença de um parente o mais breve possível.

_ Ele não tinha família? Mulher, filhos...

_ Ninguém além de nós.

Meu pai olha para o envelope pensativo.

_ Como sabe, seu tio foi adotado por meus pais na adolescência. Seu avô era militar e por isso vivíamos nos mudando. Nos anos em que moramos no Canadá, minha mãe visitou um orfanato onde conheceu Alex. Se comoveu com a história do garoto tímido e triste que quase não falava.

Meu pai sorri de uma forma triste e isso parte meu coração pela segunda vez nessa manhã.

_ Ela acabou convencendo meu pai a adotá-lo. E após o cumprimento de serviço militar de meu pai, voltamos para o Brasil com a família maior.

Contorno a poltrona e sento em frente a ele segurando sua mão.

_ Apesar de ter sido um cara fechado, nós sempre nos demos bem. Enquanto eu saía com a turma, ele preferia ficar enfurnado no quarto rodeado por livros.

Sorrio, imaginando que talvez eu pareça mais com meu tio adotivo do que com meu próprio pai.

_ Éramos extremos opostos. Eu, nas competições do colégio. Ele, tentando desvendar alguma teoria conspiratória. Se tornou mais próximo do nosso pai do que eu.

_ Se viviam em paz, por que se afastaram tanto?

Meu pai ergue os ombros.

_ Quando nosso pai morreu, ele preferiu morar sozinho, próximo à agência em que trabalhava como repórter free-lancer. Ele seguia a linha investigativa.

Me surpreendo ao descobrir que sigo a mesma carreira que meu tio falecido.

_ Ele deveria ter muita história para contar.

Meu pai concorda com um aceno de cabeça.

_ Era uma figura e tanto.

_ O que aconteceu depois disso?

_ Quando nossa mãe faleceu, ele partiu de vez. Voltou para o Canadá. Na época, eu estava no auge da carreira e sem perceber nos afastamos.

_ Não se falaram mais?

_ Conversávamos esporadicamente por telefone. Ele dizia que onde morava era difícil ligar porque precisava ir ao centro da cidade. Com o passar dos anos, as ligações foram ficando cada vez mais raras, até que cessaram.

_ Que pena ter terminado assim. _ Aperto o corpo grande de meu pai em meus braços. _ Queria poder ajudar de alguma forma.

Meu pai suspira e me encara como se tivesse uma ideia instantânea.

_ Na verdade, há algo que pode fazer a respeito.

_ Então, diga. _ Aperto seus ombros largos.

_ Poderia ir em meu lugar ao Canadá.

_ Quê? Por que não quer ir?

_ Sabe que não suporto viajar de avião, Maria Lúcia. Além disso, tenho compromissos com a emissora.

Ele tamborila os dedos nos braços da poltrona como quem faz planos.

_ O senhor sabe que também tenho meu trabalho e que ficarei noiva no próximo fim de semana, né?

_ Seriam somente alguns dias. Com certeza tem folgas acumuladas. Quanto ao noivado, poderia adiar. Essa questão familiar é mais importante.

Solto o ar exasperada.

_ Me recuso a discutir novamente com você. Preciso ir. Estou atrasada.

Saio a passos largos da sala.

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Nota da autora:

Olá queridas leitoras! ♡

Que saudade estava de postar uma história aqui.

" Uma cabana nas montanhas de Charleswood" é um romance mais tenso do que minhas histórias anteriores, por isso peço paciência se eu demorar um pouco para postar. Sou perfeccionista e gosto de revisar várias vezes antes de trazer o texto para vocês. Mais tenham certeza de que a história seguirá até o fim como meus outros romances. Não é meu estilo abandonar uma história.

Esse romance nasceu em meu coração faz um tempo, por isso esperem fortes emoções e muita tensão entre nosso casal principal.

Se quiserem saber mais sobre minhas obras, me sigam no Instagram (escritorasarasantos).

Até o próximo capítulo! ♡♡♡

Uma cabana na montanha Onde histórias criam vida. Descubra agora