Faço os últimos retoques na maquiagem, visto o tailleur branco que faz conjunto com uma saia reta na altura dos joelhos da mesma cor e calço scarpins na cor nude. Desço a escadaria da casa carregando a pasta de trabalho.
_ Maria Lúcia...
Giro o rosto em direção à poltrona favorita de meu pai assim que ouço a voz.
"Lá vamos nós. Espero que não queira brigar novamente."
_ Está indo para o trabalho?
Afirmo com um aceno de cabeça.
_ Tenho reunião na Redação do Jornal antes de gravar uma externa. Acredito que Valéria anunciará a promoção ainda essa semana, então estou um pouco ansiosa.
Meu pai sorri.
_ Tem feito um bom trabalho. Merece ser a "âncora" do Jornal do horário nobre.
Aproximo-me, beijo sua cabeça e o abraço por trás.
_ Obrigada. Não sabe o quanto significa para mim ouvir isso de você.
Ele dá tapinhas em meu braço.
_ O que é isso? _ Observo um envelope pardo em seu colo.
_ Lembra-se de seu tio Alexander?
_ Sim. Seu único irmão que vive no Canadá.
Meu pai confirma com a cabeça.
_ Ele faleceu.
O semblante triste ressalta um pouco a idade. Isso faz com que me sinta culpada por ter discutido com ele no dia anterior.
_ Ah, pai. Sinto muito. _ Envolvo seu pescoço novamente. _ O que aconteceu? Ele estava doente?
_ Parece que sim. O e-mail enviado pelo advogado não conta muitos detalhes. _ Ergue o envelope. _ Recebi um documento solicitando a presença de um parente o mais breve possível.
_ Ele não tinha família? Mulher, filhos...
_ Ninguém além de nós.
Meu pai olha para o envelope pensativo.
_ Como sabe, seu tio foi adotado por meus pais na adolescência. Seu avô era militar e por isso vivíamos nos mudando. Nos anos em que moramos no Canadá, minha mãe visitou um orfanato onde conheceu Alex. Se comoveu com a história do garoto tímido e triste que quase não falava.
Meu pai sorri de uma forma triste e isso parte meu coração pela segunda vez nessa manhã.
_ Ela acabou convencendo meu pai a adotá-lo. E após o cumprimento de serviço militar de meu pai, voltamos para o Brasil com a família maior.
Contorno a poltrona e sento em frente a ele segurando sua mão.
_ Apesar de ter sido um cara fechado, nós sempre nos demos bem. Enquanto eu saía com a turma, ele preferia ficar enfurnado no quarto rodeado por livros.
Sorrio, imaginando que talvez eu pareça mais com meu tio adotivo do que com meu próprio pai.
_ Éramos extremos opostos. Eu, nas competições do colégio. Ele, tentando desvendar alguma teoria conspiratória. Se tornou mais próximo do nosso pai do que eu.
_ Se viviam em paz, por que se afastaram tanto?
Meu pai ergue os ombros.
_ Quando nosso pai morreu, ele preferiu morar sozinho, próximo à agência em que trabalhava como repórter free-lancer. Ele seguia a linha investigativa.
Me surpreendo ao descobrir que sigo a mesma carreira que meu tio falecido.
_ Ele deveria ter muita história para contar.
Meu pai concorda com um aceno de cabeça.
_ Era uma figura e tanto.
_ O que aconteceu depois disso?
_ Quando nossa mãe faleceu, ele partiu de vez. Voltou para o Canadá. Na época, eu estava no auge da carreira e sem perceber nos afastamos.
_ Não se falaram mais?
_ Conversávamos esporadicamente por telefone. Ele dizia que onde morava era difícil ligar porque precisava ir ao centro da cidade. Com o passar dos anos, as ligações foram ficando cada vez mais raras, até que cessaram.
_ Que pena ter terminado assim. _ Aperto o corpo grande de meu pai em meus braços. _ Queria poder ajudar de alguma forma.
Meu pai suspira e me encara como se tivesse uma ideia instantânea.
_ Na verdade, há algo que pode fazer a respeito.
_ Então, diga. _ Aperto seus ombros largos.
_ Poderia ir em meu lugar ao Canadá.
_ Quê? Por que não quer ir?
_ Sabe que não suporto viajar de avião, Maria Lúcia. Além disso, tenho compromissos com a emissora.
Ele tamborila os dedos nos braços da poltrona como quem faz planos.
_ O senhor sabe que também tenho meu trabalho e que ficarei noiva no próximo fim de semana, né?
_ Seriam somente alguns dias. Com certeza tem folgas acumuladas. Quanto ao noivado, poderia adiar. Essa questão familiar é mais importante.
Solto o ar exasperada.
_ Me recuso a discutir novamente com você. Preciso ir. Estou atrasada.
Saio a passos largos da sala.
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Nota da autora:
Olá queridas leitoras! ♡
Que saudade estava de postar uma história aqui.
" Uma cabana nas montanhas de Charleswood" é um romance mais tenso do que minhas histórias anteriores, por isso peço paciência se eu demorar um pouco para postar. Sou perfeccionista e gosto de revisar várias vezes antes de trazer o texto para vocês. Mais tenham certeza de que a história seguirá até o fim como meus outros romances. Não é meu estilo abandonar uma história.
Esse romance nasceu em meu coração faz um tempo, por isso esperem fortes emoções e muita tensão entre nosso casal principal.
Se quiserem saber mais sobre minhas obras, me sigam no Instagram (escritorasarasantos).
Até o próximo capítulo! ♡♡♡
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Uma cabana na montanha
RomanceMaria Lúcia Brandão está prestes a se consolidar na carreira jornalística, tornando-se "âncora" do noticiário mais assistido em todo o país. Malu, como é conhecida na TV, seguiu os passos do pai, Dalmo Brandão, ex-atleta de basquete e atual comentar...